Medicina Tradicional Chinesa - A Mtc e o desenvolvimento pessoal

A primeira vez que senti que a medicina chinesa me chamava tinha 20 anos, os cheiros, a presença que senti naquele espaço levou-me á tomada de consciência de que estava no sítio certo, aquele era o caminho.
Levaria ainda 10 anos até eu mergulhar profundamente nesta Medicina com 5 mil anos, hoje identificada como medicina complementar.
Á quem lhe chame uma Técnica, mas para mim a palavra técnica é uma forma muito reducionista de falar da MTC, poderia usar antes expressões como, "uma fonte de equilíbrio e transformação cheia de possibilidades."
Estudar Mtc foi difícil, talvez uma das coisas mais difíceis na minha vida, a razão é porque é necessário abrir o coração. É um grande amor que vai entrando dentro de nós e se instala como um gato preguiçoso, mas totalmente alinhado com os desígnios universais. Não estou a falar de espiritualidade, estou a falar de ciclos e relações entre o individuo, a natureza e o mundo.
Acompanhei o processo de legalização desta medicina, embora de forma anónima senti-me inteiramente fazendo parte da luta pelo reconhecimento desta preciosidade. Digo preciosidade porque tem que ser algo muito precioso para ter cinco mil anos e, aos meus olhos e de muitas outras pessoas, ser uma medicina do futuro.
Tenho um imenso orgulho e profundo agradecimento pela minha cédula, pois foi fruto de muito trabalho, investimento e transformação pessoal.
Quando se fala em Medicina tradicional chinesa, com frequência se ouve "à sim acupuntura, as agulhas, á não gosto de agulhas ou não gosto da ideia de ser toda espetada com agulhas", por favor não digam isto, porque está tão longe do que realmente é a Mtc.
Em primeiro lugar porque a Mtc embora tradicional não é fixa nem rígida, logo existe espaço para a evolução, e, uma das coisas que se usa hoje em dia é o laser que adequado ao tratamento e com praticas de segurança pode fazer um estímulo aos pontos de acupuntura sem que a pessoa tenha a sensação da agulha, assim como, o ponto de acupuntura pode ser estimulado através de massagem especifica e de calor. Não estou a dizer que uma coisa substitui a outra, mas sim que um tratamento de medicina chinesa tem várias vertentes e todas elas válidas e efetivas. A acupuntura é uma parcela que faz parte dum conjunto.
Em segundo lugar porque a Medicina Chinesa é uma forma de ver a vida, uma forma de entender o mundo e a si mesmo. Ela traz consigo um código de honra e entendimento.
É constituída por várias disciplinas, como biologia, fisiologia, psicologia, diagnostico, fitoterapia, anatomia, meridianos, acupuntura, moxibostão, fisiologia energética, alimentação e nutrição, Qi gong, tai chi, etc. Durante no mínimo 5 anos há um estudo intensivo que nos exige uma entrega total e completa.
Como disse anteriormente a medicina Chinesa tem milénios de existência, existem registos que o comprovam e o curioso é que estudos científicos recentes, descobertas do mundo científico atuais, comprovam os escritos com vários séculos de distância.
Quando hoje em dia se diz tão comummente que o stress perturba a biologia e a fisiologia do corpo humano, os grandes mestres da medicina chinesa através da observação e da contemplação já o diziam por outras palavras á vários seculos atrás.
