Por Nuria Sciaccaluga L. Fernandes
in REVISTA PROGREDIR |SETEMBRO 2023
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Depois vamos adquirindo consciência de que de facto há uma linha temporal que de alguma forma parametriza a nossa vivência. Percebemos que é inerente à condição humana e à forma como nos estabelecemos enquanto comunidade global. É uma linguagem universal, como o amor.
Todos reconhecemos o tempo como a duração de determinados fatos ou a acumulação de momentos e todos acolhemos os prazos e o determinismo que o tempo nos traz.
E eventualmente, em momentos diferentes para todos nós, começa a existir uma relação mais íntima e profunda com o tempo onde ele já não é simplesmente um parâmetro que define o espaço entre um momento e outro, mas sim matéria-prima, recurso, moeda de troca.
Apercebemo-nos do quão concreta é a inevitável fugacidade de tudo o que vive e vai passando pelo tempo, seja uma pessoa, outro ser vivo, um trabalho, uma relação, uma emoção, um sentimento, um hábito, um apetite, uma preferência, e por aí fora.
Apercebemo-nos também que através da sua própria in finitude e elasticidade, o tempo nos convida à reflexão e à responsabilidade pela forma como o escolhemos explorar, aplicar, despender. Não há certo nem errado, há apenas o que escolhemos fazer e ser naquele momento, com tudo aquilo que sabemos e somos. Depois de escolher em consciência resta-nos abraçar a rendição e a entrega porque há partes da equação que não são da nossa competência. Não são nossas para decidir e determinar. E aí, sábio de longas barbas, o tempo entra em cena e ensina-nos sobre o amparo, a perspetiva, o aguardar ou o agir. Precisamente por ser infinito e por apelar à continuidade, mostra-nos tantas vezes que é impossível olharmos a vida com tal linearidade.
Sendo Kairós o Deus do tempo certo ou oportuno não pude deixar de refletir sobre aquela que tem sido a minha longa e ondulante experiência pessoal no caminho que vou percorrendo rumo à maternidade. Não só a minha como a de algumas mulheres e famílias que tenho acompanhado neste período que antecede a chegada de um filho ou filha.
Este espaço temporal onde pode existir um desalinhamento entre aquilo que queremos e aquilo que estamos efetivamente a conseguir fazer e/ou alcançar, pode gerar sentimentos de impaciência e rebeldia. E a espera também. Principalmente se encarada apenas e só assim: como uma espera. Tem sido esse o meu grande desafio em algumas esferas (não só no cumprir da maternidade): confiar que há momentos oportunos, há tempos certos, há uma sabedoria invisível que olha por nós e que nos quer bem. Bem sei que a ideia de que “o tempo certo chegará” por vezes é difícil de compreender e aceitar. Mas eu por aqui acreditarei sempre que a vida e a natureza têm os seus tempos e nós os nossos. E isso impulsiona-me a seguir pé ante pé, vulnerável e firme no meu rezo, pois a fugacidade dos instantes é real e é nosso dever honrá-los e seguir o pulsar em direção ao que nos aquece por dentro.
Que nos entretantos maravilhosos e valiosos que antecedem esse tal momento onde tudo cosmicamente se alinha, saibamos desfrutar desse tempo entre tempos com alegria e prazer. Sejamos nós o nosso próprio momento oportuno, em cada instante, em cada gesto, em cada palavra, em cada ação.
DOULA DA PRÉ-CONCEÇÃO CONSCIENTE AO PARTO CONSTELADORA INTRA-UTERINA CONSTELADORA FAMILIAR
www.nuriasciaccaluga.com
in REVISTA PROGREDIR |SETEMBRO 2023
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