Entrevista a Miguel Real
"Uma teoria sobre a Felicidade"
Encontramo-lo
no mundo das letras entre os livros e as aulas de Filosofia e Psicologia,
porque ser professor continua a ser determinante. Miguel Real, autor do
polémico livro “Nova teoria sobre o Mal”, conta aos leitores da Revista
Progredir um pouco sobre si próprio e sobre a sua teoria da Felicidade. Por Revista Progredir
Progredir: Romancista, crítico literário e professor de Filosofia, fale-nos de si, conte-nos a sua história?
Miguel Real: A minha história não tem história. Desde sempre quis ser professor e sempre continuei a querer ser professor. A minha atividade como ensaísta e escritor nasceu dos apontamentos que tirava para a preparação das aulas, que só muito tarde, entre os 40 e os 50 anos, decidi organizar e preparar para publicação. A pouco e pouco, nos últimos 15 anos, o escritor e ensaísta superou o professor, mas determinante na minha vida foi sempre a atividade de professor de Filosofia e Psicologia. Por exemplo, o ensaio "Nova Teoria da Felicidade" nasceu de estudos preparatórios para as aulas de Psicologia.
Progredir: Desde 1979, ano em que lançou o seu primeiro romance, o que mudou em si? Como evoluiu o seu pensamento e a sua escrita?
Miguel Real: A evolução residiu na consciencialização das grandes questões da cultura portuguesa. Todos os meus romances têm como pano de fundo os problemas que a sociedade e a cultura portuguesas têm sofrido desde os séculos XV e XVI. A questão do espírito voluntarioso, indisciplinado e generoso do português. A questão de um conservadorismo institucional inato. A questão da crença em milagres providenciais. A questão do sebastianismo... Vou estudando estas questões nas obras de diversos autores: António Vieira, Eça de Queirós, Agostinho da Silva, Eduardo Lourenço, até, finalmente, ter escrito uma "Introdução à Cultura Portuguesa", síntese dos trabalhos sobre esta área, e "Pensamento Português Contemporâneo", síntese das investigações no campo da Filosofia.
Progredir: Vários Livros, vários prémios, como sente o reconhecimento do seu trabalho?
Miguel Real: Sinceramente, tanto como professor quanto como escritor sinto-me reconhecido o suficiente para não me queixar. Sinto que valeram a pena as milhares de aulas leccionadas e os inúmeros livros escritos. Ambas as vertentes trouxeram-me algum reconhecimento por parte dos meus pares que me honra. Tomara que todos os portugueses pudessem dizer o mesmo no campo da realização pessoal. Seríamos um povo feliz!
Progredir: Romancista, crítico literário e professor de Filosofia, fale-nos de si, conte-nos a sua história?
Miguel Real: A minha história não tem história. Desde sempre quis ser professor e sempre continuei a querer ser professor. A minha atividade como ensaísta e escritor nasceu dos apontamentos que tirava para a preparação das aulas, que só muito tarde, entre os 40 e os 50 anos, decidi organizar e preparar para publicação. A pouco e pouco, nos últimos 15 anos, o escritor e ensaísta superou o professor, mas determinante na minha vida foi sempre a atividade de professor de Filosofia e Psicologia. Por exemplo, o ensaio "Nova Teoria da Felicidade" nasceu de estudos preparatórios para as aulas de Psicologia.
Progredir: Desde 1979, ano em que lançou o seu primeiro romance, o que mudou em si? Como evoluiu o seu pensamento e a sua escrita?
Miguel Real: A evolução residiu na consciencialização das grandes questões da cultura portuguesa. Todos os meus romances têm como pano de fundo os problemas que a sociedade e a cultura portuguesas têm sofrido desde os séculos XV e XVI. A questão do espírito voluntarioso, indisciplinado e generoso do português. A questão de um conservadorismo institucional inato. A questão da crença em milagres providenciais. A questão do sebastianismo... Vou estudando estas questões nas obras de diversos autores: António Vieira, Eça de Queirós, Agostinho da Silva, Eduardo Lourenço, até, finalmente, ter escrito uma "Introdução à Cultura Portuguesa", síntese dos trabalhos sobre esta área, e "Pensamento Português Contemporâneo", síntese das investigações no campo da Filosofia.
