Entrevista a Izabel Telles
“Os portugueses são médicos e enfermeiros espirituais, de Alma”
A partir de consultas feitas a dois mil portugueses, a terapeuta brasileira Izabel Telles acaba de lançar um livro que dedica ao povo português. “O Resgate da Consciência – O Livro da Esperança” revela as principais imagens que estão na mente desta amostra de portugueses. Numa conversa com a REVISTA PROGREDIR, a especialista em imagens mentais falou do seu trabalho e explicou a missão de Portugal. Entrevista por Sofia Frazoa e Fotos por Glória Aguiam
PROGREDIR: O que significa ser especialista em imagens mentais?
Izabel Telles: No meu caso, é um dom que tenho desde criança, em que via imagens que, na época, não sabia explicar. Mais tarde, estudei com um psiquiatra americano que me explicou que, realmente, era possível ver as imagens ou sonhar pelo outro, captar a forma como a imaginação daquela pessoa conta as suas emoções. E a mente é um território de uma criatividade ilimitada, onde não há tempo nem lógica. Foram muitos anos de trabalho e de estudos para conhecer profundamente a obra de Jung e para começar a perceber o que a mente estava a contar com aquelas imagens.
PROGREDIR: O que é que capta da mente das pessoas?
Izabel Telles: Em algumas pessoas captam-se as idealizações, sonhos, projeções, como gostariam que a sua vida fosse. Noutras, captam-se imagens ainda de aprisionamento, em que não conseguem sequer imaginar uma saída. São pessoas que, normalmente, estão em labirintos, fechadas em torres, dentro de porões, pessoas que não têm portas para sair porque, como a mente é literal, não faz julgamentos. Se dissermos que queríamos mudar a nossa vida, mas não sabemos como, a mente constrói uma imagem sem saída. É preciso que a pessoa tenha consciência que tudo o que fala vai criar, plasmar, transformar em imagens. Comparando com uma impressora, a mente vai fotografar tudo o que eu penso, peço, converso ou imagino. Depois, quando o cérebro achar que é altura de receber a informação, vai pedir essa referência e vai imprimi-la no nosso corpo, através das tintas, que são as nossas hormonas.
PROGREDIR: Mas é com base nas experiências que nos acontecem que depois criamos essas imagens ou, pelo contrário, as imagens são geradas por ideias pré-concebidas que, por sua vez, tornamos na nossa experiência?
Izabel Telles: As crianças nascem completamente virgens, não nascem neuróticas, depressivas ou a ver o mundo negro. Nascem limpas e são uma matriz onde vamos imprimir toda a experiência. É claro que quem acredita em vidas passadas vai dizer que já nascemos com uma carga genética que traz impressas essas tendências. Também é verdade. Tudo é verdade, tudo é possível. Mas quando essa criança, já no útero, começa a observar, sentir, ouvir um ambiente que, por exemplo, não é agradável, já vai percebendo e fazendo ligações de palavras/sentimentos, contactos/dor. Vai começar a imprimir este tipo de sentimento. E, quando nasce, vai registar isto tudo e vai fazer conexões. Por exemplo, se quando a janela bate a mãe chora, então quando bater a janela eu tenho de chorar. Não necessariamente! Mas a criança não se consegue abstrair porque é uma grande mente virgem onde o mundo vai pôr fotos e impressões. Depois disto se tornar automatizado é mais difícil desmanchar e torna-se repetitivo.
PROGREDIR: O que significa ser especialista em imagens mentais?
Izabel Telles: No meu caso, é um dom que tenho desde criança, em que via imagens que, na época, não sabia explicar. Mais tarde, estudei com um psiquiatra americano que me explicou que, realmente, era possível ver as imagens ou sonhar pelo outro, captar a forma como a imaginação daquela pessoa conta as suas emoções. E a mente é um território de uma criatividade ilimitada, onde não há tempo nem lógica. Foram muitos anos de trabalho e de estudos para conhecer profundamente a obra de Jung e para começar a perceber o que a mente estava a contar com aquelas imagens.
