in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2015
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É necessário, de vez em quando, colocarmo-nos à margem da sociedade como meros observadores, de nós, dela e do papel que desempenhamos nela. Se a autenticidade não está presente à nossa volta, talvez o único lugar onde a possamos encontrar seja no nosso interior. Numa sociedade que proclama a agitação, a correria, o consumismo e o barulho, parar e procurar dentro de nós o nosso eu autêntico é um verdadeiro ato revolucionário.
A vida de todo o ser humano é uma viagem em que vamos, numa primeira fase, construindo a nossa identidade baseando-nos na das pessoas que nos rodeiam. Adoptamos formas de ser, de estar, de pensar dos nossos pais, de familiares, professores, amigos... fazemos isso para lhes agradarmos, para sermos aceites num grupo, para nos integrarmos como membros da sociedade. Acumulando essas características, vamos criando uma identidade que pensamos ser nossa, mas que é na realidade uma falsa identidade, porque essas características que adoptamos não são originalmente nossas, limitámo-nos a copiá-las e comportar-nos com se fossem parte de nós. Antes de nos tornarmos autênticos, temos de ser aquilo que não somos para nos apercebermos que não somos isso.
Numa segunda fase, assim que começamos a despertar e a aperceber-nos que quem pensávamos ser é apenas uma imagem distorcida do nosso eu autêntico, começamos a destruir essa falsa identidade, pacientemente e corajosamente, eliminando peles e máscaras que fomos vestindo para esconder as nossas fraquezas, os nossos defeitos, por medo, por vergonha, para agradar. É o momento em que matamos pequenas partes que estão em nós sem serem nossas, mas pelas quais fomos ganhando afeto. O despertar é um momento doloroso, mas imprescindível. Ao tomarmos consciência do “falso eu” - do ego - e aceitando essa nossa falsa identidade, ganhamos espaço para crescer, para melhorar-nos e tornarmo-nos no ser autêntico que somos na nossa essência. Pode parecer um paradoxo, mas só quando nos aceitamos como somos é que conseguimos mudar.
Para ser quem somos autenticamente, temos de começar por ser autênticos connosco próprios e pôr de lado todas as expetativas que os outros esperam de nós, temos de abdicar de querer agradar. E sobretudo, para nos tornarmos autênticos, temos de querer ser autênticos. Sem vontade de mudar, nada muda.
Numa terceira fase, vamo-nos reconstruindo lentamente. Há mil e uma formações de desenvolvimento pessoal e terapias complementares. Todas lhe trarão algo novo, através delas descobrirá algum aspeto seu de que não tinha consciência. Mas nenhuma lhe transmitirá a verdade autêntica. A autenticidade não se pode ensinar, apenas pode ser incentivada e vivida. O eu autêntico só pode ser encontrado dentro de cada um e pelo próprio indivíduo. Para mudar de forma profunda, tem de observar-se como um mero observador externo, sem julgar, apenas para consciencializar-se dos seus hábitos, dos seus padrões e dos gatilhos que os provocam. Ao descobrir esses padrões e esses gatilhos, tem de continuar atento a si para ver quando eles vão surgindo e substituir a antiga reação limitadora por uma nova, potenciadora de crescimento.
Para se tornar autêntico tem de descobrir o que não o é em si. Esteja atento aos seus pensamentos, às suas palavras, às suas ações, aos seus padrões de reação em situações específicas. Ao descobrir as partes de si que não são autênticas, não as repudie, não finja que não existem. Aceite-as como caraterísticas que foram necessárias para o trazer a este momento. Agora é tempo de lhes agradecer, de as deixar partir e de as substituir, pelo ser autêntico em que se irá tornar. Algumas mudanças ocorrerão de forma repentina e outras de forma gradual. Quanto mais enraizados em si os seus padrões estiverem, mais fundo terá de escavar e mais tempo levará a quebrar esses ciclos de hábitos. Com paciência, conseguirá construir o seu eu autêntico.
Tornar-se autêntico é uma prenda para si e para a sociedade. Ao tornar-se autêntico libertar-se-á da ilusão e fará com que outros se permitam libertar-se. Só havendo indivíduos autênticos é que a sociedade se poderá tornar autêntica. É por isso imprescindível, se queremos melhorar o mundo, que cada um de nós construa o seu eu autêntico. Não conseguiremos criar um mundo visível autêntico se dentro de nós não houver autenticidade. Enquanto se mantiver a ilusão na mente do ser humano, a ilusão perpetuar-se-á no mundo material.
A partir do momento em que se torna autêntico, provavelmente os seus amigos e próximos terão tendência a afastar-se se ainda não estiverem no processo de se tornarem autênticos. Não há mal nenhum nisso, cada um tem o seu ritmo de crescimento, de aprendizagem e de transformação. Mantenha-se fiel à sua autenticidade e seja essa autenticidade sem obrigar ninguém a seguir o mesmo caminho que percorre. Cada indivíduo percorre o seu caminho individual dando os seus passos, ninguém pode caminhar pelos outros. Ser autêntico é também ser tolerante e compreender que cada um tem o seu percurso a fazer. Por mais que queiramos elevar os outros, o processo de se tornar autêntico é um processo de crescimento individual e que ocorre do interior do ser para fora, quebrando assim a casca do ovo e renascendo como um novo ser autêntico.
PATRICK AFONSO FORMADOR, COACH, PRACTITIONER PNL E AUTOR facebook.com/PatrickAfonso.Inspira [email protected] in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2015 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |