in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2018
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Gosto de me referir a este processo em que pensamentos e sentimentos se manifestam quase em simultâneo, como um movimento único, iniciado ao nível do cérebro, muitas vezes comparado a uma moeda com as duas faces, em que neste caso apenas experienciamos a face do sentimento. Para uma melhor compreensão do mesmo, vou descrever o movimento como o de um programa existente no cérebro, onde este funcionaria como um computador. A raiva faria então parte desse programa, que como qualquer outro programa, é ativado em determinadas condições pré-definidas, e vista, como uma resposta necessária sempre que essas condições estão presentes. Por sua vez, uma vez aceites, os programas tornam-se respostas automáticas e quase que invisíveis para o utilizador. Para cada pessoa, as condições vão ser diferentes, o que fará com que cada uma ative o programa em momentos diferentes e com intensidades distintas. Para mim, uma dessas condições pode ser a que ninguém me pode tratar mal. Na presença de tal condição, a raiva seria uma resposta aceitável assim como todas as suas consequências. Como o leitor pode imaginar, se aceitarmos que todos os seres humanos podem manifestar raiva na presença de tais condições, os sete biliões de pessoas que existem neste mundo, estão neste momento a experienciar as consequências destes atos inconscientes.
Outro problema de um programa, é que se continuar a ser alimentado (as condições mantidas), a resposta continua a ser a mesma. Por exemplo, se eu continuar a pensar que fui mal tratado e que isso é algo inadmissível, mais raiva é libertada e o programa continuará sem um fim á vista, até que as condições deixem de estar presentes.
Como podemos nós parar tal movimento/programa?
É óbvio que teríamos uma vida melhor e por consequência um mundo melhor, se o nosso computador não tivesse este programa, ou se o utilizador soubesse mais sobre como o programa funciona para ter um melhor controlo sobre o mesmo.
Não serviria de nada aprendermos técnicas de gestão de raiva porque esta uma vez iniciada, tem nas suas reações fisiológicas (libertação de determinadas hormonas do stress), uma resposta temporal expectável, com pouca ou nenhuma possibilidade de a interromper. Assim, parece-me óbvio que a melhor solução passa realmente pela prevenção, evitar que a raiva seja uma opção.
Também não me parece que seja possível retirar a raiva do programa porque ao que parece, culturalmente propagámos esta resposta como algo de essencial e aceite por quase todas as sociedades do mundo atual.
Parece-me assim crucial que para saber-mos mais sobre o programa temos de o observar em ação. Para tal, é preciso suspendermos as condições que deram origem a sua aceitação automática.
Como suspendo eu as condições que de certa forma foram heranças culturais ou frutos da educação e das experiências de vida até então?
A resposta está, no meu ver, nos valores individuais e coletivos, que por sua vez se tornaram nas condições utilizadas por estes programas. Ao atribuirmos importância a esses valores, o programa define a resposta adequada e para alguns a raiva será a escolhida uma vez que o próprio sistema pode estar em risco.
Se eu não tiver valores, não tenho condições, e assim o programa não pode operar de uma forma automática e vai ter de recorrer ao utilizador sempre que faltarem tais elementos para que o programa possa progredir.
Ao colocar esta dependência, criamos um processo mais coerente, com informações atualizadas em tempo real, quando tudo está realmente a acontecer, em vez de condições pré-definidas sobre o que poderia estar a acontecer. Isto permite também que a raiva não seja totalmente eliminada, mas ainda possa ser opção numa situação de emergência onde tal força/resposta seja necessária para a nossa sobrevivência.
Deixando a metáfora do computador e do programa de lado, esta mudança de paradigma, permitirá ao leitor estar mais consciente de como este processo realmente funciona, e assim mais presente no momento de perceção/decisão.
Viver neste modo de suspensão, implica confiar menos no conhecimento acumulado (que acaba por se transformar em crenças e valores como referido acima) e recorrer mais e mais, a uma intuição isenta de julgamentos e preconceitos, uma intuição em tempo real. A importância é questionada aqui também em tempo real consoante a necessidade que a situação exige.
Nesta condição, o ser humano caminha para um estilo de vida equilibrado, harmonioso, alinhado com aquilo que está realmente a acontecer. Passa também a ser mais perspicaz, empático e menos uma máquina de respostas programadas.
Uma vida sem raiva é possível e até bastante acessível, desde que esteja preparado para abdicar de certos valores pessoais, de focar-se mais no bem- estar comum, e assim, estar mais presente e conectado com a Vida.
Eu decidi viver sem raiva por um Mundo melhor, e o leitor, está preparado?
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in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2018
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