in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2021
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Acontece que, muitas vezes, pensamos em começar no condicional. “Eu começaria se…” Como se as condições nos levassem onde não conseguimos chegar com a determinação. E pensamos em tudo aquilo que poderíamos fazer ou ser, ou ter se… se nos deixassem, se soubéssemos, se fosse possível, se tivéssemos a coragem, se acreditássemos em nós. E por entre estas dúvidas, incertezas, receios e inseguranças passam os dias, os meses e os anos sem que comecemos. Temos, na vida, poucas certezas, de facto. Por muito que estejamos certos de as ter. E é muitas vezes a vida, essa vida que nos dá tão poucas certezas, que nos vem, um dia, mostrar que as que podemos ter são as mais simples e também as mais importantes. Termos a certeza que somos amados, que somos merecedores daquilo que recebemos, que recebemos na mesma medida em que damos ou que temos a capacidade de alcançar o que pretendemos. Termos ainda a certeza de que, se assim o quisermos, nos podemos tornar uma versão melhor de nós próprios e que, quando começamos, iniciamos um caminho que pode bem levar-nos onde não imaginámos poder chegar. Seja isso o que for: ter um negócio por conta própria, correr uma maratona, viajar pelo mundo de mochila às costas ou amar sem receio de vir a sofrer. Ponha de lado o condicional, mude o seu discurso e atreva-se a questionar. “E se eu começasse?…”
Outras vezes pensamos em começar no passado imperfeito. “Eu começava mas...” Como que em jeito de intenção que está destinada ao fracasso. E começamos, sim, a antecipar o insucesso, a imaginar o pior cenário possível e quão incapazes seremos de lidar com isso. Concluímos rapidamente, e sem direito ao contraditório, que não conseguiríamos, que não teríamos a capacidade, a competência ou o conhecimento para nos lançarmos e arriscarmos por um novo caminho. Talvez nos tenham faltado oportunidades para caminhar lado a lado, de mão dada, com alguém que nos desse a segurança que precisávamos para os primeiros passos. Talvez tenha estado alguém ao nosso lado a dizer-nos que não conseguiríamos caminhar sozinhos ou que isso era demasiado perigoso, que poderíamos cair e não nos conseguirmos levantar. Talvez tenhamos acreditado nisso. E talvez ainda hoje acreditemos. E hoje talvez possamos também começar a questionar aquilo em que acreditamos e que nos limita. Ponha de lado esse passado imperfeito, mude o seu discurso e atreva-se a questionar. “E se eu for começando?...”
Muitas vezes, até conseguimos pensar em começar no futuro. “Eu começarei quando tiver...” Mas adiamos o começo. E justificamos o adiamento com o facto de não termos o tempo necessário, o dinheiro suficiente, a paciência exigida ou a companhia pretendida. Na essência, esperamos as condições ideais para começar. Ora, o problema é que, não raras vezes, essas condições não se verificam. Ou, pelo menos, não todas no tempo pretendido. Por isso, pense: é realmente necessário esperar por “ter mais” alguma coisa? Será que precisa realmente de ter mais tempo para começar a cuidar mais e melhor de si? Será que não pode mesmo começar a investir mais na sua formação sem ter dinheiro? Será que é necessária assim tanta paciência para começar aos poucos a aprender algo novo? E será que precisa mesmo de companhia para começar a fazer caminhadas? Na maioria das situações é preciso muito menos do que imaginamos para começar. Precisamos sim de tomar consciência de que muitas destas condições acabam por nos servir como desculpas e justificações para adiar. Para não nos confrontarmos com algumas dificuldades ou questões que receamos. Dedique algum tempo a pensar porque é que realmente não começa. Acha “estranho” cuidar de si? Receia iniciar uma formação e já não ter “cabeça para estudar”? Não sabe do que gosta? Receia fazer coisas sozinho? Certamente conseguirá algumas respostas que lhe permitirão começar. Começar a ponderar deixar de adiar o começo. Seja do que for. Desafie-se a começar. Dê forma à determinação de quem não se deixa demover pela ausência das condições ideais. À força de quem está determinado a alcançar o que verdadeiramente quer. Mude o seu discurso e atreva-se a afirmar: “Eu começarei apesar de ainda não ter…”.
E, por vezes, o começo começa a surgir-nos no presente. “Eu começo a…” A acreditar que as condições ideais não existem e que esperá-las só me afasta de dar melhores condições a mim mesmo. De fazer o que gosto, de concretizar um sonho, de encontrar um novo significado para a vida. Começo a acreditar que tudo o que me afasta de começar são, na realidade, desculpas que dou a mim mesmo por receio de lidar com o desconhecido, com o imprevisto, com a adversidade e a contrariedade de quem se arrisca a começar. Começo a acreditar que serei capaz de lidar com as dúvidas, incertezas, receios e inseguranças que são comuns a quem começa. Que serei capaz de lidar mesmo com o pior cenário possível. Que tudo se resolve. E que o que não se resolve, se aprende a aceitar. Que se aprende a fazer das fraquezas, forças. Que, se cair, me conseguirei levantar e que, se for difícil, poderei pedir ajuda e terei quem me dê as mãos. Para me puxar ou me abraçar. Começo a acreditar que tenho as certezas mais importantes e que não preciso das restantes. Que irei alcançar o que pretendo e que mesmo que isso não aconteça, a viagem terá valido pelo caminho, pela paisagem, pelo meu crescimento e evolução e por me ter tornado melhor pessoa.
E neste momento, a única coisa que talvez nos falte seja um imperativo que nos transmita a segurança e o impulso que precisamos para dar o primeiro passo. “Começa!” Hoje é o dia. Faz com que hoje seja o dia. Aceita o presente que tens nas mãos. Porque não?
PSICÓLOGA CLÍNICA, FORMADORA, SUPERVISORA
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