Aprender...A Aprender!, por Susana Matos Duarte
Os novos paradigmas da educação presssupõem, por um lado, que o aluno seja um elemento ativo no processo de aprendizagem e, por outro, que a escola se mobilize no sentido da inclusão de todos os alunos, sem exceções. Com o aumento significativo da escolaridade obrigatória, muitos dos alunos que eram, naturalmente, “excluídos” do sistema, são agora “incluídos”...o que tem vindo a colocar novas questões e novos desafios ao sistema de ensino. Se, antigamente, os alunos tinham de se “adaptar” à escola, agora, também a escola tem de se “adaptar” aos alunos. Como lidar com as situações problemáticas? De que forma o sistema de ensino se poderá ajustar a este movimento emergente de mudança?
Aprender...a aprender!
O nosso sistema de educação, tal como o nosso país, está em crise. Não pretendo com esta afirmação fazer mais uma análise negativista e pessimista da educação. Pelo contrário: pretendo afirmar que é através da crise que tudo se questiona e se cria a necessidade e a motivação para a mudança. A educação atual está em crise porque se encontra em processo de transformação. Porém, tal como todas as mudanças, é feita de avanços e retrocessos, num processo lento e moroso, como todas as mudanças devem ser (desconfiem sempre das mudanças bruscas...).
Os novos pradigmas da educação pressupõem que o aprendiz seja um elemento activo no processo de aprendizagem. Não queremos mais os meninos sossegadinhos, que não questionam e que se limitam a reproduzir “lenga-lengas” de tabuadas, reis, rios ou outros afins (que muitos ainda teimam em considerar os tempos áureos do ensino tradicional, dizendo, “No meu tempo é que era!...”).
Por outro lado, hoje, a escola pretende-se inclusiva, ou seja, cada aluno, seja ele qual for, tem pleno direito a aprender e a usufruir do sistema de inter-relações que a escola proporciona (e não é a escola um micro-sistema do macro-sistema que é a sociedade?). Este facto, associado ao aumento muito significativo da escolaridade obrigatória, coloca, porém, novas questões e novas problemáticas. Se, antigamente, todos os que são hoje rotulados de “deficientes”, “hiperativos”, “disléxicos”, etc., eram, mais cedo ou mais tarde, quase que impelidos a sair de um sistema do qual não se identificavam e onde não lhes eram dadas oportunidades para prosseguir... Hoje, estes antigos “excluídos” são, agora, “incluídos”...o que dá muitas “dores de cabeça” aos professores.
Os professores, que “só querem ensinar”, quando se deparam com estes novos “incluídos”, ficam meio “perdidos” entre estratégias autoritárias e punitivas do ensino tradicional (afinal, este foi o seu primeiro modelo de referência) e, os mais interessados, em estratégias pedagógicas que aprendem em livros, mas que nunca funcionam da mesma forma com todos os alunos. Como se não bastasse, além destes alunos ditos problemáticos, os professores têm também outros vinte e tal alunos para gerir, a exigência quase obsessiva de cumprirem o programas, mais mil e uma burocracias...como podem ter espaço mental para oferecer a educação personalizada que hoje lhes é exigida? Os professores sentem um movimento de mudança, mas ainda se sentem a remar contra a maré. Porém, afirmo com convicção: apesar das lacunas, os professores de hoje, são, certamente, muito melhores que os de outrora.
Uma coisa podemos ter como certa: o ser humano gosta, por natureza, de aprender. Então, porque tantos alunos se encontram “desligados” do Sistema de Ensino? Quais as causas de tanto insucesso escolar? Se partirmos do pressuposto que tudo funciona num sistema dinâmico, é certo que um dos motivos é o próprio sistema, ao querer “normalizar” as pessoas (em vez de promover o seu desenvolvimento), ao privilegiar o “saber” (em vez do “saber pensar”), ao se encontrar a léguas de distância da realidade dos alunos (em vez de se aproximar das suas vivências).
O movimento emergente de mudança apela, a meu ver, para a consciência progressiva do papel fulcral da Escola na vida individual e na sociedade em geral. A Educação precisa de ser repensada, reformulada, recriada e, para que esta nobre tarefa caminhe no sentido da mudança, precisa de ser encarada à luz das várias visões, o que só é possível através da interdisciplinaridade. É necessário que professores, psicólogos, animadores, auxiliares e outros técnicos especializados, todos em conjunto, (re)pensem a escola como um todo e cada aluno em particular.
A sociedade precisa da Escola. É ela que nos dá as ferramentas e as oportunidades relacionais/sociais para potenciar o desenvolvimento humano, de todos os humanos, sem qualquer distinção (infelizmente, este direito universal vive ainda no mundo da utopia...). Mas é preciso não esquecer que o verdadeiro desenvolvimento, o que forma Pessoas (e não especialistas), não se aprende nos livros. Aprende-se na relação com o Outro: na forma como este nos ilumina com a sua vivacidade no olhar, com a sua escuta activa, a sua empatia e a sua vontade de impulsionar o nosso desenvolvimento próximo. Deve ser esta a postura do Educador: compreender que é apenas através da relação com o Outro que podemos aprender...a aprender!