A Mtc faz uma relação entre os órgãos e as emoções, entre o equilíbrio sanguíneo e o equilíbrio da mente consciente e inconsciente. Por isso quem se dedica por amor a esta filosofia de vida abre-se ao desenvolvimento pessoal inevitavelmente, primeiro duma forma inconsciente ou pouco consciente e depois a consciência da sua transformação interna vai ganhando espaço. Por outro lado quem se propõem a ser tratado por esta medicina também entra numa espiral ascendente equilibrada de transformação interna, de tomadas de consciência sobre si e sobre o mundo, por esta razão muitas vezes as pessoas iniciam tratamentos que interrompem, porque há uma perceção mais ou menos consciente que nos avisa que há uma transformação a acontecer, e essa transformação vai nos levar a algo que ainda nos é desconhecido e o que não conseguimos visionar por ser novo e não termos ainda referências internas, assusta inevitavelmente. Há sempre um momento de questionamento se aquele é o caminho, vários momentos de medo ao longo do percurso, tanto para o especialista de Mtc como para o paciente no seu percurso de tratamento, a grande questão é: " o que é que eu realmente quero? a ilusão de que posso ficar no mesmo sítio ou a realidade de constante mudança que a vida é?"
A ilusão de que o tratamento se resume a uma ou duas horas, semanais ou quinzenais ou até mensais, que estamos no gabinete com o terapeuta, é isso mesmo - uma ilusão -, no tempo de consulta ou tratamento o que está a acontecer são estímulos ao corpo e á mente, estímulos através das agulhas, através da massagem, através da conversa e da relação que se estabelece entre o terapeuta e o paciente.
Quando a pessoa sai do gabinete e vai para a sua vida leva todos aqueles estímulos consigo e juntamente leva também indicações alimentares, fitoterapia para tomar, exercícios de Qi Gong para fazer. Tudo isto vai trabalhar no corpo e na mente até á próxima sessão, e, por essa razão a pessoa que se entrega em verdade ao tratamento começa a ter insights, vontades e necessidades diferentes, coincidências. A transformação já está a acontecer, o retorno do organismo ao equilíbrio, o retorno da pessoa a si mesma. A questão é que, é um processo aparentemente invisível e só quando já avançamos no caminho, quando o equilíbrio no organismo já se vê é que a mente começa a ganhar uma maior consciência do processo no qual tem estado.
Na Mtc fala-se do yin e do yang como base de tudo, o organismo é um conjunto de macro e micro yin e yang. Estas duas forças têm uma relação intrínseca e dinâmica o tempo todo, num minuto esta relação se altera de nutrição para dominação, de sustentação para colocar limites e isto é a realidade da vida do dia também, num momento estamos a dar amor cheio de doçura aos nossos filhos e no momento a seguir estamos a colocar limites de forma ativa e perentória. A razão dessa mudança é a proteção dos seres que tanto amamos, não sei se posso falar em amor quando me refiro á relação de yin e yang mas posso com certeza falar em a dinâmica para a constância do equilíbrio nos vários corpos que constituem o universo que é o ser humano.
Aliado ao yin e yang existe o Qi, que no ocidente usamos como sinónimo a palavra energia, se bem que não é verdadeiramente sinónimo, mas aqui para bem do entendimento vamos usa-lo dessa forma.
Existe um universo de 5 elementos na Mtc. Estes 5 elementos relacionam-se entre si de várias formas, pudemos dizer que eles facilitam o equilíbrio uns dos outros.
Os órgãos têm uma relação de pertença relativamente aos elementos, uma relação de nutrição entre si e uma relação de expressão no que respeita ás emoções. Á luz da Mtc a emoção é uma expressão do estado de cada órgão, existe um espectro de emoções que é ativada consoante o equilíbrio ou desequilíbrio do órgão. Por isso o estado do corpo, o estado das emoções e o estado da mente estão interrelacionados.
O desenvolvimento intelectual, o amadurecimento emocional, o despertar do individuo para a relação próxima que existe entre si e o mundo tudo isto tem impacto no estado do corpo físico, não há como separar estas questões.
Vamos dar como exemplo o Fígado, sendo um órgão espalhafatoso faz sentido que se fale em primeiro lugar, até porque ele é o começo, ele é o nascimento.
Ao fígado relaciona-se a emoção – ira – também muitas vezes identificada como raiva. Este órgão faz parte dum sistema denominado Madeira e uma das emanações do seu Qi é a raiva.