PROGREDIR: O que é que capta da mente das pessoas?
Izabel Telles: Em algumas pessoas captam-se as idealizações, sonhos, projeções, como gostariam que a sua vida fosse. Noutras, captam-se imagens ainda de aprisionamento, em que não conseguem sequer imaginar uma saída. São pessoas que, normalmente, estão em labirintos, fechadas em torres, dentro de porões, pessoas que não têm portas para sair porque, como a mente é literal, não faz julgamentos. Se dissermos que queríamos mudar a nossa vida, mas não sabemos como, a mente constrói uma imagem sem saída. É preciso que a pessoa tenha consciência que tudo o que fala vai criar, plasmar, transformar em imagens. Comparando com uma impressora, a mente vai fotografar tudo o que eu penso, peço, converso ou imagino. Depois, quando o cérebro achar que é altura de receber a informação, vai pedir essa referência e vai imprimi-la no nosso corpo, através das tintas, que são as nossas hormonas.
PROGREDIR: Mas é com base nas experiências que nos acontecem que depois criamos essas imagens ou, pelo contrário, as imagens são geradas por ideias pré-concebidas que, por sua vez, tornamos na nossa experiência?
Izabel Telles: As crianças nascem completamente virgens, não nascem neuróticas, depressivas ou a ver o mundo negro. Nascem limpas e são uma matriz onde vamos imprimir toda a experiência. É claro que quem acredita em vidas passadas vai dizer que já nascemos com uma carga genética que traz impressas essas tendências. Também é verdade. Tudo é verdade, tudo é possível. Mas quando essa criança, já no útero, começa a observar, sentir, ouvir um ambiente que, por exemplo, não é agradável, já vai percebendo e fazendo ligações de palavras/sentimentos, contactos/dor. Vai começar a imprimir este tipo de sentimento. E, quando nasce, vai registar isto tudo e vai fazer conexões. Por exemplo, se quando a janela bate a mãe chora, então quando bater a janela eu tenho de chorar. Não necessariamente! Mas a criança não se consegue abstrair porque é uma grande mente virgem onde o mundo vai pôr fotos e impressões. Depois disto se tornar automatizado é mais difícil desmanchar e torna-se repetitivo.
PROGREDIR: Repetimos comportamentos para imitar modelos de referência?
Izabel Telles: Estamos sempre a tentar responder a alguma coisa ou a alguém, nunca estamos a criar as nossas próprias imagens, o que Jung chamava da individuação. Quando eu conseguir ser um indivíduo que não é filho, mãe ou empregado de ninguém, então não estou conectado a nada e essas imagens deixam de me afetar. Começo até a dizer coisas do género: “isto não me pertence, é teu”.
PROGREDIR: Quando fala de nos conectarmos a algo tem a ver com a rede, a que também se refere no livro, à qual estamos de alguma forma ligados?
Izabel Telles: Isso é a grande mente. A grande mente, como eu a vejo, é uma rede enorme onde estamos todos nós, nozinhos. A informação passa pela rede e cada um vai captando e também vai formando a sua pequena rede de informações. Quando vejo notícias de uma guerra em tal lugar, essa notícia já me fez pensar como o jornalista que a noticiou. Será mesmo assim? Essa rede vai alimentando e tornando a população planetária mais ou menos pensante da mesma forma. Isso não é individuação, isso é alimentado pela televisão ou pelo que for. É o que nos querem fazer acreditar. E a grande luta é encontrar as minhas imagens originais. Quem sou eu?
PROGREDIR: Como é que conseguimos saber quem somos no meio de toda esta confusa rede e sendo fruto de uma educação?
Izabel Telles: O meu trabalho tem trazido essa resposta a muitas pessoas. Afinal, eu não sou esse robô que semeia, semeia, semeia e colhe, colhe, colhe! Não! Na verdade eu posso ser uma grande árvore que liga o céu e a terra e eu gosto de deslizar por aí, a minha conexão é outra. Concluir que não somos esse trabalhador incansável, que só produz, muda a vida de muitas pessoas.
PROGREDIR: Entra na mente das pessoas porque elas lhe “permitem” o acesso ou consegue entrar sempre que quer?
Izabel Telles: A primeira coisa que faço quando estou com as pessoas que me procuram é perguntar: “permite-me que entre na sua mente?”. Se a pessoa responder “sim”, tenho uma espécie de “contrato” com ela e entro. Mas posso, com certeza, sentir o que as pessoas sentem. Claro que sim. Sou uma esponja, uma conexão, um canal que está constantemente aberto.
Izabel Telles: Estamos sempre a tentar responder a alguma coisa ou a alguém, nunca estamos a criar as nossas próprias imagens, o que Jung chamava da individuação. Quando eu conseguir ser um indivíduo que não é filho, mãe ou empregado de ninguém, então não estou conectado a nada e essas imagens deixam de me afetar. Começo até a dizer coisas do género: “isto não me pertence, é teu”.
PROGREDIR: Quando fala de nos conectarmos a algo tem a ver com a rede, a que também se refere no livro, à qual estamos de alguma forma ligados?
Izabel Telles: Isso é a grande mente. A grande mente, como eu a vejo, é uma rede enorme onde estamos todos nós, nozinhos. A informação passa pela rede e cada um vai captando e também vai formando a sua pequena rede de informações. Quando vejo notícias de uma guerra em tal lugar, essa notícia já me fez pensar como o jornalista que a noticiou. Será mesmo assim? Essa rede vai alimentando e tornando a população planetária mais ou menos pensante da mesma forma. Isso não é individuação, isso é alimentado pela televisão ou pelo que for. É o que nos querem fazer acreditar. E a grande luta é encontrar as minhas imagens originais. Quem sou eu?
PROGREDIR: Como é que conseguimos saber quem somos no meio de toda esta confusa rede e sendo fruto de uma educação?
Izabel Telles: O meu trabalho tem trazido essa resposta a muitas pessoas. Afinal, eu não sou esse robô que semeia, semeia, semeia e colhe, colhe, colhe! Não! Na verdade eu posso ser uma grande árvore que liga o céu e a terra e eu gosto de deslizar por aí, a minha conexão é outra. Concluir que não somos esse trabalhador incansável, que só produz, muda a vida de muitas pessoas.
PROGREDIR: Entra na mente das pessoas porque elas lhe “permitem” o acesso ou consegue entrar sempre que quer?
Izabel Telles: A primeira coisa que faço quando estou com as pessoas que me procuram é perguntar: “permite-me que entre na sua mente?”. Se a pessoa responder “sim”, tenho uma espécie de “contrato” com ela e entro. Mas posso, com certeza, sentir o que as pessoas sentem. Claro que sim. Sou uma esponja, uma conexão, um canal que está constantemente aberto.
PROGREDIR: Há uma passagem no livro em que diz que “a mente denuncia no nosso comportamento imagens que estão construídas no campo da imaginação”. Imaginando a já referida prisão, como é que vamos reproduzi-la na nossa vida?
Izabel Telles: Com a doença, com um mal-estar. O que mais está presente no mundo inteiro é a pessoa não aguentar um ambiente de trabalho. A pessoa começa a ter problemas de joelhos, de artroses, dores na coluna, vive doente, dói-lhe a cabeça, não tem vontade de comer. O corpo, que é a impressão, está a denunciar isso. E a pessoa diz que prefere fica doente a entrar no local de trabalho. E começa a sentir-se mal, o corpo desregula todo. Mais tarde, vai ouvir do chefe qualquer coisa do género: “precisa de tirar umas férias!”. Não! Precisa de sair desse trabalho. Essa é a verdade. Mas a pessoa tem dívidas, compromissos, filhos para criar, não pode ir embora dali.
