Por Carla das Estrelas
in REVISTA PROGREDIR |ABRIL 2022
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
As relações humanas são dinâmicas. Não são estanques, vão-se modificando ao longo do tempo independentemente do tipo de ligação e da sua duração (quer à escala de meses ou de anos). Assim, o conflito é natural e até imprescindível para o desenvolvimento do grupo e individual.
Quando somos crianças o conflito tende a manifestar-se de forma mais física. É uma fase em que conflituamos por território, posses, atenção, entre outras coisas e situações. Embora seja aborrecido para o adulto assistir aos conflitos entre os mais novos, este é um comportamento que ajudará a criança a perceber qual o seu lugar no grupo, a percecionar-se a si mesma e ao outro. Aqui, o conflito ajudará a criança no processo de individuação.
Os conflitos dentro de uma relação de amizade, por exemplo, ajudarão a criança a gerir as suas emoções, a perceber a qualidade da amizade presente e a percecionar que tudo é cíclico na vida - há momentos de paz e bonança e há momentos de maior reboliço nas relações. Assim, a nível relacional é percetível que nas amizades mais sólidas, aprendam que mesmo com quezílias entre pares, a relação se mantém e daqui advém um upgrade na mesma, uma evolução onde cada um aprende a tomar o seu lugar. Portanto, em situações de conflito relacional há um “acertar de agulhas”, um reequilíbrio de todos perante uma situação que gera stress e desacordo. Mesmo que o resultado final seja a rutura da relação, ainda assim há a possibilidade de acontecer uma aprendizagem e evolução para todos.
Não se está, aqui, a querer apelar ao conflito, a justificá-lo ou banalizá-lo. Não é disso que se trata. Apenas se está a referir que nem sempre o conflito terá de ser totalmente negativo, embora existam vicissitudes quando ele acontece. E continuando com o exemplo das relações, sempre que existe conflito, o comportamento entre as pessoas envolvidas não fica de todo igual, podendo existir mesmo a rutura ou não. No entanto, o que se pretende referir aqui, é que mesmo com toda a parte menos positiva de um conflito, este não terá de ser totalmente negativo, uma vez que poderá gerar aprendizagem e crescimento em todos os intervenientes.
No exemplo que se deu, de conflito nas amizades e na sua gestão quando somos crianças, é uma forma de nos tornarmos adultos mais atentos e conscientes dos nossos comportamentos quando experienciamos situações de desentendimento. Portanto, toda a nossa vivência no que diz respeito a situações de conflito quando somos crianças precede o nosso comportamento em adultos na gestão de conflitos e na procura da pacificação relacional e perante a vida.
Em qualquer sociedade, os grupos e as pessoas não vivem sem um sistema de trocas, sejam elas de ordem económica, cultural, social e relacional. É aqui que aprendemos a ser, os nossos limites, o nosso lugar na sociedade, onde nos sentimos úteis e valorizados. É com este sistema de trocas que tentamos balancear o conflito e a paz nas nossas vidas.
Já em adultos conseguimos ter maior perceção das nossas ações e reações perante situações conflitantes. Um olhar mais atento e compassivo sobre esse acontecimento na nossa vida poderá levar-nos à ideia de que o conflito externo nada mais é que o reflexo de todo um processo interior que se encontra em conflito, manifestando-se e plasmando-se na nossa vida.
Segundo o Princípio Hermético da Correspondência “Tudo o que está em cima é como o que está embaixo. Tudo o que está dentro é como o que está fora”. Desta forma o conflito está enredado interiormente e exteriormente. Muitas vezes ele já existe de forma latente, na história da própria pessoa ou do grupo. O conflito é já cultivado entre as emoções negativas e pensamentos mais sombrios e reprimidos pelo indivíduo. Quando surge a oportunidade, este conflito interno lança-se e projeta-se para o exterior em momentos de raiva ou de maior aspereza. Ou, em última instância sob a forma de um sintoma físico, de uma fragilidade que começa a surgir no corpo da pessoa. Temos, então no exterior o reflexo do que vai dentro da pessoa ou do grupo.
Como encontrar Paz dentro do conflito? A resposta a esta questão é muito individual e simultaneamente muito sistémica. Começa no reconhecimento de que estamos todos interligados, numa unidade dinâmica de equilíbrio dinâmico, pois a vida é movimento. O caminho para a paz é um caminho de amor.
“Além do certo e do errado, existe um lugar; somente ali nos encontraremos” (Rabindranath Tagore).
TERAPEUTA HOLÍSTICA
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in REVISTA PROGREDIR |ABRIL 2022
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