Por Bibiana Danna
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
A solução que encontrei para reparar a ausência de atributos foi usar a máscara de “boazinha”. Dormia e acordava com ela.
Com o tempo, a máscara ficou de tal forma colada em mim, que já não sabia, mas quem eu era. Essa situação criou uma deformação em mim, útil em vários momentos, mas que me impedia de crescer e de ver a minha verdadeira face.
Era uma escravidão. Tinha que me libertar desse condicionamento, mas o medo de ser rejeitada me fazia recuar.
Os anos passaram e a máscara gerava sofrimento, angústia e uma sensação de impotência. Parecia que os relacionamentos eram mantidos por mim, sem qualquer reciprocidade das pessoas que faziam parte da minha vida.
O fardo que carregava era enorme. Sentia um cansaço físico e mental. Lutava pela e para a sobrevivência, nada mais. O papel por mim desempenhado enfraquecia a transparência das relações que se mantinham baseadas na superficialidade.
No meu íntimo ia crescendo uma raiva alimentada por pensamentos que matavam a minha paz de espírito.
Ficava irritada com as pessoas por achá-las sem noção, inconvenientes e manipuladoras. Essa visão distorcida da realidade sugava as minhas energias e me impedia de abandonar a muleta da “eterna boazinha”.
Anos de terapia, ficava andando em círculos, quando sabia o que tinha que ser feito. Passei por profissionais excelentes. Só que eles não poderiam fazer o que a mim me competia.
Quando chegava perto da hora da mudança, parava a terapia e dava uma boa razão para isso. Até que um dia, mais madura e um pouco menos teimosa, resolvi retornar.
Estava a passar por vários problemas, além dos existenciais, e depois de alguns meses algo em mim despertou. Senti um incómodo e percebi que a máscara não estava mais tão presa. Acho que tudo começou com a seguinte afirmação do terapeuta:
- Chegou o momento de você encarar os fatos. Você já se perguntou o que ganha sendo a “boazinha”?
Fiquei contrariada com as palavras certeiras dele. A minha face ficou quente e rubra. Os meus olhos pareciam duas bolas de fogo. Tentei desviar o olhar. Contudo, antes que eu me pudesse recompor e responder, veio outro golpe:
- Vou lhe facilitar a resposta. Na verdade, essa sua artimanha nada mais é que uma forma inteligente, hábil, de conseguir o que quer. Mantendo um bom relacionamento e sempre dizendo: sim, sim, quando muitas vezes quer dizer não, não; você acaba manipulando as pessoas.
Fiquei sem voz. Queria falar, defender-me, mas não tinha argumentos. Sem dúvida, um dos muitos bons motivos para ser a “boazinha” era conseguir comprar o amor e admiração das pessoas e com isso ter benefícios de toda ordem.
Saí da consulta em transe. Um misto de choque e alívio. A duras penas e de uma forma nua e crua entendi qual era o verdadeiro significado da criação da minha personagem.
A partir desse dia, dei-me alta da terapia. Comecei a mudar a forma como me relaciono com as pessoas. Muitas delas dizem não me conhecem mais. E realmente não conhecem. Abandonei a raiva que sentia ao desistir de tentar corresponder às expetativas alheias em troca de um suposto amor.
Os meus relacionamentos amadureceram quando finalmente percebi que a raiva era criada por mim ao dizer sim, sim, quando, na verdade, queria dizer não, não!
ADVOGADA E AUTORA DE TEXTOS SOBRE A VIDA E RELACIONAMENTOS QUE A ENVOLVEM DE MANEIRA HOLÍSTICA
www.almamulher.wordpress.com
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2018
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