in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2016
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Esses comportamentos traduzem-se num desfasamento entre uma gestão eficaz da compreensão das necessidades básicas e superiores dos seres e os desejos gerados por impulsos externos, na sua maioria fruto da manipulação da “máquina” social, que cria a ilusão de vontades e de desejos íntimos intransponíveis nas pessoas em prol de um consumismo desenfreado e insensato.
Na sua origem, o dinheiro assumiu o papel de um recurso necessário que procurou suprir as dificuldades existentes nas as trocas e na definição do “justo valor” dos bens e serviços gerados. Este processo, com o tempo e modernamente, atinge um formato revolucionário e propulsor da globalização, estabelecendo as condições para a eclosão de uma nova consciência e de uma linguagem de aproximação entre raças, civilizações e mercados.
Não poderemos negar que o dinheiro tenha cumprido a sua missão, mas em algum ponto do seu caminho perdeu a sua maior virtude, a de unir gentes, povos e a de suprir as suas necessidades básicas (e até satisfazer algumas veleidades!). Perdendo a sua natureza mediadora e transformando-se num objeto fruto de ganância e acumulação desmedida, gerador de injustiça social e instigador do pior que cada ser humano tem em si.
Mais recentemente, essencialmente nos últimos 40 anos, voltou a assistir-se a uma nova revolução no mundo das finanças: a consumação da desmaterialização do dinheiro e a sua submersão e de outros meios financeiros nas fantásticas virtudes e potencialidades do mundo virtual. O dinheiro assumiu uma linguagem binária permitindo que 0 e 1 criassem virtualmente todos os recursos (dinheiro) que a imaginação (ou regulação) permitisse.
Nos anos oitenta, com a desregulação do mercado bancário e financeiro (regras que mediavam a relação entre o valor do dinheiro real que as instituições financeiras possuíam, através dos depósitos dos clientes e entregas dos acionistas, e o valor do financiamento concedido), as fronteiras que até então obrigaram a banca a viver em equidade com a economia real (depósitos) e o motor e estímulo do desenvolvimento económico (financiamento), ganhou uma vida própria e autónoma, a que podemos designar por sistemas e mercados financeiros.
Este sistema não reconhece a razoabilidade nos seus fins e os limites naturais da vida e do planeta. Apenas o lucro e a sua maximização são reconhecidos e legalmente suportados.
As consequências desta era do homo financeirus, propiciou, às novas gerações, a criação de ilusões que se materializaram socialmente em sérios e graves problemas, como o das bolhas financeira que se desencadearam, nas crises globais financeiras e económicas, exatamente pela inexistência da relação entre o mundo virtual e o real, a economia crescente sem fim, o consumismo desenfreado sem sentido, a exploração desumana de meios e dos recursos, enfim…, a perda do sentido da própria vida como ela se apresenta e um afluxo irreal de fantasias, alimentado pela realidade virtual financeira.
Esta é, na verdade, uma ficção criada e gerida pelos oligarcas banqueiros, que se resumem a poucas dúzias de famílias, mas que detêm mais da metade da riqueza gerada no planeta.
É absurdo como esta recente história, se expressa numa esvaziada forma de massificação humana, tornando o ideal de homo economicus (oikos-nomos), um conceito que merece decerto abrangência na sua significação e uma aceção integrada da relação que o homem estabelece consigo e a gestão da sua casa/ sociedade, num agente cego, servidor de valores distantes da origem da comunidade humana. Vivemos numa sociedade economicamente em estado de sobrevivência que sobrepõe, naturalmente, o ter ao ser e a aparência ao próprio e verdadeiro sentido humano da vida.
Neste século XXI, temos podido assistir à oportunidade de ver o ruir do império financeiro e o ressurgimento tímido de valores advindos das catacumbas da história social que irão determinar as regras do jogo nas novas gerações.
Aristóteles dizia: Nummus non parit nummos (o dinheiro não faz filhos) e na verdade pode-se constatar que o regresso ao futuro nos leva para projetos como: a Banca Ética, o Financiamento Social, as Moedas Locais, os Circuitos Financeiros Locais, as Social Bonds, o Crowdfunding, entre tantas outras soluções feitas à medida pelas necessidades das comunidades locais e globais. Estas soluções financeiras estão assentes em valores de partilha, inclusão, desenvolvimento, sustentabilidade, verdade, equidade, ética e emergência social. À primeira vista poderá parecer assustador como o dinheiro se pode relacionar com estes valores. Inacreditável! Mas recuperando a memória humana, um dos mais basilares sentidos da vida é esse, o verdadeiro significado do dinheiro: não multiplicar proles infindas e iguais a si mesmo, mas dar sentido à vida como gerador de trocas, de justiça social, desenvolvimento económico e sustentabilidade ambiental.
Viver a verdadeira vida num profundo sentido de humanidade e ter a humildade de gerir os recursos disponíveis em consonância com o ser, comungando alegria, felicidade e compaixão.
Viver sobre as finanças e não ao contrário – sobreviver - é saber utilizar de forma amorosa e auspiciosa o dinheiro e seus derivados, no nosso dia-a-dia.
CONSULTOR EM EMPREENDEDORISMO
www.empowertolive.pt
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