A raiva é uma energia poderosa que quando pouco consciente no ser humano é como uma arma de fogo que dispara em todas as direções destruindo tudo ao seu redor, com pouca utilidade para a construção.
Quando iniciamos um processo terapêutico uma das primeiras coisas que se identifica é como é que esta emoção está, virada para dentro ou virada para fora, mais consciente ou menos consciente.
Se estiver menos consciente e virada para fora, a pessoa muito provavelmente vai apresentar um comportamento agressivo, vai falar alto, terá pouca resistência á contrariedade e quando perante uma terá tendência a ficar vermelho, a gesticular muito, direcionar a emoção para toda a gente que esteja á volta. Se estiver pouco consciente, mas virada para dentro muito provavelmente a pessoa vai chorar com facilidade, pode já ter diagnóstico de depressão e pode por exemplo ter acidez no estomago, refluxo, vómitos.
Quando a pessoa inicia o tratamento o terapeuta além de conversar e colocar determinadas questões com a intenção de levar a pessoa a um autoquestionamento e observação, vai também agir, através da massagem, agulhas, alimentação e exercícios, no processo digestivo e no processo emocional.
À medida que as sessões terapêuticas vão acontecendo, há um equilíbrio que se vai instalando no sistema digestivo, na expressão emocional, e, uma maior consciência sobre si mesmo.
A emoção Ira não deixou de estar presente naquela pessoa. O que aconteceu foi que houve um equilíbrio que se instalou nos vários níveis do ser, que leva aquela pessoa a usar aquele potencial energético existente em si duma forma mais consciente e equilibrada e mais útil para a sua vida do dia a dia, e aí sim a pessoa pode construir com esta energia.
Ás vezes, pode acontecer, quando se diz que existe um desequilíbrio no corpo e que é necessário alterar alguns hábitos por exemplo alimentares, pode acontecer a pessoa sentir-se culpada, achar que a culpa é sua. Ora isto não é inteiramente verdade, primeiro a pessoa não é culpada de nada, isto é importante que fique muito claro.
A pessoa é sim responsável pelos seus hábitos, mas para assumir essa responsabilidade tem que estar consciente desses mesmos hábitos e da razão pela qual os começou a adotar.
Quando a pessoa começa a compreender a razão pela qual começou a criar o hábito de comer doces e agora não passa sem um, torna-se mais fácil alterar esse hábito de forma suave e substituir alguns alimentos por outros. Como o tratamento é um conjunto de ações também outros estímulos vão ser aplicados paralelamente, a pessoa vai ser influenciada nas suas necessidades e apetências, pela transformação que está a acontecer no seu corpo e mente.
Ainda falando da alimentação, o alimento que ingerimos, a partir do momento que entra no corpo passa a ser parte integrante do organismo, logo as cascatas de acontecimentos moleculares, a sua qualidade e fluxo vão estar alinhados com a qualidade de alimentação que ingerimos, que vai influenciar a qualidade de pensamento e a qualidade da emoção que sentimos. Quando isto acontece a qualidade, física e simbólica, da nossa visão vai ser influenciada também, a luminosidade da nossa pele e a sua resistência enquanto armadura protetora do organismo poderá ser de muito melhor qualidade, se a escolha de alimento for adequada ao momento e á pessoa.
Parece-me, que a perceção de si mesmo vai se alterando e consequentemente há uma transformação pessoal que é inevitável. Logo o desenvolvimento pessoal acontece a cada passo do caminho, acontece a cada tomada de decisão, e, é consolidado a cada nova e melhor sensação que a pessoa vai tendo ao longo do tratamento.
Como pudemos perceber a medicina chinesa tem uma visão e prática holística, e, a meu ver não existe propriamente “esta ou aquela prática/ hábito da pessoa está errado”, o que existe sim é o momento em que é feito e a qualidade intrínseca do estímulo ou do que ingerimos ao nível alimentar, por exemplo.
Neste exemplo de alimentos tudo, na verdade, vai estar relacionado com a consciência com que me relaciono com a alimentação.
