Doulas: O que são, o que fazem, porque são importantes?
O momento do parto é vivido, hoje, de uma forma muito desempoderada pelas mulheres que, longo do tempo, perderam a capacidade em confiar nelas próprias e no seu corpo. A presença da Doula procura resgatar a essência feminina.
A palavra Doula vem do grego e significa “mulher que serve”. Há alguns anos atrás, o início e o fim da vida eram acompanhados, em casa, pelas mulheres. A figura masculina (médico e pai) no parto é uma introdução muito recente. As mulheres hoje precisam de um curso de preparação para o parto para entrarem em contato com algo muito seu que esqueceram: a sua sabedoria feminina.
Para perceber um bocadinho melhor o porquê desta perda basta analisar um bocadinho da história. É importante referir que não falamos de um duelo entre homens e mulheres, mas de dados históricos que aconteceram e que deram origem a um grande desequilíbrio do feminino. O momento do parto é vivido, hoje, de uma forma muito desempoderada pelas mulheres. Esta ausência da sabedoria feminina tem consequências para a mulher e para o bebé, hoje estudadas, e que é importante, à base destas evidências, e com uma nova consciência, equilibrar. Também é importante mencionar que quando falamos de feminino não falamos de homem e mulher, enquanto género, mas de energias com características específicas diferentes, sendo ambas muito importantes.
Gerar bebés era uma tarefa exclusiva das mulheres. Quem melhor que elas para compreender a sua fisiologia e as suas necessidades? O homem desconhecia de todo este processo. De onde vêm os bebés? Que milagre é este? Que poder é este que foi concedido às mulheres? Este mistério permaneceu assim durante algum tempo. Para que o homem pudesse, abarcar este conhecimento, participar e controlar, de alguma forma, à luz da ciência, foram sendo cometidas atrocidades. O medo do poder feminino levou a incursões como a caça às bruxas na Idade Média. A forma de parir mudou radicalmente. De que forma o homem, a ciência, teria de perceber o que se passa com o nascimento, com o parto? Perscrutando, penetrando invasivamente a mulher. Mudando a maneira inclusivamente de parir. Deitando a mulher numa marquesa de forma a conseguir analisar todo os mistérios não entendidos.
Pesquisando um pouco sobre a fisiologia e o processo natural de “dar à luz” e em como a cascata hormonal é um fator decisivo sobre este, é fácil perceber que as variáveis existentes num ambiente hospitalar, medicalizado, com muita luz, com muitos profissionais “cheios de boas intenções”, ao contrário de um ambiente tranquilo, com pouca luz, silencioso, respeitador da fisiologia hormonal da mulher, condicionam um parto medicalizado ou natural. Durante o trabalho de parto, o principal objetivo é reduzir a adrenalina e aumentar a oxitocina, visto que são duas hormonas antagonistas. A adrenalina, associada ao stress, induz a um parto medicalizado. O aumento de ocitocina natural, que implica a mulher sentir-se segura, tranquila, confiante, induz a um parto natural.
Com este passado escrito nos nossos genes, as mulheres, ao longo do tempo, perderam a capacidade em confiar nelas próprias e no seu corpo. Perderam o que as define como mulheres e estar com outras da mesma forma. Este é um processo muitas vezes inconsciente. Pode ser visível na forma como falamos da nossa menstruação, da nossa sexualidade, como falamos dos nossos corpos (não os aceitando como são e tentando enquadrá-los a um padrão masculinizado), na forma ciumenta e opressiva como falamos umas das outras.
Hoje, com um novo olhar sobre o passado e com novos dados, nova sabedoria, sabemos que é importante unir a ciência ao respeito pelo corpo da mulher, à intuição feminina e não ter medo dela. De quem é o parto? Da mulher? Dos profissionais de saúde?
Hoje a mulher tem um papel submisso e vê nos profissionais alguém que as vai proteger e curar. É importante equilibrar esta ideia. Os profissionais podem ter preocupações técnicas pertinentes mas é fulcral não esquecer o papel da mulher.
O que a doula faz então? A presença da Doula procura resgatar a essência feminina. Produz um clima de intimidade, carinho, afeto e, acima de tudo, segurança. A doula conhece e compreende a fisiologia do trabalho de parto. Acredita na mulher. Trabalha com a grávida todas as suas dúvidas, inquietações, medos. Fornece apoio emocional, físico e informação baseada em evidências científicas para que a mulher/casal possa escolher o que é melhor para si de forma consciente e empoderada. Apoia nas tomadas de decisão.
Quando a mulher acredita em si o que acontece é um processo natural, já estudado cientificamente e com dados estatisticamente comprovados. Vários estudos têm sido realizados que comprovam a importância do apoio das doulas (contribui para a redução de 50% nos índices de cesariana, redução de 25% na duração do trabalho de parto, redução de 40% no uso de ocitocina, redução de 40% no uso de fórceps, aumento no sucesso da amamentação, satisfação com a experiência do parto, maior interação entre a mãe e o bebé, redução da incidência da depressão pós-parto, entre outros) e a Organização Mundial de Saúde reconhece, também, o seu trabalho como muito importante.
Antes as mulheres apoiavam-se umas às outras. A presença da doula era nada mais do que a presença de outra(s) mulher(s). A grávida sentia-se empoderada e confiante. O mundo mudou e a industrialização do parto assim obrigou ao aparecimento e desenvolvimento deste trabalho (doulas) que nos vem relembrar a nossa essência e uni-la à ciência e ao conhecimento. A doula, antes mulher leiga, hoje está munida de novos saberes que une ao trabalho emocional e crescimento pessoal da mulher.
Todos conhecemos a equipa hospitalar que atende partos: um médico, uma ou mais enfermeiras, um anestesista e outros auxiliares. Neste ambiente centrado na tecnologia e no controlo das máquinas, onde e quem cuida do bem-estar físico e emocional da mulher? Perdeu- se o sagrado deste evento e cada vez mais se impõe a presença de uma acompanhante profissional que facilite todo o apoio emocional e físico à mulher que dá à luz.
Que benefícios traz uma doula para a equipa hospitalar? A doula contribui também para a diminuição da sua ansiedade, da pressa, dos receios e de todas as intervenções médicas daí decorrentes. Trás humanismo e tempo dedicado à expressão de emoções. Faz a ponte entre a ciência e o humanismo.
A presença da Doula ajuda a grávida a perceber qual a melhor altura para se dirigir ao hospital, evitando que essa deslocação se realize demasiado cedo (processo que pode desencadear a trilogia stress/tensão/medo).
A entrada no trabalho de parto franco e a chegada ao ponto de não retorno (a partir da meia dilatação) asseguram e consolidam a confiança da parturiente e da equipa médica. Optar por ter uma doula é, muito provavelmente, a decisão mais importante que uma mulher pode tomar durante a gravidez para tentar viver um parto humanizado.
A palavra Doula vem do grego e significa “mulher que serve”. Há alguns anos atrás, o início e o fim da vida eram acompanhados, em casa, pelas mulheres. A figura masculina (médico e pai) no parto é uma introdução muito recente. As mulheres hoje precisam de um curso de preparação para o parto para entrarem em contato com algo muito seu que esqueceram: a sua sabedoria feminina.
Para perceber um bocadinho melhor o porquê desta perda basta analisar um bocadinho da história. É importante referir que não falamos de um duelo entre homens e mulheres, mas de dados históricos que aconteceram e que deram origem a um grande desequilíbrio do feminino. O momento do parto é vivido, hoje, de uma forma muito desempoderada pelas mulheres. Esta ausência da sabedoria feminina tem consequências para a mulher e para o bebé, hoje estudadas, e que é importante, à base destas evidências, e com uma nova consciência, equilibrar. Também é importante mencionar que quando falamos de feminino não falamos de homem e mulher, enquanto género, mas de energias com características específicas diferentes, sendo ambas muito importantes.
Gerar bebés era uma tarefa exclusiva das mulheres. Quem melhor que elas para compreender a sua fisiologia e as suas necessidades? O homem desconhecia de todo este processo. De onde vêm os bebés? Que milagre é este? Que poder é este que foi concedido às mulheres? Este mistério permaneceu assim durante algum tempo. Para que o homem pudesse, abarcar este conhecimento, participar e controlar, de alguma forma, à luz da ciência, foram sendo cometidas atrocidades. O medo do poder feminino levou a incursões como a caça às bruxas na Idade Média. A forma de parir mudou radicalmente. De que forma o homem, a ciência, teria de perceber o que se passa com o nascimento, com o parto? Perscrutando, penetrando invasivamente a mulher. Mudando a maneira inclusivamente de parir. Deitando a mulher numa marquesa de forma a conseguir analisar todo os mistérios não entendidos.
Pesquisando um pouco sobre a fisiologia e o processo natural de “dar à luz” e em como a cascata hormonal é um fator decisivo sobre este, é fácil perceber que as variáveis existentes num ambiente hospitalar, medicalizado, com muita luz, com muitos profissionais “cheios de boas intenções”, ao contrário de um ambiente tranquilo, com pouca luz, silencioso, respeitador da fisiologia hormonal da mulher, condicionam um parto medicalizado ou natural. Durante o trabalho de parto, o principal objetivo é reduzir a adrenalina e aumentar a oxitocina, visto que são duas hormonas antagonistas. A adrenalina, associada ao stress, induz a um parto medicalizado. O aumento de ocitocina natural, que implica a mulher sentir-se segura, tranquila, confiante, induz a um parto natural.
Com este passado escrito nos nossos genes, as mulheres, ao longo do tempo, perderam a capacidade em confiar nelas próprias e no seu corpo. Perderam o que as define como mulheres e estar com outras da mesma forma. Este é um processo muitas vezes inconsciente. Pode ser visível na forma como falamos da nossa menstruação, da nossa sexualidade, como falamos dos nossos corpos (não os aceitando como são e tentando enquadrá-los a um padrão masculinizado), na forma ciumenta e opressiva como falamos umas das outras.
