Por Frederico Cruzeiro Costa e Joana Vann
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2012
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Em termos muito gerais, podemos afirmar que o/a ES propõe algo de diferente para a resolução de problemáticas diversas, acrescentando valor à sociedade em que se insere. Em tempos conturbados e de rápida mudança como os que vivemos, o/a ES tem diversos desafios para os quais procura criar propostas de valor- desemprego, envelhecimento, carência socioeconómica, exclusão social, pobreza, problemas ambientais, entre muitos outros.
Como se define, então, o/a empreendedor/a social? Há várias definições e, mesmo entre o meio académico, não existe um consenso. No entanto, optámos pela definição da Ashoka, organização internacional pioneira no trabalho com o conceito de empreendedorismo social:
“O empreendedor social aponta tendências e traz soluções inovadoras para problemas sociais e ambientais, seja por ver um problema que ainda não é reconhecido pela sociedade e/ou por vê-lo através de uma perspetiva diferenciada. Através da sua atuação, ele acelera o processo de mudança e inspira outros atores a envolverem-se em torno de uma causa comum.” (Ashoka:2005)
O/A ES social é, pois, alguém auto-confiante, resiliente à frustração, auto-motivado/a, criativo/a, flexível, enérgico/a, com uma excelente capacidade de comunicação e forte orientação ética. A liderança, a negociação, a perseverança, a capacidade de planeamento fazem também parte do seu rol de características, a par da sua propulsão para a iniciativa e da sua facilidade no relacionamento interpessoal, sendo transversal a todas estas características a sua paixão por pessoas e pela mudança.
Contrariamente ao empreendedor tradicional (o criador de empresas), o foco do/a ES não se prende com a orientação para o lucro nem o seu ponto de partida é individual. O/A ES inova, produzindo bens e serviços para a comunidade, tendo o coletivo em mente e visando o maior impacto social possível, de modo a capacitar pessoas em situação de desvantagem e, consequentemente, induzir uma mudança social e de valores.
Exemplos de Empreendedores/as Sociais
Apercebendo-se de que a comunidade residente nas favelas do Rio de Janeiro vivia numa situação de info-exclusão, o ES brasileiro Rodrigo Baggio fundou o CDI- Center for Digital Inclusion, tendo como missão a promoção da inclusão social através das TIC. Em 1995 abriu a organização sem fins lucrativos Escola de Informática e Cidadania, que está atualmente presente em 12 países, proporcionando computadores e formação em inclusão digital e abrangendo mais de 145 000 pessoas.
O/A ES pode ser uma pessoa individual que decide abraçar uma causa como sua missão de vida ou pode ser um coletivo de pessoas que se comprometem com a resolução de um desafio previamente diagnosticado, independentemente da dimensão da organização (micro, média, grande). O empreendedorismo social pode corporizar-se sob uma multiplicidade de formas, desde grupos informais a associações, passando por cooperativas e podendo até assumir a forma de modelo de negócio social (próximo do empresarial), garantindo a sua sustentabilidade.
O ES Indiano Dr. G. Venkataswamy fundou em 1976, o Aravind Eye Care System que nasceu sob a forma de um hospital oftalmológico dirigido a todos os cidadãos indianos que sofressem de cegueira incurável (ex. cataratas). Apresenta um serviço de excelência a todos os seus utentes, tanto aos que podem pagar, como aos que não podem. O Grupo Aravind tem atualmente cinco hospitais de oftalmologia, onde se fazem mais de 300 000 operações anuais às cataratas; somente 35% dos utentes pagam o custo dos serviços prestados e os restantes 65% nada pagam. Através da operação efetuada, a pessoa tem a possibilidade de voltar a ver, facilitando a sua empregabilidade. Há registo de quatro grandes hospitais de oftalmologia que solicitaram ao Grupo Aravind que os liderasse, utilizando a sua metodologia de trabalho vencedora.
Podemos então, interrogar-nos se o empreendedorismo social é uma profissão. Do nosso ponto de vista, falar da profissionalização do/a ES é falar de um profissional hibrido, com competências a vários níveis, representando uma fusão entre o profissional remunerado (assalariado ou não) e o voluntário. O/ A ES é um ativista comprometido com a sua causa, daqui que facilmente se torne inspirador.
O/A ES dorme a pensar nas pessoas, nos problemas sociais que quer resolver, nas causas para que quer alertar; sonha com as soluções e com o modo como vai envolver a comunidade nas mesmas e acorda determinado/a a colocar em prática as respostas encontradas e que podem trazer a diferença para milhares de pessoas. Ser ES é mais que uma profissão, é assumir uma missão de vida, é viver 24h para uma causa, para um movimento de transformação, para uma entrega apaixonada.
Nos tempos de incerteza que vivemos, não é fácil ser ES. A dificuldade em conciliar a vida profissional com a pessoal, o burnout, o excesso de trabalho, as remunerações moderadas ou escassas ou a procura constante de apoios, financiamentos ou patrocínios são alguns dos constrangimentos desta profissão.
Quer ser um ES, deseja fazer a mudança na vida dos outros? Se calhar já o é, e não se apercebeu ainda, na forma como se entrega a resolver os problemas do seu bairro ou da sua comunidade, na forma como pensa em soluções que podem mudar a vida de milhares de pessoas, ou de apenas um grupo de jovens da sua comunidade. No entanto, faz a sua missão de forma voluntária e informal, muitas vezes como um hobby que lhe preenche alguns tempos livres, mas que nesses momentos lhe preenche por completo a alma e o coração e, então, porque não pensar em ser um ES profissional? Existem muitas organizações a precisarem de ES capacitados e com vontade de fazer a diferença! Junte-se a nós, junte-se a este movimento e…
“Seja você a mudança que quer ver no mundo” – Mahatma Ghandi
REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2012
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