Entrevista a Laurinda Alves
"Palavras que nos mudam"
Laurinda Alves, Jornalista e Comunicadora, fala aos Leitores da Revista Progredir do poder da comunicação e como todos podemos fazer a diferença no mundo.
Progredir: Quem é a Laurinda Alves? Fale-nos um pouco da sua história?
Laurinda Alves: Tenho 52 anos, sou mãe de um filho de 22 que é músico e está a estudar em Itália para ser Maestro, tenho a felicidade de ter os meus pais a morar comigo há quase 2 anos (e sou mesmo muito mais feliz por isso) e profissionalmente sinto-me uma pessoa muito privilegiada por poder realizar-me através daquilo que faço.
Comecei por trabalhar na RTP, para onde entrei aos 18 anos, por concurso público, quando estava no 1º ano da Universidade. Aos 30 anos decidi sair, porque nasceu o meu filho e eu queria ter mais tempo para ele. Fiquei freelancer e comecei a ser autora e apresentadora de programas de TV (Verdes Anos, Primeiros Anos, etc).
Em 1999 criei a revista XIS e durante quase 10 anos foi uma alegria fazer aquela revista com aquela equipa de sonho. Depois ficamos todos desempregados e começou um período difícil, erosivo e muito exigente, que obrigou a grandes transformações. Graças a Deus (literalmente falando, por ser uma pessoa de fé!), graças à minha família e amigos, nunca desisti de acreditar e fui fazendo o caminho até chegar à 'outra margem'. Mais do que uma travessia no deserto, penso que foi uma chegada a outra margem. Virei a minha vida 'ao contrário' e passei a dar aulas, o que foi coisa que sempre fiz ao longo da minha carreira de jornalista. Era convidada para dar aulas e conferências em universidades e escolas de todo o país, e na altura em que fiquei desempregada o que me salvou, foi ter reforçado o voluntariado (que também sempre fiz, desde que me conheço) e ter percebido que podia fazer o inverso: dar aulas e fazer jornalismo de forma mais pontual.
Fui para o INSEAD, em Fontainebleau, fazer um curso de empreendedorismo que me ajudou muito a dar esta volta na vida, e mudei radicalmente. Passei a dar aulas na Universidade Católica, a alunos de Mestrado de Economia e Gestão, e fui desafiada depois para criar uma cadeira de Comunicação, Liderança e Ética na Universidade Nova, também para os alunos de Economia e Gestão. É isso que faço agora e tenho 200 alunos por semestre. Adoro.
Agora sou também jornalista-entrevistadora no novo jornal Observador, onde criei uma secção nova que se chama Os Retratos da Laurinda e onde faço uma entrevista por dia a pessoas construtivas e inspiradoras. De restou sou católica praticante, faço retiros de silêncio todos os anos há 20 anos, pertenço a um grupo de oração (linha jesuítica) há 15 anos e este ano comecei a ser guia de um grupo de oração de jovens de 20 anos. Por tudo isto, considero-me uma pessoa mesmo muito privilegiada, que tem a sorte de conhecer incontáveis pessoas boas, bem-intencionadas, criativas e construtivas. Também por isso sou otimista, por conhecer muitas, muitas pessoas que fazem este mundo avançar e o deixam infinitamente melhor do que o encontraram. Mas ou realista e sei que temos que trabalhar muito para conseguir manter o espírito positivo...
Progredir: Como foi estar no nascimento da revista XIS?
Laurinda Alves: Criar uma revista do nada, inventar um conceito que não existia, foi um tempo de grande criatividade e de permanente desafio. Fiz a revista XIS com a minha irmã Catarina e juntas fomos capazes de a criar, de a 'vender' no sentido de encontrarmos pessoas para a apoiar e a fazer existir. Começamos com o Carlos Barbosa, no Correio da Manhã, e passados dois anos mudamos para o Público, onde a XIS existiu mais 7 anos.
Foi uma década extraordinária para todos nós, os que tivemos a sorte de poder contribuir para o coletivo com uma revista que ajudava a pensar e a pôr muita coisa em perspetiva. Não era uma revista ancorada nos factos nem nas notícias do dia, mas era uma publicação que partia desses mesmos factos e acontecimentos para uma reflexão maior. E porventura mais elevada e crítica. Era, acima de tudo, uma revista em contracorrente, pois apostava também nas boas notícias e na divulgação de boas práticas. Durante quase dez anos fizemos uma incrível cartografia de talentos... Foi um tempo muito feliz e o feedback que tínhamos era muito gratificante. Ainda hoje temos inúmeros ecos de leitores que eram completamente fiéis à XIS e o que é interessante é que o público sempre foi igualmente constituído por homens e mulheres.
