Por Inês Teixeira de Matos
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2023
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
As celebrações, mais ou menos tradicionais, são essenciais nas sociedades humanas e, mais concretamente na sociedade ocidental que nos é mais próxima. Desde as celebrações mais pessoais, como aniversários, às celebrações mais abrangentes à maioria da sociedade como o Natal ou a Passagem de Ano. E será que estes momentos são meros acontecimentos ou têm também um papel na nossa saúde, nomeadamente mental?
O ser humano é um ser social, isto é, necessita de comunicação e interação com o outro como fator importante para uma saúde equilibrada, o que tem impacto também na saúde física. Não há muito tempo, na pandemia, os momentos de confinamento foram bastante clarificadores do quanto precisamos de contacto com o outro e do quanto precisamos que este contacto seja também físico. Vimo-nos privados do contacto com o outro, da possibilidade de comunicar e interagir presencialmente, com toque e o número de depressões e perturbações de ansiedade aumentou drasticamente. Segundo a OMS, após um ano de pandemia, o número de pessoas com estas perturbações aumentou mais de 25% em todo o mundo. As celebrações, ou ficaram reduzidas em dimensão, ou realizaram-se à distância e aquilo que, talvez numa fase inicial até poderia parecer divertido pela novidade, as famosas festas por zoom, rapidamente se tornou desinteressante e até causador de alguma tristeza pelo facto de a interação e as celebrações estarem reduzidas àquela versão acética e “fria”. Mas, nem durante essa fase, abandonámos as celebrações. Continuámos a organizar festas de anos, batizados, casamentos, almoços e jantares (virtuais). E ainda bem!
As celebrações são momentos de comemoração entre os seres humanos. São momentos essenciais e estruturantes das nossas vidas em que não só vamos marcando os momentos significativos (maiores ou menores) das nossas vidas, como também estabelecemos e fortalecemos os laços com aqueles que são significativos para nós. Por exemplo, ao celebrarmos todos os anos o nosso aniversário, é uma forma de estruturamos temporalmente a nossa vida, de organizar acontecimentos, de fechar um capítulo e iniciar outro, de marcar a passagem do tempo e, quanto mais utilizarmos cada um desses momentos de celebração para refletir sobre o que eles significam, mais vão contribuir para a nossa organização mental e saúde psicológica. Por outro lado, quando celebramos o nosso aniversário e convidamos a nossa família e amigos para estarem conosco é uma oportunidade para lhes dizermos mais uma vez (e nunca é demais) que gostamos deles e sentirmos também o amor deles por nós, fortalecendo laços e, claro está aumentando os nossos neurotransmissores da felicidade e bem-estar: serotonina, oxitocina e dopamina. Importa também que estes momentos sejam agradáveis para nós e não momentos de tensão ou com atividades em que não temos prazer, caso contrário não vamos ter esta sensação de bem-estar.
Então festejar faz bem à saúde? Faz sim! As festas são essenciais na nossa vida, quer sejam festas com maior significado pessoal ou social, quer sejam meros convívios como por exemplo uma festa de Verão, como é tão habitual nesta época. Como em tudo na vida, importa termos equilíbrio e importa sabermos tirar o melhor de cada situação. Se vivermos maioritariamente “em festa”, como qualquer excesso, será prejudicial para a nossa saúde. Não será bom para a nossa saúde física porque muito provavelmente irá entrar em conflito com as nossas horas de sono e descanso, irá impedir que tenhamos uma alimentação saudável e regular e poderá levar ao consumo de algumas substâncias menos boas para a saúde como álcool, muito frequente em celebrações, embora não seja, claro, necessário para estas acontecerem. Ao nível da saúde mental, se as festas forem a rotina, a falta de sono, o excesso de estímulos sonoros, a falta de ambientes tranquilos e o consumo de álcool também levarão a um maior cansaço psicológico, maior desorganização mental, menor desempenho cognitivo e menos tempo dedicado àquilo que também são os nossos objetivos nas restantes áreas de vida (e.g. trabalho, família, desenvolvimento pessoal). Assim, para que tenhamos uma boa saúde, quer mental quer física, é importante festejarmos a vida, as conquistas, aqueles que nos são queridos e celebrarmos o tempo com a nossa família e amigos.
Estimula a nossa sensação de bem-estar e felicidade que depois terá implicações no funcionamento do nosso organismo a todos os níveis, mas, também precisamos da calma, da tranquilidade, da organização e da rotina para que esta boa saúde aconteça. Aliás, só poderemos reconhecer e tirar verdadeiro partido de um momento de maior festa, excitação, libertação, alegria, se tivermos também momentos de maior calma, rotina, organização, controlo e estabilidade, a saúde, como sempre, está no equilíbrio!
PSICÓLOGA EDUCACIONAL NA ÁREA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E ATUALMENTE NA PROMOÇÃO DE RESILIÊNCIA E BEM-ESTAR EM CONTEXTO ORGANIZACIONAL
[email protected]
Linkedin: @inestmatospe
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2023
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