in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2015
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Somos o reflexo das páginas que escrevemos e da forma como lemos e interpretamos cada lição. Podemos correr, pisar sonhos, saltar poças de amor, contornar pedaços da vida que deixamos para trás. Outras vezes, sentamo-nos a contemplar, a sentir e agradecer as linhas que nos moldam. Rumamos ao destino que nos entregaram ou lutamos por um melhor lugar. Aceitamos a inércia do mundo ou empacotamos as dúvidas e aceleramos para o que ainda há-de vir a ser.
Completamo-nos de pequenos nadas e outras vezes nenhuma peça nos fará sentir inteiros se não vier do coração. Alternamos a correria da vida com os passos lentos, cansados do caminho gasto onde voltaremos de novo a correr, ou celebramos a existência para além da dor que à nossa porta também vem bater. Sabemos de tudo, tão pouco tantas vezes, e mais do que dominar um mundo, almejamos o nada saber senão de nós. Somos o sonho de tantos que sonham. Somos sempre mais do que julgamos, mas invariavelmente deixamos que a realidade nos afunde e inebriamos a vida com sonhos distantes, que não se fundem e desvanecem em vazios que nos empurram ainda mais para o fundo. Não caminhamos de mãos dadas com os outros, corremos ao seu lado a olhar a meta, sentindo aqui e acolá pequenas notas de amor da sinfonia perfeita que é a vida, sem olhar nos olhos, sem sentir o coração de quem nos quer abraçar e nos dar de volta o tempo que nos privamos de ter.
O sonho protege-nos das dores, daquelas que nos fazem crescer, que nos amadurecem o sentir e exaltam o que de melhor temos. O sonho permite-nos aceitar a brisa no rosto com a sensação de plena felicidade. O sonho devolve-nos o abraço que perdemos ou que ainda não encontrámos, massaja-nos o espírito e inspira-nos a horas em cores pastel repletas de doçura. O sonho, de olhos abertos ou fechados, transporta-nos em nuvens e embala-nos na viagem. A realidade separa os nossos sonhos em peças, de puzzles incompletos, onde todas as combinações são improváveis, mas induz à aventura de tentar e também conseguir. A realidade é um livro de mandalas onde o processo de colorir é mais importante que o resultado final, onde o universo se materializa e se abre a novas perspetivas todos os dias. A realidade não é apenas um fino fio de esperança que nos obriga a permanecer, é a brusquidão dos empurrões para outros lugares ou o afago de quem nos dá colo e nos motiva a prosseguir. A realidade é o que fizermos dela, mesmo que a tenhamos sonhado inúmeras vezes. Nenhum de nós pode ser apenas um conjunto de versos soltos, somos um poema onde a realidade e o sonho se unem, na relação entre o nosso mundo e o dos outros.
Quando não há tempo para parar, abrandar o passo, aligeira o peso das contrariedades. Doar sorrisos conforta o nosso ser, e habilita-nos ao prémio de receber outros de volta. Amparar as quedas de quem nos rodeia, protege-nos das nossas e cobre as feridas de pensos invisíveis que nos atenuam a dor. Sonhar é magnífico mas viver a realidade gratifica, edifica, enobrece…. E também nos agracia com a possibilidade de vivenciar os sonhos que já vivemos com a alma, sozinhos ou com quem tem lugar reservado em nós.
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in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2015
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