in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2022
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Provavelmente também já leram alguma vez sobre esta palavra e têm uma ideia sobre o assunto. Aqui, enquanto folheiam a revista, são diretamente lançados para o tema, e, acredito, que a vossa tolerância seja de ler e quem sabe, aprender um pouco mais. Sendo uma psicóloga a escrever pode muito bem dar umas dicas novas, e vamos lá ver o que diz esta, até porque deve ser uma pessoa tolerante, ou pelo menos devia.
Bom, desenganem-se! Sou pouco tolerante e como o título criteriosamente indica, tolero a tolerância.
Complicado! Pois, o meu objetivo aqui é expiar a minha culpa, sublimar a minha intolerância, no fundo, no fundo, que alguém testemunhe a minha dificuldade em ser tolerante.
Desta não estavam à espera! Pois é, então experimentem deslocar-se diariamente de transportes públicos e vão compreender o que quero dizer. Assim as dicas que eventualmente poderia dar para melhorar a vossa vida, podem muito bem complicá-la, por isso, os menos pacientes devem evitar ler a partir daqui.
Para os persistentes, saibam que não me dirijo só a quem anda de transportes públicos, pois há tantas outras situações que apelam à nossa tolerância, podia falar sobre trotinetas, TVDE ou sobre sítios onde nada acontece. No entanto, como não consigo falar de todas as situações do mundo, vou tomar este exemplo, que não sendo bom, tem uma boa base de pesquisa.
E o que se faz numa pesquisa? Observa-se e questiona-se.
Porque está aquela senhora a ouvir música sem auscultadores e ainda por cima a cantar e, mal? Porque é que duas adolescentes entram no comboio aos gritos, se insultam mutuamente durante uns bons minutos, alguém tenta conter o problema e é também insultado? Porque é que diariamente em cada carruagem, há sempre uma pessoa a ouvir/ver vídeos que mais parecem máquinas de flippers? Porque que é que há pessoas que falam ao telemóvel uma viagem inteira e toda a gente fica a saber a sua vida? Porque é que ninguém se revolta com isso? Porque é que eu não me revolto com isso?
Santa tolerância!
Saio do comboio, faço o percurso até casa a pé, e aqui começa a verdadeira inquisição.
Porque me dói o estômago? Será que sou intolerante? Também existe a intolerância alimentar, não é? Irrita-me a tolerância excessiva? Isso existe? Porque estou ansiosa? Será que a tolerância camufla aquilo que não posso mudar? Será que sou má pessoa? Será? Tolero, tolero e fico com o quê?
Sim, como toda a gente (será?) aceito aquilo que não posso mudar. Eu, muitas vezes, porque isso me facilita a vida.
Na maioria das vezes tolero, porque aquilo que gostaria de mudar, dá-me uma trabalheira descomunal e não estou para isso. Porque é preciso entender os outros, aceitá-los como são, lidar com as circunstâncias todas, visíveis e invisíveis, ser universal, ser individual, estar presente, ser seletivo, ser inclusivo, abrangente, estar na realidade e por causa disso, claro, preencher papéis, fazer telefonemas, enfrentar filas, esperar muito e… que chatice, logo hoje!
A tolerância está para mim como a necessidade. Preciso ou não preciso de ser tolerante? Faz-me falta? Para quê? Depende de mim ou não depende de mim? Até onde vai a minha capacidade de aguentar, sim digo aguentar (já me estão a dar razão, espero) estoicamente, como num ato de fé, tudo o que acontece à minha volta, ao meu lado, com as pessoas que conheço, com as pessoas que desconheço, com tudo o que acontece dentro de mim, sendo o mesmo que dizer o quanto sou capaz de tolerar-me, também a mim?
A esta altura já estou a hiperventilar...
‘Inspiro, expiro e fico comigo!’
Este exercício antigo, expande o ser mais evoluído que há em nós.
A tolerância, poderá ser a complicada tarefa de reunir todas as nossas capacidades numa só, esperando uma resposta simples e adequada a uma determinada situação. Será como resolver uma equação matemática que só se entende, após muita prática, e após ultrapassar a resistência de aprender.
Amanhã ao final do dia, quando regressar a casa, de comboio, vou olhar tranquilamente pela janela e aceitar que nem sempre vou ser tolerante, que por vezes é necessário um limite, até na tolerância, e que partindo deste princípio, vou conseguir ser mais tolerante do que fui hoje.
PSICÓLOGA E PSICOTERAPEUTA
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2022
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