Os Sonhos, por Rita Antunes
Desde miúda que descobrir o significado do que sonhamos enquanto dormimos sempre me fascinou.
Após um dia de trabalho, quando o nosso corpo necessita de descanso e a nossa mente se encontra repleta de emoções, surge a necessidade restabelecer as energias, o descanso, o sono e com ele o sonho.
O sonho aparece repleto de símbolos, de personagens misteriosas, de mensagens que quase nunca entendemos, e por vezes até nos mostram o futuro.
Para as sociedades da antiguidade, o sonho era uma passagem para o universo em que a alma se aproximava do divino e ainda um veículo de mensagens relativas ao futuro. Todas exploraram de uma forma específica o significado dos sonhos.
Para os antigos egípcios, era através dos sonhos, que podiam entrar em contacto com os mortos, deuses e obter visões acerca do futuro. Nesta sociedade surge a oniromancia e os escribas especialistas na reprodução e classificação dos sonhos.
Já os gregos organizaram os sonhos em três categorias, sendo aqueles cujo conteúdo era simbólico, os que transmitiam mensagens acerca do futuro e aqueles cujo significado das suas mensagens era evidente.
O povo celta utilizava o sonho como um ritual de iniciação, no qual o sonhador numa viagem ao seu mundo oculto, devia ultrapassar todos os obstáculos e voltar mais completo.
No início do cristianismo na Europa, o sonho era visto como um elo de transmissão de mensagens entre Deus e os mortais.
No século XVIII, os mecanismos que levam ao sonho passam a ser estudados em vez do seu significado.
Já no século XIX, no desabrochar das sociedades ocultas, o significado dos sonhos volta a ser interpretado. Nesse mesmo século surgem as teorias psicológicas, muitos são os que se aventuram neste campo.
Alfred Maury (1817-1892) "Em sonho o homem revela-se inteiro a si mesmo na sua nudez e na sua miséria inatas. Logo que suspende o exercício da sua vontade, torna-se o joguete de todas as paixões contra as quais, no estado de vigília, a consciência, o sentimento de honra, o medo no defendem”.
Hervey de Saint Denys (1832-1892) "Nós conhecemos muito pouco os laços misteriosos que unem a alma à matéria para que a anatomia seja o nosso guia naquilo que a psicologia tem de mais subtil.”
Sigmund Freud (1856 - 1939), considerado o pai da psicanálise, avaliou as recordações como "A estrada real que conduz à descoberta do inconsciente na vida psíquica. ", os seus estudos, ainda hoje são uteis nos tratamentos psicanalíticos.
Carl Gustav Jung (1875-1961) "A função geral dos sonhos é tentar restabelecer o nosso equilíbrio psicológico com a ajuda de um material onírico que, de uma maneira subtil, reconstitui o equilíbrio perfeito de todo o nosso psiquismo. É o que eu chamo a função complementar (ou compensadora) dos sonhos na nossa constituição psíquica.”
O sonho mostrou, após vários estudos ao longo dos séculos, ser essencial na psicanálise, tendo-se chegado a várias conclusões, entre elas que durante o sono o cérebro passa por três estados de consciência que são o estado de vigília, o estado de sono e o estado de sono paradoxal, sendo que este corresponde ao período durante o qual se sonha.
A maior parte do que sonhamos está directamente associado com as nossas vivências diárias, com as pessoas e com os locais que frequentamos, misturando-se com sentimentos que julgávamos há muito terem sido ultrapassados.
Por vezes temos sonhos assustadores e outras, sonhos que nos trazem uma paz imensa, fazendo-nos acordar repletos de energia e bem-estar.
Há quem diga que durante o sono o nosso espírito deixa o nosso corpo e anda por aí a passear. Será que é por isso que por vezes acordamos tão cansados que parece que percorremos quilómetros?
Independentemente dos estudos realizados até agora sobre os sonhos, ou do que se pense e fale, na minha opinião, o facto de sonharmos ajuda-nos de alguma forma a resolver questões que se encontram gravadas no nosso inconsciente e que de alguma forma atormentam a nossa mente e espírito.