Hoje, com um novo olhar sobre o passado e com novos dados, nova sabedoria, sabemos que é importante unir a ciência ao respeito pelo corpo da mulher, à intuição feminina e não ter medo dela. De quem é o parto? Da mulher? Dos profissionais de saúde?
Hoje a mulher tem um papel submisso e vê nos profissionais alguém que as vai proteger e curar. É importante equilibrar esta ideia. Os profissionais podem ter preocupações técnicas pertinentes mas é fulcral não esquecer o papel da mulher.
O que a doula faz então? A presença da Doula procura resgatar a essência feminina. Produz um clima de intimidade, carinho, afeto e, acima de tudo, segurança. A doula conhece e compreende a fisiologia do trabalho de parto. Acredita na mulher. Trabalha com a grávida todas as suas dúvidas, inquietações, medos. Fornece apoio emocional, físico e informação baseada em evidências científicas para que a mulher/casal possa escolher o que é melhor para si de forma consciente e empoderada. Apoia nas tomadas de decisão.
Quando a mulher acredita em si o que acontece é um processo natural, já estudado cientificamente e com dados estatisticamente comprovados. Vários estudos têm sido realizados que comprovam a importância do apoio das doulas (contribui para a redução de 50% nos índices de cesariana, redução de 25% na duração do trabalho de parto, redução de 40% no uso de ocitocina, redução de 40% no uso de fórceps, aumento no sucesso da amamentação, satisfação com a experiência do parto, maior interação entre a mãe e o bebé, redução da incidência da depressão pós-parto, entre outros) e a Organização Mundial de Saúde reconhece, também, o seu trabalho como muito importante.
Antes as mulheres apoiavam-se umas às outras. A presença da doula era nada mais do que a presença de outra(s) mulher(s). A grávida sentia-se empoderada e confiante. O mundo mudou e a industrialização do parto assim obrigou ao aparecimento e desenvolvimento deste trabalho (doulas) que nos vem relembrar a nossa essência e uni-la à ciência e ao conhecimento. A doula, antes mulher leiga, hoje está munida de novos saberes que une ao trabalho emocional e crescimento pessoal da mulher.
Todos conhecemos a equipa hospitalar que atende partos: um médico, uma ou mais enfermeiras, um anestesista e outros auxiliares. Neste ambiente centrado na tecnologia e no controlo das máquinas, onde e quem cuida do bem-estar físico e emocional da mulher? Perdeu- se o sagrado deste evento e cada vez mais se impõe a presença de uma acompanhante profissional que facilite todo o apoio emocional e físico à mulher que dá à luz.
Que benefícios traz uma doula para a equipa hospitalar? A doula contribui também para a diminuição da sua ansiedade, da pressa, dos receios e de todas as intervenções médicas daí decorrentes. Trás humanismo e tempo dedicado à expressão de emoções. Faz a ponte entre a ciência e o humanismo.
A presença da Doula ajuda a grávida a perceber qual a melhor altura para se dirigir ao hospital, evitando que essa deslocação se realize demasiado cedo (processo que pode desencadear a trilogia stress/tensão/medo).
A entrada no trabalho de parto franco e a chegada ao ponto de não retorno (a partir da meia dilatação) asseguram e consolidam a confiança da parturiente e da equipa médica. Optar por ter uma doula é, muito provavelmente, a decisão mais importante que uma mulher pode tomar durante a gravidez para tentar viver um parto humanizado.
Bibliografia:
https://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/
https://www.cochrane.org/CD003766/PREG_continuous-support-women-during-childbirth?fbclid=IwAR3ihHMD84EySlWibFkidIuGArF1t0iMbZ_fJgeWGnjQyREtjJvWelnIf78
Klaus M, Kennel J. “Mothering the mother: how a doula can help you to have a shorter, easier and healthier birth.” Hardcover.
Sosa R, Kennel JH, Klaus MH, Roberteson S, Urrutia J. “The effects of a supportive companion on perinatal problems, length of labor, and mother-infant interaction.” N Engl J Med 1980 Sept.; 303:597-600.
Landry SH, et al. “Effects of Doula support during labor on mother-infant interaction at two months.” Pediatric Res, 43:13A, 1998.
https://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/
https://www.cochrane.org/CD003766/PREG_continuous-support-women-during-childbirth?fbclid=IwAR3ihHMD84EySlWibFkidIuGArF1t0iMbZ_fJgeWGnjQyREtjJvWelnIf78
Klaus M, Kennel J. “Mothering the mother: how a doula can help you to have a shorter, easier and healthier birth.” Hardcover.
Sosa R, Kennel JH, Klaus MH, Roberteson S, Urrutia J. “The effects of a supportive companion on perinatal problems, length of labor, and mother-infant interaction.” N Engl J Med 1980 Sept.; 303:597-600.
Landry SH, et al. “Effects of Doula support during labor on mother-infant interaction at two months.” Pediatric Res, 43:13A, 1998.
ANA CATARINA INFANTE MULHER, ENFERMEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS, DOULA, TERAPEUTA DE REFLEXOLOGIA [email protected] in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2018 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |