Por Joaquim Caeiro
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2013
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Assombrada por um sistema politico associado ao comunismo, Cuba viveu anos e anos sujeita ao domínio de uma única ideia e comportamento. Se por um lado a teoria defendia a partilha e igualdade, por outro lado, o mecanismo de controlo criado por aqueles que descobriram a forma como manipular e exercer poder sobre os outros, criava riquezas escondidas e estilos de vida duvidosos. Ao longo dos tempos o povo cubano, convencido do seu destino, entregou-se e adaptou-se, ao mesmo tempo que, sem saber faria ressurgir a lembrança mais básica da vida – ser, viver e existir! Enquanto países que transpiravam evolução económica e estilos de vida diversificados, Cuba remeteu-se a si mesma, entregando-se a uma caminhada única e exemplar, do ponto de vista de subsistência e criação de estratégias naturais e disponíveis para que o mais importante tivesse continuidade – VIVER. Tudo isso e o que envolve a vivência diária, associado ao desapego e à necessidade básica de viver, fez com que este povo se torna-se autêntico, fiel a ele mesmo e natural à sua própria essência, afinal de contas nada mais havia a perder! E assim encontramos em Cuba – a naturalidade do ser associada à longevidade e estilo de vida saudável. Parecendo um paradoxo, a verdade é que esta realidade nos ajuda a catapultar o que somos – NÒS MESMOS!
A maior fronteira que nos separa da possibilidade ‘SER’ é a crença de que temos de fazer algo para isso acontecer! Porque na verdade, façamos o que fizermos já somos e sempre seremos nós mesmos!
Quem poderia imaginar que do outro lado do oceano atlântico existiam seres que faziam ressoar o que durante a maior parte da vida escondemos ou rejeitamos demonstrar? Quem poderia imaginar que a naturalidade com que amam incondicionalmente, fizesse parte da sua forma de estar e ser? Naturalmente uma experiência é uma experiência e todos somos humanos, construídos e em manifesto do que aprendemos e vivenciámos. Palavras são sempre muito pouco para descrever o que o coração manifesta.
Um Retorno a Casa
Era noite. O cheiro único, a temperatura diferente, muito calor e uma sensação de alerta. Tudo parecia familiar e a sensação foi como se regressasse a casa. Acompanhado de um amigo, irmão e companheiro de vida, cujas raízes verdadeiras são cubanas, observávamos num misto de emoções, em que, se por um lado sentíamos o calor do reconhecimento, por outro o susto por tudo ser tão verdadeiramente real. Esperávamos a família que vinha de casa, do campo, que ficava a 200km de Havana. Após termos passado o controle da guarda cubana e termos sido obrigados a abrir as malas e a deixar algumas coisas por lá, as emoções estavam à flor da pele. O olhar procura intuitivamente uma identificação com algo ou alguém e eis que observamos uma senhora com alguma idade, no seu vestido de domingo, rosa choque e estilo de quem sai uma vez por ano de casa a dirigir-se a nós, abrindo os braços e chamando ‘Pipoooo’… (diminutivo de filho) … era a mãe de quem me acompanhava. De seguida estende os braços partilha o amor … o verdadeiro amor desapegado de qualquer interesse ou intenção. As lágrimas correram pelo rosto e seguimos em direção ao campo. Ao chegar a família inteira esperava-nos e num misto de gritaria celebrativa e abraços e beijos, fomos recebidos de forma igual. No dia seguinte, ao acordar, um pequeno -almoço já servido que era uma caneca de leite com chocolate e uma fatia de pão duro… ‘esta vai ser a experiência da tua vida!’ … e assim foi!
Viver o que somos, lembra-nos a ligação eterna à fonte
Muita coisa existe para contar sobre cuba. Mas o mais importante e a mensagem principal, é a simplicidade daquele povo e a sua naturalidade. Tudo isso conservado graças à ausência do capitalismo. E sem o saberem, o que talvez nem seja importante para eles, pois é natural, permaneceram na lembrança da ligação à essência mais básica da vida, que é apenas ser com tudo o que faz parte, independentemente de tudo. Neste povo é possível o reencontro, lembrar como é sentir o amor verdadeiro, dar importância à lembrança que a base de tudo é estar vivo e ser o que somos. Para muitos poderá não ser uma filosofia de vida, mas funciona como uma terapia para a vida!