Entrevista a Sofia Pereira
“Como ter tempo para tudo?”
Sofia Pereira, fundadora da Academia Pais Sem Pressa, e presidente da Associação Slow Movement Portugal, fala aos leitores da Revista Progredir sobre o seu livro “Como ter tempo para tudo?” e da importância do Recolhimento para uma vida mais equilibrada.
Progredir: Para os leitores que não a conhecem, quatro palavras que o definem como pessoa?
Sofia Pereira: Persistente, atenta, emocional e solidária.
Progredir: Fale-nos um pouco do seu percurso?
Sofia Pereira: Nasci, cresci e estudei em Coimbra. Licenciei‑me em Serviço Social e durante quase duas décadas trabalhei como assistente social nas áreas da terceira idade e da saúde mental. O trabalho com famílias sempre me fascinou; por isso, logo após ter terminado a minha licenciatura, ingressei na Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, na Pós‑‑Graduação em Análise e Intervenção Familiar.
Durante este percurso, fui convidada para colaborar com a Universidade de Aveiro, enquanto docente, no Curso de Gerontologia, que começava a dar os primeiros passos, na Escola Superior de Saúde.
Ainda não era mãe, pelo que este desafio foi imediatamente aceite, embora acumulasse esta função com a de coordenação técnica numa instituição de apoio à terceira idade.
Trabalhava a sessenta quilómetros de casa, o que representava duas viagens por dia de quarenta minutos, de segunda a sexta‑feira.
Após ter sido mãe, passei a sair de casa ainda mais cedo. A rotina era quase sempre a mesma, exceto nos dias em que era o meu marido a ir levar ou buscar o miúdo à creche. Saía de casa uma hora antes de começar a trabalhar e regressava a casa uma hora depois de sair do trabalho.
Contudo, regressar a casa não era sinónimo de descanso e de foco apenas na esfera familiar. Tarefas de casa, preparação de trabalho para a Universidade, gestão dos períodos de doença do meu filho com a minha ausência no trabalho, entre outros, foram, pouco a pouco, mudando a minha percepção sobre o tempo. Afinal, ele já não esticava, e algo teria de ficar para trás. E a primeira coisa que ficou para trás fui mesmo eu. Mas a vida continuou…
Três anos depois, voltei a ser mãe. Seis meses após o nascimento do meu segundo filho, outro rapaz, regressei a todas as minhas responsabilidades anteriores. Foi uma pausa de cerca de nove meses, entre a licença de maternidade e uma baixa médica por gravidez de risco, e voltei ao trabalho e às viagens. As rotinas de início e fim de dia mantinham‑se, mas agora a dobrar. Vi‑me a braços com duas crianças pequenas, um marido, uma casa para tratar e pouco tempo para estar com eles e muito menos para cuidar de mim.
Mesmo quando estávamos juntos, a minha cabeça não parava: «O que não fiz?», «O que tenho amanhã para fazer?», «O que falta em casa?» Perguntas como estas não me permitiam estar realmente presente em família. Mesmo com o apoio do meu marido e dos familiares, tudo parecia insuficiente.
Todas estas exigências começaram a refletir‑se e a fragilizar a minha saúde física e emocional. Até que fui «forçada» a parar. E durante algumas semanas, parei verdadeiramente. Deixei de trabalhar, e a prioridade, nesse período, passei a ser eu. Recordo‑me perfeitamente do primeiro dia em que fiquei sozinha em casa, depois de as crianças saírem de manhã com o pai, e de me questionar: «E agora? O que vou fazer com tanto tempo livre?» As orientações clínicas eram
para abrandar o ritmo, mas continuar a ter rotinas. Retomei o exercício físico, a leitura e o tempo para não fazer nada. Somente descansar.
Ao longo deste período, embora de forma lenta, fui sentindo alterações positivas no meu humor. Pouco a pouco, voltei a sentir prazer em realizar as tarefas
de casa, desde ir às compras a cozinhar.
Foi nesta fase que me debrucei sobre o conceito de Gestão Consciente do Tempo, por pura necessidade de mudar de vida. O estado a que tinha
chegado não permitia que continuasse a insistir na forma como estava a viver. Nesse momento, percebi que ansiedade, irritação, cansaço e exaustão eram as palavras que verbalizava mais do que uma vez por dia até ter sido obrigada a parar. Não era o que queria para mim daí em diante.
Enquanto pesquisava sobre o tema – que eu julgava ser, na altura, um problema só meu –, entendi que é, de facto, um problema comum a muitas
outras pessoas: dar resposta às diversas exigências inerentes às esferas da vida e conseguir um equilíbrio entre a vida pessoal, familiar e profissional.
Perante a minha própria história e o que via a acontecer à minha volta, pois foram muitas as pessoas que nesse período partilharam comigo sentir o mesmo, procurei conhecer várias estratégias que me ajudassem.
Fiz várias formações, em disciplinas várias e descobri as ferramentas que me têm vindo a permitir, desde essa altura, alcançar a harmonia entre as diversas esferas da minha vida.
Quando comecei a investigar sobre a temática sobre gestão do tempo encontrava muita informação, mas direcionada para a esfera profissional, produtividade e eficiência. Eu procurava algo mais.
Por isso a Gestão Consciente do Tempo é um conceito que vai mais além. porque não somos apenas profissionais e a nossa satisfação com a vida reflete a nossa satisfação com todas as esferas da nossa vida: pessoal, familiar e profissional.
Trata-se de um conceito que respeita a nossa individualidade e os diversos papéis sociais que desempenhamos na vida, e que se distribuem pelas várias esferas, pessoal, profissional e familiar. E todas são importantes! Não somos apenas profissionais e, no tempo que nos resta, somos pais/mães, maridos/esposas, companheiros/companheiras.
Assim, a Gestão Consciente do Tempo convida‑o a:
• afastar‑se do modo piloto automático em que tem vivido;
• conhecer e respeitar o seu ritmo e limites individuais;
• assumir o princípio de que «menos é mais»;
• colocar o foco no importante e no essencial, nas diferentes esferas da sua vida.
Progredir: Qual a sua maior paixão?
Sofia Pereira: A maternidade, o voluntariado, a leitura e a escrita são algumas das minhas maiores paixões. Gosto de música, mas prefiro o silêncio. Adoro o sol, a praia e o mar. Não consigo concentrar-me em ambientes com muito barulho. Não gosto de bananas.
Progredir: Para os leitores que não a conhecem, quatro palavras que o definem como pessoa?
Sofia Pereira: Persistente, atenta, emocional e solidária.
Progredir: Fale-nos um pouco do seu percurso?
Sofia Pereira: Nasci, cresci e estudei em Coimbra. Licenciei‑me em Serviço Social e durante quase duas décadas trabalhei como assistente social nas áreas da terceira idade e da saúde mental. O trabalho com famílias sempre me fascinou; por isso, logo após ter terminado a minha licenciatura, ingressei na Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, na Pós‑‑Graduação em Análise e Intervenção Familiar.
Durante este percurso, fui convidada para colaborar com a Universidade de Aveiro, enquanto docente, no Curso de Gerontologia, que começava a dar os primeiros passos, na Escola Superior de Saúde.
Ainda não era mãe, pelo que este desafio foi imediatamente aceite, embora acumulasse esta função com a de coordenação técnica numa instituição de apoio à terceira idade.
Trabalhava a sessenta quilómetros de casa, o que representava duas viagens por dia de quarenta minutos, de segunda a sexta‑feira.
Após ter sido mãe, passei a sair de casa ainda mais cedo. A rotina era quase sempre a mesma, exceto nos dias em que era o meu marido a ir levar ou buscar o miúdo à creche. Saía de casa uma hora antes de começar a trabalhar e regressava a casa uma hora depois de sair do trabalho.
Contudo, regressar a casa não era sinónimo de descanso e de foco apenas na esfera familiar. Tarefas de casa, preparação de trabalho para a Universidade, gestão dos períodos de doença do meu filho com a minha ausência no trabalho, entre outros, foram, pouco a pouco, mudando a minha percepção sobre o tempo. Afinal, ele já não esticava, e algo teria de ficar para trás. E a primeira coisa que ficou para trás fui mesmo eu. Mas a vida continuou…
Três anos depois, voltei a ser mãe. Seis meses após o nascimento do meu segundo filho, outro rapaz, regressei a todas as minhas responsabilidades anteriores. Foi uma pausa de cerca de nove meses, entre a licença de maternidade e uma baixa médica por gravidez de risco, e voltei ao trabalho e às viagens. As rotinas de início e fim de dia mantinham‑se, mas agora a dobrar. Vi‑me a braços com duas crianças pequenas, um marido, uma casa para tratar e pouco tempo para estar com eles e muito menos para cuidar de mim.