Progredir: Vários Livros, vários prémios, como sente o reconhecimento do seu trabalho?
Miguel Real: Sinceramente, tanto como professor quanto como escritor sinto-me reconhecido o suficiente para não me queixar. Sinto que valeram a pena as milhares de aulas leccionadas e os inúmeros livros escritos. Ambas as vertentes trouxeram-me algum reconhecimento por parte dos meus pares que me honra. Tomara que todos os portugueses pudessem dizer o mesmo no campo da realização pessoal. Seríamos um povo feliz!
Progredir: Como vê os jovens no ensino
atual?
Miguel Real: Super-super-super desorientados. Não há saídas profissionais, dificilmente se segue o curso universitário de primeira escolha, não é possível casar e ter filhos senão sustentado pela família, dificilmente se consegue o emprego ou trabalho que se deseja, nem mesmo trabalho permanente. São imensos e gigantescos os obstáculos que a sociedade levantou que a juventude (entre os 18 e os 30 anos) tem de vencer para se afirmar como cidadão feliz. Não gostava de estar na pele de um jovem de hoje. Não hesitava, voltava costas à elite portuguesa que tem comandado o Estado desde a década de 90 e emigrava. Não voltava mais!
Progredir: Estamos a criar filósofos?
Miguel Real: Sim, uma minoria. No campo da cultura, Portugal não está em crise. Na literatura, na ciência, na pintura, no cinema, no documentário, na ilustração... Existe uma nova geração de elevadíssima qualidade, uma autêntica geração de ouro, não nacionalista nem paroquial, que está a operar uma revolução radical na cultura portuguesa, integrando-a num mundo global.
Progredir: Fale-nos da sua última obra literária, “Nova teoria sobre a Felicidade”
Miguel Real: "Nova Teoria da Felicidade" pretende evidenciar que a felicidade é um sentimento democrático, passível de ser atingida por todas as pessoas. Porém, existem três níveis de felicidade: 1. - a felicidade como vida simples, como satisfação, pertinente a todos os que se adaptam às instituições sociais e em nada ousam revolucionar; basta-lhe a casinha, o carrinho, os filhinhos, o trabalhinho e a conta no banco; 2. - a felicidade como vida realizada: uma vida criativa, desde a criação de uma empresa ou uma revista, à criação de uma obra de arte, à criação de passeios pedonais ou à criação de um poema - morrem realizados porque acrescentarem novos seres, novas "coisas"; 3. - por fim, os verdadeiros felizes, aqueles que criaram novos sentidos para o mundo, que o revolucionam de um modo permanente, seja pela ciência, seja pela aventura, seja pela arte, seja pela economia; mesmo ignorados em vida, como Fernando Pessoa, morrem sabendo que construíram uma Obra singular.
Progredir: Surgiu alguma polémica à volta da sua anterior obra, “Nova teoria do Mal”, existirá alguma ligação entre ambas?
Miguel Real: Sim, "Nova Teoria do Mal" explorava as quatro fontes do mal: a escassez, a dor física, o sofrimento psíquico e a morte, evidenciando-as como a base permanente de uma ética. Fazer o bem significa evitar o mal, isto é, aquelas quatro fontes. A Europa conseguiu ultrapassar as três primeiras e retardar ao máximo a última através da evolução da medicina. "Nova Teoria da Felicidade" desenvolve a possibilidade de se ser feliz, tanto contra o mal social como tendo-se consciência da existência de morte derradeira.