Uma palavra que começou a ser tabu na medicina natural seja Mtc, seja naturopatia, homeopatia, é a palavra Cura. Ora vamos falar um bocadinho sobre cura.
É um tema complexo e profundo, abrangente e como tal difícil de falar, mas por muito diferentes que sejam os pontos de vista sobre este assunto, há uma ideia que penso ser comum a todas as medicinas que é, o corpo tem os seus próprios mecanismos de cura, isto é real, não há qualquer subjetividade ou interpretação.
Quando alguém parte um braço o máximo que lhe é feito é engessar para facilitar o alinhamento do osso, porque a cura ou o processo de regeneração é feito pelo próprio organismo. Pode precisar de um suplemento vitamínico para facilitar a recuperação, mas o suplemento o que vai fazer é, apoiar o que já existe no corpo e o que já é ingerido pela alimentação, ele não leva nada de novo, leva sim potência.
Então, penso que é importante expandir esta ideia de que o corpo humano, o ser humano, tem dentro o que precisa para retornar ao equilíbrio, precisa sim dos estímulos adequados ás suas necessidades e da expansão da sua consciência.
No que respeita a esta questão de tratamento do corpo físico e desenvolvimento pessoal inerente há também uma questão importante, vamos chamar-lhe “Rótulos”.
Eu sinto que quando vou a um médico ou terapeuta apresento as minhas queixas e aguardo pelas questões que me vão ser colocadas e pela interpretação daquela pessoa, o meu objetivo é encontrar uma solução ou pelo menos que se abra um caminho para eu encontrar a solução para a questão que me levou ali. E, o meu foco vai para encontrar a solução, da mesma maneira enquanto terapeuta quando alguém vem ter comigo com uma queixa, faço as perguntas que preciso fazer para conseguir interpretar a situação da pessoa e depois aplico o meu conhecimento com o objetivo de facilitar o retorno ao conforto no seu corpo, facilitar aquela pessoa a encontrar uma solução para a sua questão.
Quando o corpo fala muitas vezes estamos demasiado ocupados com o nosso dia a dia para o ouvir, então como não ouvimos o corpo traz as dores ou os desconfortos, ou a insónia ou a enxaqueca, ou a dor muscular que não desaparece, etc. Os desconfortos que o corpo traz não são rótulos, são mensagens, são alertas. Estamos a entrar no desequilíbrio e o corpo está a avisar. Por isso é tão importante que quando temos uma dor, ou seja, o que for, procuremos ajuda, obviamente, na medicina que mais se adequar ao problema em questão, mas a seguir temos que fazer uma introspeção no sentido de compreender como chegamos ali, pois é assim que vamos encontrar o caminho para sair do ponto em que estamos. Tudo o que o médico, terapeuta ou técnico nos passar vai ser importante na recuperação, mas o que realmente nos vai ajudar a sair daquele ponto de desconforto é a tomada de consciência de como chegamos até ali pois sair dali vai implicar uma mudança de comportamento e só nós o pudemos fazer, nenhum médico ou terapeuta por melhor que seja nos pode ajudar se em vez de procurarmos a solução ficarmos agarrados ao rótulo que nos foi dado.
O diagnóstico serve para o enquadramento de sintomas e tratamento, não pode ser visto como algo que nos define enquanto indivíduos ou que nos acrescenta valor. Se for visto desta forma o que vai fazer é que vamos manter o problema.
Somos animais de hábitos, é natural e até saudável criar rotinas, mas os hábitos e as rotinas que temos aos 10 anos de idade, não podem ser iguais aos hábitos e ás rotinas de quando temos 25 anos ou 50. Os nossos gostos vão se alterando á medida que avançamos na vida, exatamente porque as nossas necessidades também se vão alterando, os nossos comportamentos emocionais naturalmente também se vão alterar e isso é saudável mostra que há um amadurecimento a acontecer, quando a mudança não acontece mostra que algo está errado e vão haver sinais e sintomas no corpo.
