in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2021
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Para continuar, foi necessário encontrarmos as partículas de felicidade no meio do caos, interno e externo, em que navegámos.
Com base nas minhas vivências deste período em particular que a nível pessoal se revelou desafiante e intenso, percebi que a felicidade pode surgir de um simples facto: aceitar a vida tal como ela se apresenta. Passar de um lugar de rejeição pela vida tal como ela é, para um lugar em que escolhemos viver, da melhor forma possível, o que a vida nos traz, caminhando em paz com as nossas escolhas e circunstâncias. É nesse lugar minúsculo, em que definimos a forma como cumprimos a vida na sua forma crua e real, que encontramos o caminho para a felicidade. Focando-nos na abundância do que já temos e naquela que é a nossa verdadeira essência, ao invés de nos cingirmos ao que é suposto e esperado de nós e/ou ao que não temos e gostaríamos de ter. Esta lealdade para connosco torna-se urgente e acompanha a noção clara e cada vez mais presente de que o tempo não tem tempo. Eu pessoalmente tenho uma capacidade extraordinária para o daydreaming, para a cobrança do que queria ter feito e não fiz, a frustração de querer fazer e, seja porque motivo, não conseguir. Às vezes são escolhas minhas, falta de organização, de foco, etc. mas às vezes é apenas a vida a acontecer. E é no deixar cair desta ilusão do controlo e perfeccionismo que reside a serenidade de aceitar as coisas como são, alavanca essencial para integrar a felicidade em nós.
Por outro lado, percebi o quanto me nutre o amor e cuidado que tenho pelo outro, e vice-versa. A meu ver, as relações humanas são de facto condição para sermos felizes, para nos sentirmos inteiros e parte integrante de um ecossistema que tem tanto de complexo e caótico como de simples e bonito. A essência da partilha e comunidade acrescenta-nos, e é neste balanço do dar e receber com o outro que percebemos que alguém nos importa e que nós importamos a alguém. Somos inspiração uns dos outros e a felicidade anda de mão dada com a escolha daqueles que queremos por perto, nutrindo as relações em que somos vistos, respeitados e aceites.
Não posso também deixar de escrever sobre os opostos, acreditando que tudo é dual e que a felicidade está sempre conectada com o seu oposto, a tristeza, por exemplo. Impossível sentir e ser uma coisa, sem sentir e ser a outra. Tudo faz parte e a recusa de algo tão natural conduzirá certamente ao vazio. Acreditar que vivemos sempre num dos extremos desta linha é ilusório e acolher todas as faces que nos compõem afirma-se como uma abertura para a vida plena e inteira.
Quase em jeito de conclusão, importa perceber a felicidade como algo simples, natural, que não deve ser comparado com os níveis de felicidade do outro, nem definido, nem pensado. Tendemos a ser muito exigentes nesta matéria, querendo sempre mais e/ou diferente, e achando sempre insuficiente o que temos hoje. Se por um lado esta aspiração à evolução nos faculta o fogo do início e da renovação, importa que sejamos mais brandos connosco e com o nosso processo e encaremos a felicidade com a leveza e ritmo que ela própria representa. É importante sermos meigos e procurar esse equilíbrio na forma como nos tratamos e como comunicamos connosco (e com os outros). Agradecer de onde viemos, quem somos, quem temos à nossa volta e onde estamos. E agir com coragem em direção à mudança, responsabilizando-nos por essa escolha, sempre que sentirmos que o lugar onde estamos não serve a nossa alma.
E termino com uma palavra: permissão. Permitam-se ser felizes com o que têm hoje. Não é preciso mais nada porque o instante seguinte não é garantido. Somos todos merecedores, guardiões e facilitadores da felicidade que tanto almejamos. Fechem os olhos e lembrem-se daqueles momentos em que algo vos fez sorrir ou chorar. Sim, a felicidade também faz chorar. Ela tem diversas formas, sons, aromas, sentires e sabores. Permitam-se perceber que o poder e a força de a descobrir está em vocês, no vosso centro, no vosso peito. É o que faz bater mais rápido o vosso coração, e também o que acalma esse pulsar. Lá está, os opostos fechando o ciclo. Sejam corajosamente felizes.
CONSTELADORA
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