PROGREDIR: Como é que, tendo consciência dessas imagens mentais, a pessoa pode conseguir a transformação e a cura?
Izabel Telles: Em primeiro lugar, precisa de ter consciência dessas imagens, que de momento não tem. Vai culpar o chefe e torna-se na grande vítima, dificilmente se volta para si própria e diz “estou a criar uma prisão insuportável, vou ficar doente, este ambiente não é para mim”. Com o tempo, pedindo ajuda, indo ao psicólogo, de repente toma consciência e percebe as imagens que está a criar. “Estou presa dentro de um levador sem botões e sem porta. Não quero!” Pode começar a trabalhar essa imagem como a imagem de salvação. É uma coisa incrível, mas o povo português tem a imagem da salvação, por isso, o livro chama-se “O Resgate da Consciência”, porque o povo português cria o conflito, mas cria a salvação.
PROGREDIR: Por isso é que é, também, “O Livro da Esperança”?
Izabel Telles: “O Livro da Esperança” porque tem imagens que eles mesmos criaram de como sair. E é o único povo que, nas imagens, apresenta um anjo como salvação.
PROGREDIR: Por sermos muito católicos?
Izabel Telles: Aí sim, eu acredito numa genética do inconsciente coletivo. Quando ando por aqui vejo muito o anjo de Portugal. Quando vamos a Fátima sentimos a presença desse anjo na Cova da Iria. Tudo isso trouxe essa imagem para dentro da mente portuguesa. E essa imagem é igual a ajuda, milagre, salvação. Quando precisamos da salvação, o anjo aparece como imagem que salva.
PROGREDIR: Estas conclusões a que chegou foram feitas a partir de que amostra da população portuguesa?
Izabel Telles: Dois mil portugueses. Cada lâmina com imagens existente no livro só se torna lâmina se, em média, cem pessoas apresentaram na mente a mesma ideia. Há aqui lâminas que pertencem a 80 pessoas, outras a 110. Fizemos uma média de cem e essa imagem vira um ícone. É preciso referir que estamos a falar de uma amostra, uma possibilidade, não estamos a falar de todo o povo português.
Izabel Telles: Com a doença, com um mal-estar. O que mais está presente no mundo inteiro é a pessoa não aguentar um ambiente de trabalho. A pessoa começa a ter problemas de joelhos, de artroses, dores na coluna, vive doente, dói-lhe a cabeça, não tem vontade de comer. O corpo, que é a impressão, está a denunciar isso. E a pessoa diz que prefere fica doente a entrar no local de trabalho. E começa a sentir-se mal, o corpo desregula todo. Mais tarde, vai ouvir do chefe qualquer coisa do género: “precisa de tirar umas férias!”. Não! Precisa de sair desse trabalho. Essa é a verdade. Mas a pessoa tem dívidas, compromissos, filhos para criar, não pode ir embora dali.
PROGREDIR: Como é que, tendo consciência dessas imagens mentais, a pessoa pode conseguir a transformação e a cura?
Izabel Telles: Em primeiro lugar, precisa de ter consciência dessas imagens, que de momento não tem. Vai culpar o chefe e torna-se na grande vítima, dificilmente se volta para si própria e diz “estou a criar uma prisão insuportável, vou ficar doente, este ambiente não é para mim”. Com o tempo, pedindo ajuda, indo ao psicólogo, de repente toma consciência e percebe as imagens que está a criar. “Estou presa dentro de um levador sem botões e sem porta. Não quero!” Pode começar a trabalhar essa imagem como a imagem de salvação. É uma coisa incrível, mas o povo português tem a imagem da salvação, por isso, o livro chama-se “O Resgate da Consciência”, porque o povo português cria o conflito, mas cria a salvação.
PROGREDIR: Por isso é que é, também, “O Livro da Esperança”?
Izabel Telles: “O Livro da Esperança” porque tem imagens que eles mesmos criaram de como sair. E é o único povo que, nas imagens, apresenta um anjo como salvação.
PROGREDIR: Por sermos muito católicos?
Izabel Telles: Aí sim, eu acredito numa genética do inconsciente coletivo. Quando ando por aqui vejo muito o anjo de Portugal. Quando vamos a Fátima sentimos a presença desse anjo na Cova da Iria. Tudo isso trouxe essa imagem para dentro da mente portuguesa. E essa imagem é igual a ajuda, milagre, salvação. Quando precisamos da salvação, o anjo aparece como imagem que salva.
PROGREDIR: Estas conclusões a que chegou foram feitas a partir de que amostra da população portuguesa?
Izabel Telles: Dois mil portugueses. Cada lâmina com imagens existente no livro só se torna lâmina se, em média, cem pessoas apresentaram na mente a mesma ideia. Há aqui lâminas que pertencem a 80 pessoas, outras a 110. Fizemos uma média de cem e essa imagem vira um ícone. É preciso referir que estamos a falar de uma amostra, uma possibilidade, não estamos a falar de todo o povo português.
PROGREDIR: Que imagens encontrou na mente desses portugueses?
Izabel Telles: Em primeiro lugar, beleza. É uma mente poética, de imagens deslumbrantes, com a presença sempre de um mar, de um sol, de flores. É uma mente organizada, com resoluções muito criativas, mas é uma mente também de pessoas que sabem que o seu espaço é o mundo, mas não sabem como lá chegar. Então temos pessoas dentro de labirintos, a partir pedras, fechadas em túneis, a carregar fardos. A presença de fardos também é muito recorrente. É uma mente de pessoas isoladas, sozinhas, muitas. O sofrimento pelo amor é também uma coisa portuguesa.
PROGREDIR: Mais do que em outros países?
Izabel Telles: É lindo ver como as pessoas aqui AMAM. Esse amor romântico ainda está em Portugal. Não está em mais parte nenhuma do mundo. O amor e a dificuldade de concretizar essa comunicação. Porque a mulher portuguesa – repito, na amostragem pesquisada – quer construir o paraíso, o ideal. E os homens querem construir mais o status material, subir na carreira. Aí há um choque, às vezes, de cultura entre o que a mulher e o homem querem. Há uma possibilidade de vermos isso na mente. O que me encanta em Portugal é a inocência. Pessoas inocentes no sentido do amor, de acreditar. Nas minhas palestras em Nova Iorque perguntam-me onde é que vejo as imagens mais bonitas e eu digo que são as imagens dos portugueses. Porque a primeira pergunta que os portugueses me fazem no consultório é “qual é a minha missão?” Mais ninguém me pergunta isto.
PROGREDIR: Qual pode ser a missão dos portugueses?
Izabel Telles: A missão de Portugal, para a nossa amostra, para o que pesquisámos, é, sem dúvida nenhuma, o Mundo. A missão de ajudar os povos porque os portugueses são médicos e enfermeiros espirituais, de Alma. Não vieram ao mundo para usufruir da ganância financeira. Foi isso que gerou também esta crise. O português veio para descobrir novos mundos, mundos da alma, de ajudar os povos, de transformar o mundo num território inocente onde o amor existe. Mas ele foi torcido, de maneira a pensar que o amor não dá lucro e é mentira. Os portugueses para os portugueses foram-se torcendo, foram escondendo essa verdadeira vocação.
PROGREDIR: Quando diz que o português é solitário, é uma solidão auto-imposta ou forçada pelo exterior?
Izabel Telles: A solidão do português vem pela dificuldade de comunicação. Para se falar com o português tem de pensar se o pode ofender profundamente com o que disser, que para si pode não ter problema nenhum. É um jogo, o diálogo passa muito pela mente. E isso torna as relações difíceis, não podem ser espontâneas. Pode magoar alguém profundamente com uma brincadeira, então o diálogo passa pela mente, não sai direto do coração. A não ser para as pessoas muito simples que são, por isso, muito sábias.
Izabel Telles: Em primeiro lugar, beleza. É uma mente poética, de imagens deslumbrantes, com a presença sempre de um mar, de um sol, de flores. É uma mente organizada, com resoluções muito criativas, mas é uma mente também de pessoas que sabem que o seu espaço é o mundo, mas não sabem como lá chegar. Então temos pessoas dentro de labirintos, a partir pedras, fechadas em túneis, a carregar fardos. A presença de fardos também é muito recorrente. É uma mente de pessoas isoladas, sozinhas, muitas. O sofrimento pelo amor é também uma coisa portuguesa.
PROGREDIR: Mais do que em outros países?
Izabel Telles: É lindo ver como as pessoas aqui AMAM. Esse amor romântico ainda está em Portugal. Não está em mais parte nenhuma do mundo. O amor e a dificuldade de concretizar essa comunicação. Porque a mulher portuguesa – repito, na amostragem pesquisada – quer construir o paraíso, o ideal. E os homens querem construir mais o status material, subir na carreira. Aí há um choque, às vezes, de cultura entre o que a mulher e o homem querem. Há uma possibilidade de vermos isso na mente. O que me encanta em Portugal é a inocência. Pessoas inocentes no sentido do amor, de acreditar. Nas minhas palestras em Nova Iorque perguntam-me onde é que vejo as imagens mais bonitas e eu digo que são as imagens dos portugueses. Porque a primeira pergunta que os portugueses me fazem no consultório é “qual é a minha missão?” Mais ninguém me pergunta isto.
PROGREDIR: Qual pode ser a missão dos portugueses?
Izabel Telles: A missão de Portugal, para a nossa amostra, para o que pesquisámos, é, sem dúvida nenhuma, o Mundo. A missão de ajudar os povos porque os portugueses são médicos e enfermeiros espirituais, de Alma. Não vieram ao mundo para usufruir da ganância financeira. Foi isso que gerou também esta crise. O português veio para descobrir novos mundos, mundos da alma, de ajudar os povos, de transformar o mundo num território inocente onde o amor existe. Mas ele foi torcido, de maneira a pensar que o amor não dá lucro e é mentira. Os portugueses para os portugueses foram-se torcendo, foram escondendo essa verdadeira vocação.
PROGREDIR: Quando diz que o português é solitário, é uma solidão auto-imposta ou forçada pelo exterior?
Izabel Telles: A solidão do português vem pela dificuldade de comunicação. Para se falar com o português tem de pensar se o pode ofender profundamente com o que disser, que para si pode não ter problema nenhum. É um jogo, o diálogo passa muito pela mente. E isso torna as relações difíceis, não podem ser espontâneas. Pode magoar alguém profundamente com uma brincadeira, então o diálogo passa pela mente, não sai direto do coração. A não ser para as pessoas muito simples que são, por isso, muito sábias.
PROGREDIR: Esta crise que estamos todos a atravessar pode ser um convite a ir buscar esse lado curador?
Izabel Telles: Eu tenho a certeza que é. A crise em Portugal ainda vai a meio do caminho. Vamos ver mudanças incríveis aqui, dois a três anos de mudanças, com pessoas que vão embora. Vai haver uma renovação incrível. A crise vai apertar mais até que, num ponto, as pessoas digam “se já não sou aquela pessoa com o dinheiro no bolso, quem sou?” E é aí que vai descobrir quem é. E vai criar soluções para o mundo. Como alimentar o mundo que tem fome com pouco dinheiro e isso já acontece. Há um projeto neste país de recolha de sobras de restaurantes para dar a outras pessoas. É essa a verdadeira vocação de Portugal: usar a criatividade para ajudar o mundo a acreditar que pode existir colaboração, ajuda, tolerância, compaixão. Está tudo meio coberto por euros, como se houvesse uma alcatifa de euros sobre o país, mas isso não matou, lá no fundo, o amor pelo ser humano.
PROGREDIR: O português traz muita bagagem do passado?