Mesmo quando estávamos juntos, a minha cabeça não parava: «O que não fiz?», «O que tenho amanhã para fazer?», «O que falta em casa?» Perguntas como estas não me permitiam estar realmente presente em família. Mesmo com o apoio do meu marido e dos familiares, tudo parecia insuficiente.
Todas estas exigências começaram a refletir‑se e a fragilizar a minha saúde física e emocional. Até que fui «forçada» a parar. E durante algumas semanas, parei verdadeiramente. Deixei de trabalhar, e a prioridade, nesse período, passei a ser eu. Recordo‑me perfeitamente do primeiro dia em que fiquei sozinha em casa, depois de as crianças saírem de manhã com o pai, e de me questionar: «E agora? O que vou fazer com tanto tempo livre?» As orientações clínicas eram
para abrandar o ritmo, mas continuar a ter rotinas. Retomei o exercício físico, a leitura e o tempo para não fazer nada. Somente descansar.
Ao longo deste período, embora de forma lenta, fui sentindo alterações positivas no meu humor. Pouco a pouco, voltei a sentir prazer em realizar as tarefas
de casa, desde ir às compras a cozinhar.
Foi nesta fase que me debrucei sobre o conceito de Gestão Consciente do Tempo, por pura necessidade de mudar de vida. O estado a que tinha
chegado não permitia que continuasse a insistir na forma como estava a viver. Nesse momento, percebi que ansiedade, irritação, cansaço e exaustão eram as palavras que verbalizava mais do que uma vez por dia até ter sido obrigada a parar. Não era o que queria para mim daí em diante.
Enquanto pesquisava sobre o tema – que eu julgava ser, na altura, um problema só meu –, entendi que é, de facto, um problema comum a muitas
outras pessoas: dar resposta às diversas exigências inerentes às esferas da vida e conseguir um equilíbrio entre a vida pessoal, familiar e profissional.
Perante a minha própria história e o que via a acontecer à minha volta, pois foram muitas as pessoas que nesse período partilharam comigo sentir o mesmo, procurei conhecer várias estratégias que me ajudassem.
Fiz várias formações, em disciplinas várias e descobri as ferramentas que me têm vindo a permitir, desde essa altura, alcançar a harmonia entre as diversas esferas da minha vida.
Quando comecei a investigar sobre a temática sobre gestão do tempo encontrava muita informação, mas direcionada para a esfera profissional, produtividade e eficiência. Eu procurava algo mais.
Por isso a Gestão Consciente do Tempo é um conceito que vai mais além. porque não somos apenas profissionais e a nossa satisfação com a vida reflete a nossa satisfação com todas as esferas da nossa vida: pessoal, familiar e profissional.
Trata-se de um conceito que respeita a nossa individualidade e os diversos papéis sociais que desempenhamos na vida, e que se distribuem pelas várias esferas, pessoal, profissional e familiar. E todas são importantes! Não somos apenas profissionais e, no tempo que nos resta, somos pais/mães, maridos/esposas, companheiros/companheiras.
Assim, a Gestão Consciente do Tempo convida‑o a:
• afastar‑se do modo piloto automático em que tem vivido;
• conhecer e respeitar o seu ritmo e limites individuais;
• assumir o princípio de que «menos é mais»;
• colocar o foco no importante e no essencial, nas diferentes esferas da sua vida.
Progredir: Qual a sua maior paixão?
Sofia Pereira: A maternidade, o voluntariado, a leitura e a escrita são algumas das minhas maiores paixões. Gosto de música, mas prefiro o silêncio. Adoro o sol, a praia e o mar. Não consigo concentrar-me em ambientes com muito barulho. Não gosto de bananas.
Progredir: O que podem os leitores aprender com o seu livro "Como ter tempo para tudo?" ?
Sofia Pereira: O meu livro «Como ter tempo para tudo» é, em primeiro lugar, um convite para parar. Parar e pensar sobre o que andamos a fazer com o nosso tempo, sobre quem somos e o que é realmente importante para cada um de nós.
Em sete passos, este percurso vai ensinar aos leitores:
1. Respeitar a sua individualidade.
2. Conhecer e respeitar o seu ritmo.
3. Conhecer e respeitar os seus limites.
4. Usar conscientemente o seu tempo.
5. Comunicar conscientemente consigo e com os outros.
6. Valorizar o que é importante.
7. Identificar a flexibilidade como o ingrediente fundamental.
8. Saber que desacelerar é profundo. Rápido é superficial.
9. Encarar a gestão do tempo como a gestão da vida.
10. Perceber que a vida acontece agora.
Progredir: O próximo tema da revista progredir é "Recolhimento", acredita que nos tempos de hoje damos muita ou pouca importância a este momento nas nossas vidas?
Sofia Pereira: O meu livro «Como ter tempo para tudo» é, em primeiro lugar, um convite para parar. Parar e pensar sobre o que andamos a fazer com o nosso tempo, sobre quem somos e o que é realmente importante para cada um de nós.
Em sete passos, este percurso vai ensinar aos leitores:
1. Respeitar a sua individualidade.
2. Conhecer e respeitar o seu ritmo.
3. Conhecer e respeitar os seus limites.
4. Usar conscientemente o seu tempo.
5. Comunicar conscientemente consigo e com os outros.
6. Valorizar o que é importante.
7. Identificar a flexibilidade como o ingrediente fundamental.
8. Saber que desacelerar é profundo. Rápido é superficial.
9. Encarar a gestão do tempo como a gestão da vida.
10. Perceber que a vida acontece agora.
Progredir: O próximo tema da revista progredir é "Recolhimento", acredita que nos tempos de hoje damos muita ou pouca importância a este momento nas nossas vidas?
Sofia Pereira: O nosso mundo é, hoje, um mundo acelerado. Cheio de estímulos aos quais é muitas vezes difícil de resistir. Raramente estamos em paz e estamos quase
sempre a pensar em tudo menos no que está a acontecer no momento presente: o relatório que temos para entregar, as compras que temos que fazer, no que ficou por fazer... E, nesta vida piloto automático, estamos quase sempre a fazer comparações com os outros: a colega que saiu mais cedo que nós, os amigos que compraram uma casa fantástica, aquela pessoa que acompanhamos no Instagram que faz viagens de sonho e nós não temos nem tempo nem dinheiro para isso.
Recolhermo-nos, afastarmo-nos desta vida frenética é uma ação que vamos «empurrando» para segundo plano e é tão importante para uma vida mais equilibrada e com sentido. Parar para onde estamos, para onde queremos ir. Parar para perceber como nos sentimos e onde estamos a colocar a nossa atenção e o que estamos a priorizar.
É fácil? Não. Exige esforço, energia e tempo. É um percurso que se faz, com pequenos passos de cada vez. E este livro é um convite a este recolhimento interior individual.
Progredir: Uma mensagem para os nossos leitores?
Sofia Pereira: Sou otimista em relação à possibilidade de a nossa sociedade viver em equilíbrio. Acredito que é possível atingir a harmonia entre as exigências inerentes às diferentes esferas da vida, tendo plena consciência de que estas exigências variam de pessoa para pessoa, atendendo a que somos todos pessoas com valores, vivências e expectativas diferentes.
Acho que esta transição para uma vida mais consciente já está a acontecer, embora lentamente. A prova disto é a busca constante por parte das pessoas em quererem conhecer mais, conhecer estratégias para uma vida respeitadora dos nossos ritmos, limites e papéis sociais.
Este livro mostra-lhe o início do caminho rumo ao seu equilíbrio. Mas, não se iluda: é um caminho que exige um grande investimento de tempo no seu «EU», a peça mais importante deste puzzle.
Aceite que a sua vida também é o dia a dia, feita de pormenores e banalidades. Esse será o primeiro passo para conquistar a sua harmonia.
Os seus olhos devem estar postos no aqui e agora, tendo presente que será dessa forma que alcançará os seus objetivos futuros. Lembre‑se de que, quando sabemos exatamente para onde queremos ir, no caso de nos encontrarmos perdidos, o nosso GPS interior «recalculará o percurso» e seguiremos por outro caminho, mas sempre rumo ao nosso destino. É esta a grande vantagem de viver no presente. É estar sempre a tempo de mudar em direção ao destino certo.
A gestão consciente do tempo não é apenas um modo de gerir o próprio tempo. É seguir uma nova filosofia de gestão desse tempo, assente na consciência do aqui e agora, no respeito do seu ritmo e limites individuais e na valorização do que é realmente importante para si.
E é uma filosofia alicerçada no respeito da priorização do «EU». Que não é egoísmo. É uma necessidade. Por isso, priorize‑se. Cuidar de si em primeiro lugar é a melhor forma de mostrar a todas as outras pessoas de quem cuida.
Tenha sempre presente: a vida acontece AGORA!
Sofia Pereira
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