Levaria ainda 10 anos até eu mergulhar profundamente nesta Medicina com 5 mil anos, hoje identificada como medicina complementar.
Á quem lhe chame uma Técnica, mas para mim a palavra técnica é uma forma muito reducionista de falar da MTC, poderia usar antes expressões como, "uma fonte de equilíbrio e transformação cheia de possibilidades."
Estudar Mtc foi difícil, talvez uma das coisas mais difíceis na minha vida, a razão é porque é necessário abrir o coração. É um grande amor que vai entrando dentro de nós e se instala como um gato preguiçoso, mas totalmente alinhado com os desígnios universais. Não estou a falar de espiritualidade, estou a falar de ciclos e relações entre o individuo, a natureza e o mundo.
Acompanhei o processo de legalização desta medicina, embora de forma anónima senti-me inteiramente fazendo parte da luta pelo reconhecimento desta preciosidade. Digo preciosidade porque tem que ser algo muito precioso para ter cinco mil anos e, aos meus olhos e de muitas outras pessoas, ser uma medicina do futuro.
Tenho um imenso orgulho e profundo agradecimento pela minha cédula, pois foi fruto de muito trabalho, investimento e transformação pessoal.
Quando se fala em Medicina tradicional chinesa, com frequência se ouve "à sim acupuntura, as agulhas, á não gosto de agulhas ou não gosto da ideia de ser toda espetada com agulhas", por favor não digam isto, porque está tão longe do que realmente é a Mtc.
Em primeiro lugar porque a Mtc embora tradicional não é fixa nem rígida, logo existe espaço para a evolução, e, uma das coisas que se usa hoje em dia é o laser que adequado ao tratamento e com praticas de segurança pode fazer um estímulo aos pontos de acupuntura sem que a pessoa tenha a sensação da agulha, assim como, o ponto de acupuntura pode ser estimulado através de massagem especifica e de calor. Não estou a dizer que uma coisa substitui a outra, mas sim que um tratamento de medicina chinesa tem várias vertentes e todas elas válidas e efetivas. A acupuntura é uma parcela que faz parte dum conjunto.
Em segundo lugar porque a Medicina Chinesa é uma forma de ver a vida, uma forma de entender o mundo e a si mesmo. Ela traz consigo um código de honra e entendimento.
É constituída por várias disciplinas, como biologia, fisiologia, psicologia, diagnostico, fitoterapia, anatomia, meridianos, acupuntura, moxibostão, fisiologia energética, alimentação e nutrição, Qi gong, tai chi, etc. Durante no mínimo 5 anos há um estudo intensivo que nos exige uma entrega total e completa.
Como disse anteriormente a medicina Chinesa tem milénios de existência, existem registos que o comprovam e o curioso é que estudos científicos recentes, descobertas do mundo científico atuais, comprovam os escritos com vários séculos de distância.
Quando hoje em dia se diz tão comummente que o stress perturba a biologia e a fisiologia do corpo humano, os grandes mestres da medicina chinesa através da observação e da contemplação já o diziam por outras palavras á vários seculos atrás.
A Mtc faz uma relação entre os órgãos e as emoções, entre o equilíbrio sanguíneo e o equilíbrio da mente consciente e inconsciente. Por isso quem se dedica por amor a esta filosofia de vida abre-se ao desenvolvimento pessoal inevitavelmente, primeiro duma forma inconsciente ou pouco consciente e depois a consciência da sua transformação interna vai ganhando espaço. Por outro lado quem se propõem a ser tratado por esta medicina também entra numa espiral ascendente equilibrada de transformação interna, de tomadas de consciência sobre si e sobre o mundo, por esta razão muitas vezes as pessoas iniciam tratamentos que interrompem, porque há uma perceção mais ou menos consciente que nos avisa que há uma transformação a acontecer, e essa transformação vai nos levar a algo que ainda nos é desconhecido e o que não conseguimos visionar por ser novo e não termos ainda referências internas, assusta inevitavelmente. Há sempre um momento de questionamento se aquele é o caminho, vários momentos de medo ao longo do percurso, tanto para o especialista de Mtc como para o paciente no seu percurso de tratamento, a grande questão é: " o que é que eu realmente quero? a ilusão de que posso ficar no mesmo sítio ou a realidade de constante mudança que a vida é?"
A ilusão de que o tratamento se resume a uma ou duas horas, semanais ou quinzenais ou até mensais, que estamos no gabinete com o terapeuta, é isso mesmo - uma ilusão -, no tempo de consulta ou tratamento o que está a acontecer são estímulos ao corpo e á mente, estímulos através das agulhas, através da massagem, através da conversa e da relação que se estabelece entre o terapeuta e o paciente.
Quando a pessoa sai do gabinete e vai para a sua vida leva todos aqueles estímulos consigo e juntamente leva também indicações alimentares, fitoterapia para tomar, exercícios de Qi Gong para fazer. Tudo isto vai trabalhar no corpo e na mente até á próxima sessão, e, por essa razão a pessoa que se entrega em verdade ao tratamento começa a ter insights, vontades e necessidades diferentes, coincidências. A transformação já está a acontecer, o retorno do organismo ao equilíbrio, o retorno da pessoa a si mesma. A questão é que, é um processo aparentemente invisível e só quando já avançamos no caminho, quando o equilíbrio no organismo já se vê é que a mente começa a ganhar uma maior consciência do processo no qual tem estado.
Na Mtc fala-se do yin e do yang como base de tudo, o organismo é um conjunto de macro e micro yin e yang. Estas duas forças têm uma relação intrínseca e dinâmica o tempo todo, num minuto esta relação se altera de nutrição para dominação, de sustentação para colocar limites e isto é a realidade da vida do dia também, num momento estamos a dar amor cheio de doçura aos nossos filhos e no momento a seguir estamos a colocar limites de forma ativa e perentória. A razão dessa mudança é a proteção dos seres que tanto amamos, não sei se posso falar em amor quando me refiro á relação de yin e yang mas posso com certeza falar em a dinâmica para a constância do equilíbrio nos vários corpos que constituem o universo que é o ser humano.
Aliado ao yin e yang existe o Qi, que no ocidente usamos como sinónimo a palavra energia, se bem que não é verdadeiramente sinónimo, mas aqui para bem do entendimento vamos usa-lo dessa forma.
Existe um universo de 5 elementos na Mtc. Estes 5 elementos relacionam-se entre si de várias formas, pudemos dizer que eles facilitam o equilíbrio uns dos outros.
Os órgãos têm uma relação de pertença relativamente aos elementos, uma relação de nutrição entre si e uma relação de expressão no que respeita ás emoções. Á luz da Mtc a emoção é uma expressão do estado de cada órgão, existe um espectro de emoções que é ativada consoante o equilíbrio ou desequilíbrio do órgão. Por isso o estado do corpo, o estado das emoções e o estado da mente estão interrelacionados.
O desenvolvimento intelectual, o amadurecimento emocional, o despertar do individuo para a relação próxima que existe entre si e o mundo tudo isto tem impacto no estado do corpo físico, não há como separar estas questões.
Vamos dar como exemplo o Fígado, sendo um órgão espalhafatoso faz sentido que se fale em primeiro lugar, até porque ele é o começo, ele é o nascimento.
Ao fígado relaciona-se a emoção – ira – também muitas vezes identificada como raiva. Este órgão faz parte dum sistema denominado Madeira e uma das emanações do seu Qi é a raiva.
A raiva é uma energia poderosa que quando pouco consciente no ser humano é como uma arma de fogo que dispara em todas as direções destruindo tudo ao seu redor, com pouca utilidade para a construção.
Quando iniciamos um processo terapêutico uma das primeiras coisas que se identifica é como é que esta emoção está, virada para dentro ou virada para fora, mais consciente ou menos consciente.
Se estiver menos consciente e virada para fora, a pessoa muito provavelmente vai apresentar um comportamento agressivo, vai falar alto, terá pouca resistência á contrariedade e quando perante uma terá tendência a ficar vermelho, a gesticular muito, direcionar a emoção para toda a gente que esteja á volta. Se estiver pouco consciente, mas virada para dentro muito provavelmente a pessoa vai chorar com facilidade, pode já ter diagnóstico de depressão e pode por exemplo ter acidez no estomago, refluxo, vómitos.
Quando a pessoa inicia o tratamento o terapeuta além de conversar e colocar determinadas questões com a intenção de levar a pessoa a um autoquestionamento e observação, vai também agir, através da massagem, agulhas, alimentação e exercícios, no processo digestivo e no processo emocional.
À medida que as sessões terapêuticas vão acontecendo, há um equilíbrio que se vai instalando no sistema digestivo, na expressão emocional, e, uma maior consciência sobre si mesmo.
A emoção Ira não deixou de estar presente naquela pessoa. O que aconteceu foi que houve um equilíbrio que se instalou nos vários níveis do ser, que leva aquela pessoa a usar aquele potencial energético existente em si duma forma mais consciente e equilibrada e mais útil para a sua vida do dia a dia, e aí sim a pessoa pode construir com esta energia.
Ás vezes, pode acontecer, quando se diz que existe um desequilíbrio no corpo e que é necessário alterar alguns hábitos por exemplo alimentares, pode acontecer a pessoa sentir-se culpada, achar que a culpa é sua. Ora isto não é inteiramente verdade, primeiro a pessoa não é culpada de nada, isto é importante que fique muito claro.
A pessoa é sim responsável pelos seus hábitos, mas para assumir essa responsabilidade tem que estar consciente desses mesmos hábitos e da razão pela qual os começou a adotar.
Quando a pessoa começa a compreender a razão pela qual começou a criar o hábito de comer doces e agora não passa sem um, torna-se mais fácil alterar esse hábito de forma suave e substituir alguns alimentos por outros. Como o tratamento é um conjunto de ações também outros estímulos vão ser aplicados paralelamente, a pessoa vai ser influenciada nas suas necessidades e apetências, pela transformação que está a acontecer no seu corpo e mente.
Ainda falando da alimentação, o alimento que ingerimos, a partir do momento que entra no corpo passa a ser parte integrante do organismo, logo as cascatas de acontecimentos moleculares, a sua qualidade e fluxo vão estar alinhados com a qualidade de alimentação que ingerimos, que vai influenciar a qualidade de pensamento e a qualidade da emoção que sentimos. Quando isto acontece a qualidade, física e simbólica, da nossa visão vai ser influenciada também, a luminosidade da nossa pele e a sua resistência enquanto armadura protetora do organismo poderá ser de muito melhor qualidade, se a escolha de alimento for adequada ao momento e á pessoa.
Parece-me, que a perceção de si mesmo vai se alterando e consequentemente há uma transformação pessoal que é inevitável. Logo o desenvolvimento pessoal acontece a cada passo do caminho, acontece a cada tomada de decisão, e, é consolidado a cada nova e melhor sensação que a pessoa vai tendo ao longo do tratamento.
Como pudemos perceber a medicina chinesa tem uma visão e prática holística, e, a meu ver não existe propriamente “esta ou aquela prática/ hábito da pessoa está errado”, o que existe sim é o momento em que é feito e a qualidade intrínseca do estímulo ou do que ingerimos ao nível alimentar, por exemplo.
Neste exemplo de alimentos tudo, na verdade, vai estar relacionado com a consciência com que me relaciono com a alimentação.
Uma palavra que começou a ser tabu na medicina natural seja Mtc, seja naturopatia, homeopatia, é a palavra Cura. Ora vamos falar um bocadinho sobre cura.
É um tema complexo e profundo, abrangente e como tal difícil de falar, mas por muito diferentes que sejam os pontos de vista sobre este assunto, há uma ideia que penso ser comum a todas as medicinas que é, o corpo tem os seus próprios mecanismos de cura, isto é real, não há qualquer subjetividade ou interpretação.
Quando alguém parte um braço o máximo que lhe é feito é engessar para facilitar o alinhamento do osso, porque a cura ou o processo de regeneração é feito pelo próprio organismo. Pode precisar de um suplemento vitamínico para facilitar a recuperação, mas o suplemento o que vai fazer é, apoiar o que já existe no corpo e o que já é ingerido pela alimentação, ele não leva nada de novo, leva sim potência.
Então, penso que é importante expandir esta ideia de que o corpo humano, o ser humano, tem dentro o que precisa para retornar ao equilíbrio, precisa sim dos estímulos adequados ás suas necessidades e da expansão da sua consciência.
No que respeita a esta questão de tratamento do corpo físico e desenvolvimento pessoal inerente há também uma questão importante, vamos chamar-lhe “Rótulos”.
Eu sinto que quando vou a um médico ou terapeuta apresento as minhas queixas e aguardo pelas questões que me vão ser colocadas e pela interpretação daquela pessoa, o meu objetivo é encontrar uma solução ou pelo menos que se abra um caminho para eu encontrar a solução para a questão que me levou ali. E, o meu foco vai para encontrar a solução, da mesma maneira enquanto terapeuta quando alguém vem ter comigo com uma queixa, faço as perguntas que preciso fazer para conseguir interpretar a situação da pessoa e depois aplico o meu conhecimento com o objetivo de facilitar o retorno ao conforto no seu corpo, facilitar aquela pessoa a encontrar uma solução para a sua questão.
Quando o corpo fala muitas vezes estamos demasiado ocupados com o nosso dia a dia para o ouvir, então como não ouvimos o corpo traz as dores ou os desconfortos, ou a insónia ou a enxaqueca, ou a dor muscular que não desaparece, etc. Os desconfortos que o corpo traz não são rótulos, são mensagens, são alertas. Estamos a entrar no desequilíbrio e o corpo está a avisar. Por isso é tão importante que quando temos uma dor, ou seja, o que for, procuremos ajuda, obviamente, na medicina que mais se adequar ao problema em questão, mas a seguir temos que fazer uma introspeção no sentido de compreender como chegamos ali, pois é assim que vamos encontrar o caminho para sair do ponto em que estamos. Tudo o que o médico, terapeuta ou técnico nos passar vai ser importante na recuperação, mas o que realmente nos vai ajudar a sair daquele ponto de desconforto é a tomada de consciência de como chegamos até ali pois sair dali vai implicar uma mudança de comportamento e só nós o pudemos fazer, nenhum médico ou terapeuta por melhor que seja nos pode ajudar se em vez de procurarmos a solução ficarmos agarrados ao rótulo que nos foi dado.
O diagnóstico serve para o enquadramento de sintomas e tratamento, não pode ser visto como algo que nos define enquanto indivíduos ou que nos acrescenta valor. Se for visto desta forma o que vai fazer é que vamos manter o problema.
Somos animais de hábitos, é natural e até saudável criar rotinas, mas os hábitos e as rotinas que temos aos 10 anos de idade, não podem ser iguais aos hábitos e ás rotinas de quando temos 25 anos ou 50. Os nossos gostos vão se alterando á medida que avançamos na vida, exatamente porque as nossas necessidades também se vão alterando, os nossos comportamentos emocionais naturalmente também se vão alterar e isso é saudável mostra que há um amadurecimento a acontecer, quando a mudança não acontece mostra que algo está errado e vão haver sinais e sintomas no corpo.

Madalena Guerreiro
Medicina Tradicional Chinesa
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2025
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Medicina Tradicional Chinesa
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2025
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)