Por Vera Vieira da Silva
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Tal como o símbolo milenar do Yin Yang nos revela, tudo é feito de polaridade, de dualidade, ao mesmo tempo que contém em si o princípio do seu contrário, o que traduzido para uma linguagem mais coloquial e adaptado a este contexto, significa que aqueles que vivem com aparente facilidade e abundância financeira podem experienciar - e por vezes esconder - ausência ou insuficiência, seja de auto-estima, de amor-próprio ou de realização pessoal; por outro lado, pessoas com menos recursos financeiros podem viver muito mais dos seus recursos internos, tentando descobri-los e utilizá-los para enfrentar os desafios que a vida lhes coloca, dando-lhes uma maior sensação de realização pessoal. Tudo é tão relativo.
Somos tentados a pensar que a nossa felicidade vem da abundância de recursos, nomeadamente externos, leia-se “financeiros”, e que com ela os nossos problemas pessoais deixariam de existir. Mas a verdade é que a vida não funciona de todo assim. Por exemplo, são comuns os casos de "celebridades" que, apesar de todo o seu sucesso, atenção recebida e recursos de que dispõe vivem na dependência de álcool ou drogas - muitas vezes fruto da pressão que têm sobre si e de toda a sua exposição pública, desejada ou não - como forma de fugir aos seus problemas pessoais, o que em casos extremos pode culminar numa morte acidental ou mesmo suicídio. Como nos diz a sabedoria popular, tantas vezes certa, "o dinheiro não traz felicidade".
Nos últimos anos todos fomos afetados por um problema comum, que tem possibilitado valiosas aprendizagens. Um dos maiores benefícios da crise que nos atingiu e que ainda surte os seus efeitos é exatamente o de nos relembrar que a abundância de recursos financeiros pode ser uma enorme ilusão e também que é possível viver de forma plena mesmo quando os recursos são reduzidos (exceto, naturalmente, em situações mais dramáticas). Há muito que não se viam tantas iniciativas pessoais, tantos pequenos negócios, artesanato, tanta imaginação e tantas boas ideias colocadas em prática. Tantos dons antes desconhecidos dos seus próprios donos que viram à luz do dia porque as dificuldades e a necessidade assim obrigaram. Nas palavras de Platão, "A necessidade é a mãe da invenção".
Sem esta crise, quantos de nós nunca teriam descoberto dentro de si incríveis talentos? Sem as dificuldades e os desafios que a vida nos tem colocado - e a frustração por eles causada - como descobriríamos a profundidade da nossa própria imaginação, e quebraríamos as barreiras que erguemos para nós próprios até agora?
A plenitude é exatamente a realização do potencial escondido, que muitas vezes fica obscurecido pelas distrações do dia-a-dia, pelas inseguranças e até pela preguiça e indolência que vêm da vida confortável e sem grandes dificuldades. À medida que a qualidade de vida foi aumentando, fomo-nos tornando passivos, esperando cada vez mais que as soluções e a ajuda viessem de fora, em vez de as procurarmos dentro de nós. Mas é assim mesmo que funciona: é a necessidade que leva à invenção, à criatividade e à evolução - essa é, desde sempre, a história da humanidade.
Concluindo, tudo isto significa que o segredo da plenitude que procuramos está dentro de nós e, no fundo, nada tem a ver com abundância de recursos financeiros: a verdadeira sensação de plenitude é o resultado da realização do potencial que existe dentro de nós, quando este se manifesta de dentro para fora.
CRIADORA DE CONTEÚDOS DE ÂMBITO CULTURAL E AUTORA DE ARTIGOS SOBRE DESENVOLVIMENTO PESSOAL E AUTO-CONHECIMENTO
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in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2017
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