Por Cris Ferreira
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2013
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Nos países desenvolvidos quando entramos numa qualquer superfície comercial ficamos cercados de oferta de produtos. Para nós europeus esse é um dos vetores do paradigma de desenvolvimento, produzir produtos que são úteis e satisfazem as nossas necessidades físicas e emocionais.
Para qualquer estudante de marketing ir a uma qualquer superfície comercial é uma visita de estudo. Observar os produtos e tentar descobrir o que está por detrás de cada um deles. Quem os pensou? Porque os pensou? Que materiais foram necessários na sua produção? Quanto custou fazer? Porque tem este preço? Como é constituído o canal de distribuição? Qual o valor emocional da sua marca? Como foi comunicado? Quais são os seus benefícios e atributos? A que segmentos de mercado se destina? Qual o seu valor psicológico? Porque foi a embalagem pensada assim? Para quem tem formação de base em gestão e marketing estas questões são muito relevantes, afinal o marketing é a disciplina da gestão que tenta perceber a “procura” e proporcionar a correspondente “oferta”.
Mas quando se começa a estudar “desenvolvimento sustentável” o nosso nível de consciência enquanto “marketeer” e consumidor altera-se e mais questões surgem na nossa mente nos corredores de uma superfície comercial: que impacte causam no ambiente os materiais utilizados? São recursos materiais finitos ou renováveis? Onde foram feitos? Como foram feitos? Quem os fez foi justamente renumerado? Quem os fez trabalhou em ambientes saudáveis? Qual a sua pegada de carbono? O que acontece aos “restos” e “lixo” dos produtos que consumo?
E de repente aqueles produtos deixaram de ser somente produtos que gosto ou preciso de consumir e passaram a ser contadores de histórias e o ponto de equilíbrio para decidir por um produto A ou um produto B mediante a capacidade económica.
É muito conhecida uma história de uma marca de computadores que possui uma legião de fiéis e devotos consumidores. Porém um dos fornecedores dessa marca no processo de fabrico dos computadores utilizava mão-de-obra infantil. O caso chegou a público e parte dos seus consumidores criou um movimento designado “think different, do different” nas redes sociais, media e fazendo manifestações em frente aos pontos de venda da marca, apelando à empresa para rever a sua conduta. A campanha surtiu efeito, tanto quanto sei. As empresas cometem erros mas não querem ser conotadas com más práticas laborais ou ambientais. Principalmente se essas informações veem a público e provocam quebras nas vendas ou no valor das ações em bolsa, pontos sensíveis para a vida das empresas.
Este exemplo é ilustrativo do poder que o consumidor pode ter na equidade social e proteção ambiental. Como este existem muitos outros no planeta, muitos outros… O que fez a diferença e motivou a mudança de comportamento da empresa foi a atitude dos seus fiéis consumidores. E esse é o segredo, não basta ser um consumidor passivo ou contestar quando um problema relacionado com consumo nos afeta pessoalmente. É necessário perceber que por detrás de cada produto existe uma história, pessoas como nós ou questões ambientais que nos afetam a todos. A força do consumo é vital para as empresas e economia e deve ser também uma força de transformação positiva.
O “lixo” provocado pelo consumo é o pior rasto das nossas necessidades satisfeitas nas prateleiras de uma superfície comercial. Ainda hoje muitas pessoas não reciclam e com isso perde-se a oportunidade de obter matéria-prima para outros produtos sem recorrer ao meio ambiente.
Outro exemplo de mau consumo é o “desperdício”, com particular relevância o desperdício alimentar. Todos os dias deitamos toneladas de comida no lixo em todo o planeta. Toneladas de comida! No mesmo planeta onde ainda se morre de fome! Algo não está bem neste sistema.
Todos estes casos ilustram que em matéria de consumo há que aumentar o nível de consciência, promover alteração de comportamentos e áreas de estudo novas para aprender para que cada cidadão se torne mais consciente, atento e participativo provocando mudanças em sistemas produtivos que visam somente o lucro sem olhar as externalidades da sua atuação ou reduzindo os custos sociais, ambientais e económicos com a melhoria qualitativa do consumo individual.
E no que concerne à educação para o consumo muito há a fazer e em todas as áreas. Consumidores mais conscientes e ativos geram melhores produtos e promovem o desenvolvimento sustentável a todos os níveis.
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO PARA A CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
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