Literalmente 'fifty-fifty'. de todas as idades e gerações, ainda por cima. Foi mais um grande privilégio poder realizar este sonho. Depois a XIS teve que acabar, porque já se desenhava esta grande crise, e embora isso tivesse sido doloroso para todos nós, mais tarde fui capaz de perceber que gurus contemporâneos como o Ram Charam têm muita razão quando falam da filosofia 'killing projects'. Só podemos evoluir e criar coisas novas se formos capazes de 'matar' (ou sair9 das coisas e rotinas antigas. E das nossas zonas de conforto.
Progredir: Como surge a comunicação na sua vida?
Laurinda Alves: Foi natural. Sempre soube que não gostava de Matemática e que não tinha o menor talento para áreas mais técnicas. Assim sendo, mesmo quando não sabia exatamente o que queria ser ou fazer, sabia sempre com muita precisão o que não queria ser nem fazer. Adorava ler e sempre tive boas notas a línguas e a Português. Acabei por fazer o 1º curso de Comunicação da Universidade Nova e foi o princípio de tudo. Ajudou imenso ter concorrido para a RTP quando ainda só tinha 17 anos. Faço anos em Dezembro e sempre andei um ano adiantada na escola. Aos 17 já estava no 1º ano da Universidade e saiu um anúncio no Expresso para a RTP. Um tio meu encorajou-me a concorrer e assim fiz. Entre 2 mil candidatos e uma sucessão de provas, consegui chegar ao 2º lugar. Foi incrível, nunca me passou pela cabeça, até porque tinha concorrido quase por acaso e por conselho do meu tio António. Como fiquei bem classificada, mas só tinha 17 anos, o presidente do júri do concurso comunicou-me no fim da entrevista e de todas as provas, que a RTP enquanto empresa pública não me podia contratar com 17 anos, mas... esperava por mim! Foi fabuloso e sinceramente confesso que foi o primeiro grande momento de confiança, em que senti que alguém apostava em mim e confiava em mim. Quando fiz 18 anos entrei e fiquei lá 12 anos seguidos.
Progredir: Quem é a Laurinda Alves? Fale-nos um pouco da sua história?
Laurinda Alves: Tenho 52 anos, sou mãe de um filho de 22 que é músico e está a estudar em Itália para ser Maestro, tenho a felicidade de ter os meus pais a morar comigo há quase 2 anos (e sou mesmo muito mais feliz por isso) e profissionalmente sinto-me uma pessoa muito privilegiada por poder realizar-me através daquilo que faço.
Comecei por trabalhar na RTP, para onde entrei aos 18 anos, por concurso público, quando estava no 1º ano da Universidade. Aos 30 anos decidi sair, porque nasceu o meu filho e eu queria ter mais tempo para ele. Fiquei freelancer e comecei a ser autora e apresentadora de programas de TV (Verdes Anos, Primeiros Anos, etc).
Em 1999 criei a revista XIS e durante quase 10 anos foi uma alegria fazer aquela revista com aquela equipa de sonho. Depois ficamos todos desempregados e começou um período difícil, erosivo e muito exigente, que obrigou a grandes transformações. Graças a Deus (literalmente falando, por ser uma pessoa de fé!), graças à minha família e amigos, nunca desisti de acreditar e fui fazendo o caminho até chegar à 'outra margem'. Mais do que uma travessia no deserto, penso que foi uma chegada a outra margem. Virei a minha vida 'ao contrário' e passei a dar aulas, o que foi coisa que sempre fiz ao longo da minha carreira de jornalista. Era convidada para dar aulas e conferências em universidades e escolas de todo o país, e na altura em que fiquei desempregada o que me salvou, foi ter reforçado o voluntariado (que também sempre fiz, desde que me conheço) e ter percebido que podia fazer o inverso: dar aulas e fazer jornalismo de forma mais pontual.
Fui para o INSEAD, em Fontainebleau, fazer um curso de empreendedorismo que me ajudou muito a dar esta volta na vida, e mudei radicalmente. Passei a dar aulas na Universidade Católica, a alunos de Mestrado de Economia e Gestão, e fui desafiada depois para criar uma cadeira de Comunicação, Liderança e Ética na Universidade Nova, também para os alunos de Economia e Gestão. É isso que faço agora e tenho 200 alunos por semestre. Adoro.
