in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2015
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A paternidade não se reduz a palavras, dimensiona-se na medida da relação que se estabelece com um filho. É o amor que cresce dentro de um pai, a partir do momento em que aquele pequeno “estranho” se entranha na vida e no coração, que define tudo o resto. A realidade ajusta-se, ou ajustamo-nos nós aquilo que ela nos dá, e podemos colorir este caminho da paternidade com as cores que melhor nos definem ou que dão mais brilho aquilo que queremos ser.
Uns optam pela permissividade, um estilo onde se tendem a reduzir a exigência e as regras, onde tudo se preenche com o afeto que o coração devolve em cada olhar. Alguns escolhem um caminho com traços rígidos, uma estrada contínua, em que as necessidades de ambos podem nem sempre ser atendidas. E os que defendem a democracia paternal, sabem que a negociação de vontades é o pilar que sustem os limites e as fronteiras estabelecidas. Alguns caminhos que podem alternar-se, cruzar-se, separar-se irremediavelmente ou fundir-se num gesto de abertura e de tentativa para alcançar o melhor. E melhor, esta realidade de ser pai, não é comparável a nenhum outro caso. Cada relação é única, cada momento é uma fotografia sem negativo, sem forma de repetir. Não se pretende perfeição – termo que peca por exagero de qualidades – apenas que sejamos “suficientemente bons” e isso é tudo o que de melhor temos.
Ler profundamente aquilo que um filho nos revela, é uma aprendizagem e deve servir-nos de referência para a constante melhoria que fazemos no nosso desempenho enquanto pais que o são e o querem ser. Não é um caminho fácil e por muito caloroso que seja o sentimento, nem sempre a emoção do momento se compatibiliza com aquilo que nos coloca à prova. Resistir àquilo que tem mais de inexplicável do que se gostaria, como o choro, as birras, os episódios de alteração física, merece um reforço positivo. E em pais de primeira viagem, que agregam a tudo isto a incapacidade de reconheceram a mulher que têm ao seu lado (também ela num processo de aprendizagem da sua nova condição de mãe e na recontextualização que faz de si nas alterações que o seu corpo e mente sofreram), maior será a dificuldade para traçar um plano lógico.
Não perder o foco na nova página que o livro da vida nos mostra, permitirá manter um olhar límpido sobre a parentalidade. O mundo modifica-se e cabe a nós aproveitar cada alteração com a sensibilidade que esta condição invoca. E será fácil imaginar-se deliciado com um sorriso, uma mão que lhe acena, uma palavra proferida.
A magia de ser pai não se ensina, não se replica, sente-se. Renunciar a pequenos prazeres e necessidades pode ser uma via agridoce mas lentamente poderemos, e deveremos, retomar a uma vida diferenciada que permita que voltemos a ser uma pessoa que não se confunda com o ser pai. É nestes reajustes que ganhamos confiança e conseguimos valorizar a experiência e respirar a energia positiva que este desafio exala.
São estes retrocessos e avanços que nos posicionam num lugar com uma vista privilegiada para a magnífica sensação de completude. Existir e ser, consolidam-se e constroem os laços inquebráveis da relação pai-filho(a).
Em momentos de atrapalhação, de ginástica física e mental, de sensação de incapacidade, uma luz iluminará todo o seu mundo cada vez que a palavra “Pai” lhe encher a alma.
TÂNIA TAVARES [email protected] in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2015 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |