Por Sílvia de Jesus Coutinho
in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2015
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Ao longo da nossa vida, vamos experienciando situações repletas de carga afetiva, que nos marcam pelas melhores e/ou piores razões, ficando gravadas em nós e constituindo o modo como nos vemos a nós próprios, aos outros e ao mundo.
O nosso sentir, é então guiado pelas emoções, que enviam importantes sinais, pistas e mensagens que denunciam por exemplo, um possível perigo suscitando medo, tristeza assinalando uma perda ou a alegria para marcar um ganho. São estas mensagens enviadas pelas emoções e que apelam ao nosso sentir, que ativam o nosso corpo e têm permitido ao ser humano a sua sobrevivência ao longo dos tempos.
Por muitas vezes serem demasiado dolorosas, somos capazes de empreender verdadeiras fugas emocionais ao sentir mais profundo de nós, pois pensar, como dizia Fernando Pessoa, pode provocar dor.
Esta dor emocional que o pensar provoca, surge porque dói sentir… O pensar dói, porque traz à memória as perdas, as angustias, as preocupações, aquilo que não se consegue mais controlar…mas dói ainda mais sentir…porque dói sentir a tristeza profunda da perda, porque dói sentir o poço sem fundo da angústia desgovernada e da incerteza dilacerante, porque dói sentir a tristeza insuportável no peito, na alma, na vida, porque dói sentir e olhar de frente para dor… sendo por esse motivo que tantas vezes os pacientes se refugiam nos pensamentos, no racional, no vazio ou no nada…procurando desta forma afastar o que sentem, mas acabando por adoecer.
Algumas perturbações mentais desenvolvem-se exatamente pela dor de sentir e pensar. A tristeza profunda da perda não elaborada, não ganha símbolo, afundando a pessoa numa dor emocional profunda, deprimindo. O não permitir sentir, pensar e assim elaborar o descontrolo emocional, a (s) angústia (s), a (s) incerteza (s), o sofrimento, dá muitas vezes origem a ansiedade ou mesmo até a processos cognitivos e comportamentais obsessivos.
É então importante sentir. As emoções existem para serem todas elas sentidas. Sentir o pensar e então pensar, elaborar o sentir! As emoções devem ser sentidas e os pensamentos, elaborados, de modo a não psicossomatizar e não originar doença.
A elaboração do que se sente, possível numa relação positiva como é a relação terapêutica em psicoterapia, permite trazer à consciência todo o conhecimento da realidade, os seus aspetos bons e também os seus aspetos maus. Permite regular as emoções, sentindo e pensando as emoções (todas elas e tudo o que existe dentro de mim), as dificuldades, mas também as soluções e assim tornar simbólico os afetos significados, (re) estruturando dentro de mim determinado aspeto acerca do mundo, dos acontecimentos da vida, de quem eu sou e da minha subjetividade, como que encaixando as peças de um enorme puzzle… Resolvendo (-me), sentindo (-me), trabalhando os recursos internos que cada um de nós tem, dando lugar passo a passo, a um maior bem-estar, tranquilidade interna, restabelecimento do equilíbrio emocional e deixando assim emergir o melhor de mim.
É então o respeito pelas emoções, pelo meu sentir, mediante a linguagem dos afetos elaborados, que nos fazem chegar muito além do inimaginável…pontuando a dois, na relação terapêutica, os acontecimentos quer internos, quer externos, implicando uma explicitação da nossa vivência interior, subjetiva, então eu passo a Ser!
PSICÓLOGA E PSICOTERAPEUTA
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in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2015
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