Agora sou também jornalista-entrevistadora no novo jornal Observador, onde criei uma secção nova que se chama Os Retratos da Laurinda e onde faço uma entrevista por dia a pessoas construtivas e inspiradoras. De restou sou católica praticante, faço retiros de silêncio todos os anos há 20 anos, pertenço a um grupo de oração (linha jesuítica) há 15 anos e este ano comecei a ser guia de um grupo de oração de jovens de 20 anos. Por tudo isto, considero-me uma pessoa mesmo muito privilegiada, que tem a sorte de conhecer incontáveis pessoas boas, bem-intencionadas, criativas e construtivas. Também por isso sou otimista, por conhecer muitas, muitas pessoas que fazem este mundo avançar e o deixam infinitamente melhor do que o encontraram. Mas ou realista e sei que temos que trabalhar muito para conseguir manter o espírito positivo...
Progredir: Como foi estar no nascimento da revista XIS?
Laurinda Alves: Criar uma revista do nada, inventar um conceito que não existia, foi um tempo de grande criatividade e de permanente desafio. Fiz a revista XIS com a minha irmã Catarina e juntas fomos capazes de a criar, de a 'vender' no sentido de encontrarmos pessoas para a apoiar e a fazer existir. Começamos com o Carlos Barbosa, no Correio da Manhã, e passados dois anos mudamos para o Público, onde a XIS existiu mais 7 anos.
Foi uma década extraordinária para todos nós, os que tivemos a sorte de poder contribuir para o coletivo com uma revista que ajudava a pensar e a pôr muita coisa em perspetiva. Não era uma revista ancorada nos factos nem nas notícias do dia, mas era uma publicação que partia desses mesmos factos e acontecimentos para uma reflexão maior. E porventura mais elevada e crítica. Era, acima de tudo, uma revista em contracorrente, pois apostava também nas boas notícias e na divulgação de boas práticas. Durante quase dez anos fizemos uma incrível cartografia de talentos... Foi um tempo muito feliz e o feedback que tínhamos era muito gratificante. Ainda hoje temos inúmeros ecos de leitores que eram completamente fiéis à XIS e o que é interessante é que o público sempre foi igualmente constituído por homens e mulheres.
Literalmente 'fifty-fifty'. de todas as idades e gerações, ainda por cima. Foi mais um grande privilégio poder realizar este sonho. Depois a XIS teve que acabar, porque já se desenhava esta grande crise, e embora isso tivesse sido doloroso para todos nós, mais tarde fui capaz de perceber que gurus contemporâneos como o Ram Charam têm muita razão quando falam da filosofia 'killing projects'. Só podemos evoluir e criar coisas novas se formos capazes de 'matar' (ou sair9 das coisas e rotinas antigas. E das nossas zonas de conforto.
Progredir: Como surge a comunicação na sua vida?
Laurinda Alves: Foi natural. Sempre soube que não gostava de Matemática e que não tinha o menor talento para áreas mais técnicas. Assim sendo, mesmo quando não sabia exatamente o que queria ser ou fazer, sabia sempre com muita precisão o que não queria ser nem fazer. Adorava ler e sempre tive boas notas a línguas e a Português. Acabei por fazer o 1º curso de Comunicação da Universidade Nova e foi o princípio de tudo. Ajudou imenso ter concorrido para a RTP quando ainda só tinha 17 anos. Faço anos em Dezembro e sempre andei um ano adiantada na escola. Aos 17 já estava no 1º ano da Universidade e saiu um anúncio no Expresso para a RTP. Um tio meu encorajou-me a concorrer e assim fiz. Entre 2 mil candidatos e uma sucessão de provas, consegui chegar ao 2º lugar. Foi incrível, nunca me passou pela cabeça, até porque tinha concorrido quase por acaso e por conselho do meu tio António. Como fiquei bem classificada, mas só tinha 17 anos, o presidente do júri do concurso comunicou-me no fim da entrevista e de todas as provas, que a RTP enquanto empresa pública não me podia contratar com 17 anos, mas... esperava por mim! Foi fabuloso e sinceramente confesso que foi o primeiro grande momento de confiança, em que senti que alguém apostava em mim e confiava em mim. Quando fiz 18 anos entrei e fiquei lá 12 anos seguidos.
Progredir: Como sente o poder da comunicação?
Laurinda Alves: É um grande poder e por isso temos que ser muito responsáveis e ter os critérios bem afinados. Há uma espécie de contra poder que pode sempre calibrar os excessos de poder dos comunicadores: a opinião pública. Todos nós podemos ligar ou desligar o botão da televisão, deste ou daquele canal, escolher a rádio que mais nos interessa e ler o que nos parece ter mais qualidade. Todos devíamos ter mais consciência deste poder da Opinião Pública e exercê-lo, até para conter os excessos de alguns Media.
Progredir: O que é para si a substancia da vida?
Laurinda Alves: A abertura de espírito, o não julgar os outros, não viver fechado e contribuir para o coletivo. Tudo isto combinado com amor e humor, mais o indispensável sentido crítico. Sem criticismos!
Laurinda Alves: É um grande poder e por isso temos que ser muito responsáveis e ter os critérios bem afinados. Há uma espécie de contra poder que pode sempre calibrar os excessos de poder dos comunicadores: a opinião pública. Todos nós podemos ligar ou desligar o botão da televisão, deste ou daquele canal, escolher a rádio que mais nos interessa e ler o que nos parece ter mais qualidade. Todos devíamos ter mais consciência deste poder da Opinião Pública e exercê-lo, até para conter os excessos de alguns Media.
Progredir: O que é para si a substancia da vida?
Laurinda Alves: A abertura de espírito, o não julgar os outros, não viver fechado e contribuir para o coletivo. Tudo isto combinado com amor e humor, mais o indispensável sentido crítico. Sem criticismos!
Progredir: O tema deste mês da revista Progredir é a magia, como a sente na sua vida?
Laurinda Alves: Que giro. Para mim magia é acordar e adormecer todos os dias com a certeza de ter comigo todos os que mais amo. Não sou muito dada a magias, truques, adivinhações e esoterismos, mas claro que acredito que há muita coisa que nunca saberemos ou conseguiremos decifrar. Prefiro falar em mistério do que em magia, porque o mistério não tem que ser descoberto, pode existir e levar-nos muito longe. Falo de mistério no sentido de tudo aquilo que nos transcende, seja bom ou mau. Falo do mistério da felicidade, da alegria, mas também do amor, da vida, da morte, de tudo aquilo que nos faz dar mergulhos em profundidade e saltos em altura...
Progredir: Conte-nos um segredo?
Laurinda Alves: Um segredo? Se o contar deixa de ser um segredo, não é?! Lembro-me de atrasar o passo na rua e nas escadas do prédio à chegada a casa, para poder ouvir o Martim tocar piano sem ele saber que eu fazia isso. Nem sei porque é que o fazia, pois ele tocava horas a fio, mesmo que eu estivesse em casa, mas era um prazer secreto. Claro que sei que gostavam que eu contasse outros segredos, mas esses ficam comigo. Pode ser?
Progredir: Uma mensagem para os nossos leitores?
Laurinda Alves: Escrevi recentemente no meu facebook que o Bem e o Mal são igualmente contagiantes, mas o Bem é infinitamente mais luminoso. Gostava de voltar a sublinhar esta verdade num tempo em que tudo nos divide, tudo nos fragmenta e magoa, sejam as guerras, as mortes dos inocentes, as decapitações, os ataques terroristas, os gestos impiedosos e sem sentido nem misericórdia. Gostava de sublinhar isto porque cada um de nós pode fazer a diferença no mundo. Tudo começa no coração de cada um, na atitude de cada um. O mundo muda porque nós mudamos.
Laurinda Alves
Laurinda Alves: Que giro. Para mim magia é acordar e adormecer todos os dias com a certeza de ter comigo todos os que mais amo. Não sou muito dada a magias, truques, adivinhações e esoterismos, mas claro que acredito que há muita coisa que nunca saberemos ou conseguiremos decifrar. Prefiro falar em mistério do que em magia, porque o mistério não tem que ser descoberto, pode existir e levar-nos muito longe. Falo de mistério no sentido de tudo aquilo que nos transcende, seja bom ou mau. Falo do mistério da felicidade, da alegria, mas também do amor, da vida, da morte, de tudo aquilo que nos faz dar mergulhos em profundidade e saltos em altura...
Progredir: Conte-nos um segredo?
Laurinda Alves: Um segredo? Se o contar deixa de ser um segredo, não é?! Lembro-me de atrasar o passo na rua e nas escadas do prédio à chegada a casa, para poder ouvir o Martim tocar piano sem ele saber que eu fazia isso. Nem sei porque é que o fazia, pois ele tocava horas a fio, mesmo que eu estivesse em casa, mas era um prazer secreto. Claro que sei que gostavam que eu contasse outros segredos, mas esses ficam comigo. Pode ser?
Progredir: Uma mensagem para os nossos leitores?
Laurinda Alves: Escrevi recentemente no meu facebook que o Bem e o Mal são igualmente contagiantes, mas o Bem é infinitamente mais luminoso. Gostava de voltar a sublinhar esta verdade num tempo em que tudo nos divide, tudo nos fragmenta e magoa, sejam as guerras, as mortes dos inocentes, as decapitações, os ataques terroristas, os gestos impiedosos e sem sentido nem misericórdia. Gostava de sublinhar isto porque cada um de nós pode fazer a diferença no mundo. Tudo começa no coração de cada um, na atitude de cada um. O mundo muda porque nós mudamos.
Laurinda Alves
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