Izabel Telles: Sim. Coisa que nós não temos, por exemplo, no Brasil.
PROGREDIR: O que está então na mente dos brasileiros?
Izabel Telles: São as mesmas coisas, mas contadas de uma outra maneira. As pessoas perdem um negócio, a saúde, um amor, estão derrotadas e não vêem saída. Vocês apresentam os pequenos sinais de salvação. Hoje, o Brasil também é um povo que não dorme, não sonha, anda ansioso, tudo tem hora marcada, tudo é para agora. Há raiva, é uma sociedade muito competitiva, com muito dever a cumprir, muitas contas para pagar e um trânsito enlouquecedor nas grandes cidades. E vai-se gerando um monstro que faz os brasileiros ficarem pequenos ao lado dele.
PROGREDIR: Uma vez que este livro é só lançado em Portugal, há alguma mensagem especial que gostasse de deixar aos portugueses?
Izabel Telles: Primeiro, quero agradecer às pessoas que se submeteram a esta amostra, confiaram e permitiram que este livro saísse. Gostaria muito que os portugueses pudessem olhar para as imagens do fundo do livro, que são as imagens de libertação, de salvação, de resolução. E que as deixassem trazer-lhes a verdadeira vocação do português, que é ser um povo universal, um povo que ajuda os povos, um povo que vem trazer para todos os povos essa experiência da inocência, da compaixão. Tirem esse manto de defesa que às vezes existe.
Izabel Telles: Eu tenho a certeza que é. A crise em Portugal ainda vai a meio do caminho. Vamos ver mudanças incríveis aqui, dois a três anos de mudanças, com pessoas que vão embora. Vai haver uma renovação incrível. A crise vai apertar mais até que, num ponto, as pessoas digam “se já não sou aquela pessoa com o dinheiro no bolso, quem sou?” E é aí que vai descobrir quem é. E vai criar soluções para o mundo. Como alimentar o mundo que tem fome com pouco dinheiro e isso já acontece. Há um projeto neste país de recolha de sobras de restaurantes para dar a outras pessoas. É essa a verdadeira vocação de Portugal: usar a criatividade para ajudar o mundo a acreditar que pode existir colaboração, ajuda, tolerância, compaixão. Está tudo meio coberto por euros, como se houvesse uma alcatifa de euros sobre o país, mas isso não matou, lá no fundo, o amor pelo ser humano.
PROGREDIR: O português traz muita bagagem do passado?
Izabel Telles: Sim. Coisa que nós não temos, por exemplo, no Brasil.
PROGREDIR: O que está então na mente dos brasileiros?
Izabel Telles: São as mesmas coisas, mas contadas de uma outra maneira. As pessoas perdem um negócio, a saúde, um amor, estão derrotadas e não vêem saída. Vocês apresentam os pequenos sinais de salvação. Hoje, o Brasil também é um povo que não dorme, não sonha, anda ansioso, tudo tem hora marcada, tudo é para agora. Há raiva, é uma sociedade muito competitiva, com muito dever a cumprir, muitas contas para pagar e um trânsito enlouquecedor nas grandes cidades. E vai-se gerando um monstro que faz os brasileiros ficarem pequenos ao lado dele.
PROGREDIR: Uma vez que este livro é só lançado em Portugal, há alguma mensagem especial que gostasse de deixar aos portugueses?
Izabel Telles: Primeiro, quero agradecer às pessoas que se submeteram a esta amostra, confiaram e permitiram que este livro saísse. Gostaria muito que os portugueses pudessem olhar para as imagens do fundo do livro, que são as imagens de libertação, de salvação, de resolução. E que as deixassem trazer-lhes a verdadeira vocação do português, que é ser um povo universal, um povo que ajuda os povos, um povo que vem trazer para todos os povos essa experiência da inocência, da compaixão. Tirem esse manto de defesa que às vezes existe.
FOTOGRAFIA POR GLÓRIA AGUIAM
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