Por Rui Braga
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2012
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Das revoltas no Médio Oriente aos protestos nos Estados Unidos e na Europa, encontramos cada vez mais um movimento global que deixou de se rever no rumo percorrido atualmente, e que dedica agora a sua energia ao desenvolvimento de alternativas credíveis e realistas.
Numa tentativa de dar resposta aos desafios globais, Tamera surge como um modelo no qual são integradas novas soluções para todos os aspectos básicos da existência humana – água, alimento, energia e design social; um centro de pesquisa para um futuro sem guerra – entre seres humanos, entre seres humanos e animais, e entre seres humanos e o planeta.
Num terreno com cerca de 150 hectares, situado no Baixo Alentejo, no concelho de Odemira, encontramos este centro experimental fundado em 1995, no qual são investigados os fundamentos ecológicos, tecnológicos e sociais necessários à criação de modelos autónomos e descentralizados, que actuem como protótipos para novos paradigmas civilizacionais. O projeto conta atualmente com cerca de 200 colaboradores residentes, que dedicam o seu trabalho a esta investigação.
Que tipo de soluções energéticas podemos desenvolver, que não destruam a natureza e não poluam o ambiente? Como podemos cultivar alimentos em abundância, mesmo em terras danificadas, sem recurso a práticas de exploração da natureza, animais ou seres humanos? Como podemos gerir os recursos hídricos, tornando a água acessível a todos os seres, e proporcionando a recuperação da fertilidade dos solos? Como podemos desenvolver a capacidade de resolver conflitos sem violência?
Estas são algumas das questões na base da pesquisa de Tamera. O modelo que aqui tem vindo a ser desenvolvido realiza pesquisa nas várias frentes abarcadas por estas questões.
Ecologia: Tamera tem trabalhado na construção de uma Paisagem de Retenção de Água, que consiste numa rede de lagos interconectados, construídos a partir de materiais naturais, cujo objectivo é o de reter a água da chuva. À volta destes, vemos uma paisagem de permacultura que se desenvolve de ano para ano, repleta de árvores de fruto, legumes e vegetais. Para além de abastecerem a flora e fauna circundante, os lagos atuam como ferramenta para o restabelecimento do ciclo hidrológico, dando tempo à água da chuva para se infiltrar no solo e reabastecer os lençóis de água subterrâneos, abrindo caminho para programas de reflorestação e para a reversão do processo de desertificação. Deste modo, todo o ecossistema empreende um processo de cura, que se traduz em diversidade e abundância, e que serve como porto de abrigo para a vida selvagem que ali se estabelece e desenvolve.
Tecnologia: Encontramos em Tamera um campo de teste para novas alternativas tecnológicas. Este campo de teste tem o nome de Aldeia Solar e consiste num protótipo de uma aldeia com cerca de 50 habitantes. A experiência, realizada atualmente no âmbito da energia solar e do biogás, busca desta forma proporcionar a autonomia energética dos seus residentes. O aspeto inovador da pesquisa que aqui é levada a cabo consiste na sua orientação para a criação de soluções descentralizadas, fáceis de reproduzir e de baixo custo. Desta forma produzem-se soluções aplicadas facilmente e de forma autónoma, tanto em áreas de crise como em todos os locais onde os recursos são mais escassos.
Design social: Será possível criar uma sociedade sem guerra, tanto entre seres humanos, como entre estes e o planeta? Na busca de uma resposta a esta questão, Tamera pesquisa novos modelos de educação, novas ferramentas sociais e um conhecimento humano capaz de fazer frente às situações de conflito. Um ser humano com uma relação saudável para consigo próprio, para com os outros seres e para com o planeta, é um ser humano com uma ética genuína, imanente de uma nova compreensão da vida. Einstein dizia que o pensar do futuro teria de tornar a guerra impossível. Por esse motivo, uma parte essencial do trabalho de Tamera consiste na investigação das bases mentais e espirituais que possam tornar possível um futuro sem guerra. Desde os tópicos de comunidade e espiritualidade, às questões mais íntimas do amor e da sexualidade, um modelo que ambicione a criação de uma alternativa credível para a paz têm necessariamente de lidar com todas as questões abarcadas no ser humano.
Todos os anos, mais de 2000 visitantes e estudantes internacionais dirigem-se a Tamera para tomar parte nos vários cursos e eventos, que se destinam a exportar o conhecimento acumulado ao longo dos anos de pesquisa. Vindos dos mais diversos países e contextos sociais, os estudantes encontram-se em Tamera sob o âmbito da auto-suficiência e do conhecimento de paz. Estes retornam depois aos seus locais de origem para aplicar nos seus projetos a informação assimilada, ou para empreender na implementação de novas ideias. A esta plataforma de educação internacional dá-se o nome de Campus Global. Neste momento esta rede conta já com inúmeros parceiros – do Quénia ao Brasil, do México à Colômbia, de Israel-Palestina aos Estados Unidos, da Índia a inúmeros países europeus – na qual se inserem os mais variados projetos, unidos sob a meta de criar alternativas humanas para um futuro melhor.