
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2015
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Os instintos básicos de um ser humano, condensados numa pretensão histórica e religiosa de classificar, controlar e compreender as razões da nossa inerente insanidade. A associação, inicialmente sentida como insólita, pousou ao lado da Ira, também apelidada de Cólera, e ousou entender-se como o reverso da Tolerância que se apregoa tantas vezes num vazio de sentimentos nobres.
A Ira é um sentimento humano onde se demonstra a raiva e o ódio por alguma coisa ou por alguém, pautada pelo desejo de ser avesso ao que é representado, responsável por tantos conflitos ao longo de tantas gerações. Esta versão de intolerância define pessoas, lugares, objetos. Setoriza pensamentos e invalida esforços para um clima de harmonia em pequenas e grandes dimensões. E foi nesta deambulação pelos reversos de um substantivo que marca e adjetiva pessoas, que nova viagem se iniciou com uma expressão que marcou uma vida “Então vai, segue o teu destino, mas fica com a certeza de que aqui tens sempre o teu lugar, aconteça o que acontecer”. Estas palavras, a propósito de uma notícia inesperada que um filho dá a um pai, revelam uma forma intensa e complacente de afirmar o amor e guiaram também uma filosofia de vida em que ser tolerante se mistura com a essência de ser quem se é.
A tolerância surge como um exercício de infinitude, num registo de humildade, aceitação, integração do outro na vida que se partilha em cada lugar-comum, em cada incógnita com que se preenchem os dias que se sucedem. A vida como um percurso em que o “eu” e o “outro” se fundem, na harmonia entre as suas decisões e as características que cada ser humano encerra. Um caminho onde as diferenças se aconchegam em cada pedaço, e onde acrescentar é mais importante que completar. Lugar único onde a verdade do outro é outra perspetiva da nossa realidade.
A tolerância liberta a alma para escolher o que faz crescer, para voar em direção ao mundo e repousar as asas em qualquer lugar apenas por sermos Pessoas. A tolerância, que não significa aceitação, promove a profunda vontade de olhar e ver para além de nós. Espaço onde a distância se encurta, onde a humanidade se multiplica. E é perante a intolerância, que definir o conceito nos move em pensamentos sobre as fragilidades do mesmo. O outro que não aceita as nossas expressões de individualidade, que não partilha do nosso modo de ser, que não se alimenta das mesmas virtudes ou não está marcado pelas mesmas limitações, o outro, aquele que está longe e tão perto...
Mas pode ser esse outro, que nos ajudará a aprender a lição da condescendência, sem acomodação de caráter nem superioridade paternalista, mas com enlevo pela variedade humana. E assim, neste processo de interação, entre quem se é e quem se foi, no crescimento que fazemos a pares ou num solitário percurso pela paz, descobrimos mais um mote para sermos felizes. A tolerância como manifestação de inteligência, uma virtude de cariz emocional e social, enraizada na bondade e na capacidade para amar. Mais do que se ensinar, é algo que se transmite por imitação, por repetição em cadências melodiosas de entrega à vida e às personagens que nos conduzem o papel no seu palco. Simples, ou não, treinando a tolerância, amaciaremos o caminho e as quedas soarão como passos de uma dança onde nem sempre se acerta no ritmo mas em que a música faz eco dentro do coração.
TÂNIA TAVARES [email protected] in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2015 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |