Por Adolfo Leitão Carvalho
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2023
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Assim, o pensamento que sempre ecoou pela minha consciência foi: Como fazer para parar de me importar com o que os outros pensam? Será isso possível?
Comecemos com factos: no reino animal, comparativamente com outros mamíferos, os seres humanos são animais fracos, pequenos e lentos. Quem se considerar um exímio nadador, que faça uma competição com um golfinho e logo verá quem nada melhor; quem achar que sabe escalar bem, ponha-se lado a lado com um chimpanzé e prepare-se para a derrota; quem pensar que é um atleta veloz porque ganhou a prova de corrida de velocidade 100 metros de sprint, que experimente a mesma façanha ao lado de uma gazela ou uma chita. Não há como negar, o ser humano, como animal que coexiste com outros animais no planeta Terra, é mesmo um animal lento, pequeno e fraco. Até os dentes são pouco afiados e, por isso, arranjaram formas de tornar os alimentos mais moles e tenros, cozinhando-os.
Mas há algo que distingue os seres humanos de uma maneira notável e que os torna superiores aos outros animais: a sua inteligência.
E a inteligência evoluiu, pois os seres humanos são criaturas muito sociáveis. Esta inteligência e capacidade de socializar foi o que permitiu esta espécie sobreviver tanto tempo. Usando a inteligência e pertencendo a um grupo, o animal humano garantiu, assim, que não se tornasse extinto. Desde há milhares de anos que se descobriu que viver em cavernas e em grupo estaríamos mais protegidos.
Ora, o cérebro humano, segundo o Neurocientista Paul MacLean (1913 -2007), é constituído por três tipos de cérebro: o cérebro reptiliano (a nossa consciência irracional); o cérebro límbico, que é o dos mamíferos, (a nossa consciência emocional) e o neocórtex, (a nossa consciência racional). Este conceito tem o nome de cérebro Trino e foi desenvolvido em 1970, tendo sido validado pela comunidade científica na década de 90.
O cérebro reptiliano é o responsável pelos nossos instintos animais e pouca evolução sofreu desde a Era das cavernas. Por isso é que, na Era moderna, mesmo que não se precise de estar com medo de sair de casa e encontrar um leão que nos ameace a vida, este tipo de cérebro quer continuar a proteger a espécie humana. Daí a necessidade de se inserir num grupo para se sentir mais protegido.
No passado longínquo, vivia-se em tribos, pequenas ou grandes. E caso um indivíduo da tribo, através de comportamentos dissonantes e contra as regras, colocasse em perigo de vida os outros elementos da tribo, seria expulso. E quem fosse expulso ficaria sozinho. E sozinho não sobreviveria neste mundo cheio de perigos. Por esta razão é que o nosso cérebro, ainda nos tempos modernos, associa rejeição a uma pessoa que pensa e age de forma diferente do seu grupo de pertença. E rejeição é igual a morte.
É o medo de sermos rejeitados que está na origem da importância que se dá ao que os outros pensam. Este facto torna as pessoas tão propensas ao que os outros pensam acerca delas, reagindo com vergonha e medo irracional. Por isso, estar pouco importado com o que os outros pensam acerca de nós é uma tarefa tão difícil, pois está programado profundamente no nosso sistema nervoso.
No entanto, há uma forma de contornar esta programação reptiliana sem ser preciso apagar a necessidade de pertença ao grupo.
Primeiro é preciso perceber conscientemente que, nos dias de hoje, mesmo que sejamos rejeitados de um grupo no nosso ambiente de trabalho ou académico, isso não quer dizer que vamos morrer. Já não vivemos na selva. Não estamos em perigo de morte só porque fomos excluídos.
Em segundo lugar, temos a possibilidade de escolher a que grupo queremos pertencer. Já não vivemos em tribos, por isso se sairmos de um determinado grupo, podemos escolher outro conjunto de pessoas com quem nos identificamos e respeitamos. Escolher uma tribo melhor.
Por último, quando temos algo mais importante em que nos focar, como um propósito maior, o que os outros pensam torna-se pouco relevante. Por exemplo, imagine que você é a única pessoa que sabe que existe uma bomba numa escola e que vai explodir dentro de 10 minutos. Ninguém mais sabe, só você.
Pensa duas vezes se vai fazer alguma coisa? Ou vai entrar na escola aos berros a tentar fazer toda a gente sair antes que a bomba exploda? Toda a gente vai estar a olhar para si a pensar que é maluco(a), mas isso não tem importância nenhuma, porque o mais importante é salvar as pessoas. E, no final, mesmo quando lhe chamarem herói ou heroína porque salvou todas aquelas pessoas, nem isso é tão importante quanto aquilo que fez. Não interessa se pensaram que é doido(a) ou herói/heroína.
No contexto profissional, viver melhor passa por saber viver com os outros e com o que os outros pensam, mas mais importante ainda passa por fazer aquilo que Píndaro, um poeta grego, ficou conhecido por dizer: “Sê quem és.” Seja autêntico. Seja original. Seja.
LICENCIADO EM EDUCAÇÃO, PROFESSOR, CERTIFICADO EM HIPNOSE, ESPECIALIZADO EM ANSIEDADE, MEDOS E FOBIAS, AUTOR, ESCRITOR, FORMADOR E PALESTRANTE. VICE-PRESIDENTE DA DIREÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HIPNOSE CLÍNICA E HIPNOANÁLISE (APHCH). CRIADOR E AUTOR DO BLOG: www.desdeointerior.com
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2023
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