Miguel Real: Super-super-super desorientados. Não há saídas profissionais, dificilmente se segue o curso universitário de primeira escolha, não é possível casar e ter filhos senão sustentado pela família, dificilmente se consegue o emprego ou trabalho que se deseja, nem mesmo trabalho permanente. São imensos e gigantescos os obstáculos que a sociedade levantou que a juventude (entre os 18 e os 30 anos) tem de vencer para se afirmar como cidadão feliz. Não gostava de estar na pele de um jovem de hoje. Não hesitava, voltava costas à elite portuguesa que tem comandado o Estado desde a década de 90 e emigrava. Não voltava mais!
Progredir: Estamos a criar filósofos?
Miguel Real: Sim, uma minoria. No campo da cultura, Portugal não está em crise. Na literatura, na ciência, na pintura, no cinema, no documentário, na ilustração... Existe uma nova geração de elevadíssima qualidade, uma autêntica geração de ouro, não nacionalista nem paroquial, que está a operar uma revolução radical na cultura portuguesa, integrando-a num mundo global.
Progredir: Fale-nos da sua última obra literária, “Nova teoria sobre a Felicidade”
Miguel Real: "Nova Teoria da Felicidade" pretende evidenciar que a felicidade é um sentimento democrático, passível de ser atingida por todas as pessoas. Porém, existem três níveis de felicidade: 1. - a felicidade como vida simples, como satisfação, pertinente a todos os que se adaptam às instituições sociais e em nada ousam revolucionar; basta-lhe a casinha, o carrinho, os filhinhos, o trabalhinho e a conta no banco; 2. - a felicidade como vida realizada: uma vida criativa, desde a criação de uma empresa ou uma revista, à criação de uma obra de arte, à criação de passeios pedonais ou à criação de um poema - morrem realizados porque acrescentarem novos seres, novas "coisas"; 3. - por fim, os verdadeiros felizes, aqueles que criaram novos sentidos para o mundo, que o revolucionam de um modo permanente, seja pela ciência, seja pela aventura, seja pela arte, seja pela economia; mesmo ignorados em vida, como Fernando Pessoa, morrem sabendo que construíram uma Obra singular.
Progredir: Surgiu alguma polémica à volta da sua anterior obra, “Nova teoria do Mal”, existirá alguma ligação entre ambas?
Miguel Real: Sim, "Nova Teoria do Mal" explorava as quatro fontes do mal: a escassez, a dor física, o sofrimento psíquico e a morte, evidenciando-as como a base permanente de uma ética. Fazer o bem significa evitar o mal, isto é, aquelas quatro fontes. A Europa conseguiu ultrapassar as três primeiras e retardar ao máximo a última através da evolução da medicina. "Nova Teoria da Felicidade" desenvolve a possibilidade de se ser feliz, tanto contra o mal social como tendo-se consciência da existência de morte derradeira.
Progredir: O que é
para si a Felicidade?
Miguel Real: A felicidade é um sentimento de harmonia na maior das dimensões da vida, não de harmonia plena ou absoluta. É, também, ao nível racional, a constatação de que a vida teve sentido, de que se alcançou o que se pretendia da vida e se atingiu um patamar de que dificilmente se superará. Por isso, se diz no livro que só as pessoas adultas, com alguma experiência de vida, podem decidir se são ou não felizes. Não confundir felicidade com sentimentos eufóricos de júbilo, que constituem porta de acesso à felicidade, mas não o são.
Progredir: O que podem as pessoas fazer, de forma prática, para serem mais Felizes?
Miguel Real: Não se deixarem atemorizar e fazerem mensalmente contas à sua vida, se estão onde querem, se conseguiram o que querem, o que fazer para mudar a sua vida, não precipitadamente, mas calmamente, como orientar gradualmente a sua existência noutra direção. Nesta "contabilidade" da vida, estabelecer prioridades e hierarquias. O que é importante para alguém (por exemplo, o dinheiro), pode ser relativamente desprezível para outro (basta-lhe o que tem, uma quantia módica mensal, um carro utilitário...). Sobretudo, estabelecer com rigor o que se pretende atingir tendo em conta o sentido global por que se orienta a vida.
Progredir: Considera que as pessoas em geral têm consciência do que se passa nas suas próprias vidas, que fazem uma reflexão sobre como se sentem, para onde se dirigem?
Miguel Real: Sim, embora pareçam desorientadas, isto é, sem norte na vida. Não por sua culpa, mas, sobretudo, devido às novas condições sociais malignas oferecidas por Portugal na última década. As pessoas não são idiotas, sabem exactamente o que querem, uns dinheiro, outros poder, outros fama, outros uma vida humilde, outros viajar. Todos sabem o que querem. Porém, a sociedade portuguesa é, actualmente, entre as europeias, a que maior resistência opõe à realização dos seus cidadãos. Por isso, parecem desconhecer o que querem, todos os dias têm de se adaptar a novas condições, radicalmente diferentes das antigas.
Progredir: Instala-se na sociedade um novo paradigma, caminhamos para uma vida mais Feliz?
Miguel Real: Sim, após o interregno que estamos a viver. Acredito que dentro de 10, 20 anos seremos mais felizes, mas menos individualistas, mais humildes nas nossas ambições, mais sóbrios, mais moderados.
Progredir: Que mensagem gostaria de deixar aos leitores?
Miguel Real: Uma única mensagem, pedida emprestada ao Padre António Vieira: é possível ser feliz mesmo em circunstâncias sociais infelizes.
Miguel Real: A felicidade é um sentimento de harmonia na maior das dimensões da vida, não de harmonia plena ou absoluta. É, também, ao nível racional, a constatação de que a vida teve sentido, de que se alcançou o que se pretendia da vida e se atingiu um patamar de que dificilmente se superará. Por isso, se diz no livro que só as pessoas adultas, com alguma experiência de vida, podem decidir se são ou não felizes. Não confundir felicidade com sentimentos eufóricos de júbilo, que constituem porta de acesso à felicidade, mas não o são.
Progredir: O que podem as pessoas fazer, de forma prática, para serem mais Felizes?
Miguel Real: Não se deixarem atemorizar e fazerem mensalmente contas à sua vida, se estão onde querem, se conseguiram o que querem, o que fazer para mudar a sua vida, não precipitadamente, mas calmamente, como orientar gradualmente a sua existência noutra direção. Nesta "contabilidade" da vida, estabelecer prioridades e hierarquias. O que é importante para alguém (por exemplo, o dinheiro), pode ser relativamente desprezível para outro (basta-lhe o que tem, uma quantia módica mensal, um carro utilitário...). Sobretudo, estabelecer com rigor o que se pretende atingir tendo em conta o sentido global por que se orienta a vida.
Progredir: Considera que as pessoas em geral têm consciência do que se passa nas suas próprias vidas, que fazem uma reflexão sobre como se sentem, para onde se dirigem?
Miguel Real: Sim, embora pareçam desorientadas, isto é, sem norte na vida. Não por sua culpa, mas, sobretudo, devido às novas condições sociais malignas oferecidas por Portugal na última década. As pessoas não são idiotas, sabem exactamente o que querem, uns dinheiro, outros poder, outros fama, outros uma vida humilde, outros viajar. Todos sabem o que querem. Porém, a sociedade portuguesa é, actualmente, entre as europeias, a que maior resistência opõe à realização dos seus cidadãos. Por isso, parecem desconhecer o que querem, todos os dias têm de se adaptar a novas condições, radicalmente diferentes das antigas.
Progredir: Instala-se na sociedade um novo paradigma, caminhamos para uma vida mais Feliz?
Miguel Real: Sim, após o interregno que estamos a viver. Acredito que dentro de 10, 20 anos seremos mais felizes, mas menos individualistas, mais humildes nas nossas ambições, mais sóbrios, mais moderados.
Progredir: Que mensagem gostaria de deixar aos leitores?
Miguel Real: Uma única mensagem, pedida emprestada ao Padre António Vieira: é possível ser feliz mesmo em circunstâncias sociais infelizes.
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