in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2021
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
A pandemia em cada uma das suas vagas fez com que as pessoas tivessem a necessidade de adaptar a forma como viviam a vários níveis e em vários contextos, no entanto a maior revolução de todas foi o contato mais próximo das pessoas com as suas emoções, sentimentos e pensamentos.
Este encontro ou reencontro, se assim se pode chamar, levou a que muitas pessoas tivessem que olhar diretamente para si mesmas, reparando em muitas emoções escondidas, em muitos sentimentos guardados pela azáfama da vida e, certamente, assustou muitas pessoas que não estavam habituadas a olhar para dentro de si.
Afinal, porque será que as pessoas têm tanto medo de olhar para si mesmas? Porque há um receio tão grande para gerir o que sentem, para poderem melhorar a sua vida? Será que as emoções são assim tão difíceis de compreender?
A segunda vaga da pandemia, bem que podia ser chamada para muitas pessoas como a segunda vaga de emoções, pois tal como uma tempestade veio desarrumar algumas mentes que achavam estar tranquilas e veio abanar algumas estruturas que pareciam fortes e defendidas de qualquer intempérie. O confinamento foi quem proporcionou a cada pessoa, o estar mais tempo consigo mesma, coisa que se revelava quase impossível com a gestão do dia-a-dia e com tudo aquilo que se tem que fazer, no entanto agora que se ficou limitado a quatro paredes e que olhamos para nós mesmos, ocorreu um grande confronto do qual não há vencedores ou derrotados, mas o qual tem que ser encarado como um desafio a viver.
Todos nós temos emoções que não queremos sentir e que arrumamos nas gavetas mais bem fechadas da nossa alma ou porque são causadoras de dor ou porque achamos que não faz sentido serem revividas, pois já passou o tempo para esse debate. No entanto, se ainda causam algum impacto na forma como vivemos, se ainda nos assusta e mexe connosco, significa que ainda precisam ser encaradas de frente, para as gerirmos de forma consciente e saudável, pelo nosso bem-estar e felicidade.
Porque não aproveitar esta oportunidade criada por algo menos bom, para assumir que precisamos reaprender a gerir o que sentimos? É o convite que a segunda vaga nos faz, agora que temos que voltar a estar em confinamento e agora que temos que reaprender a gerir o que sentimos e até a forma como nos relacionamos com os Outros e acima de tudo connosco mesmos. É urgente estarmos atentos aos apelos do nosso coração, que clama tantas vezes por um pouco mais de tempo, de atenção, de compreensão e acima de tudo de aceitação.
Esta segunda vaga de emoções e afetos veio questionar também a forma como vivemos as nossas relações no dia-a-dia, que agora, para muitas pessoas parecem mais importantes, por causa das saudades e da ausência física do afeto, do toque, das palavras frente-a-frente, quando muitas vezes não cuidamos das nossas relações diariamente, tal como merecem ser cuidadas e nutridas. Será que as relações ganharam mais importância agora que não podemos estar fisicamente e como desejamos com as pessoas que dão sentido à nossa Vida?
Esta é uma questão que merece alguma reflexão, pois talvez não estejamos a viver as nossas relações da forma como gostaríamos ou até possamos ter algumas relações pouco cuidadas, por causa da forma intensa como vivemos e da forma como organizamos as nossas prioridades pessoais e emocionais.
Atualmente as tecnologias são uma das formas de comunicarmos com quem amamos e com quem faz sentido no nosso viver, aproximando-nos na medida em que é possível e sendo uma das únicas formas de comunicar, no entanto, não têm sido também a mesma forma de comunicar, mesmo sem haver as restrições que hoje existem e que substituem o contato presencial?
Sim, quantas são as vezes que deixamos de nutrir as relações com as pessoas que queremos na nossa vida e deixamos de lhes dar a devida importância para o nosso viver e, hoje que não as podemos viver como outrora, sentimos ainda mais a necessidade de as viver, a necessidade de estar perto, conviver. No entanto, porque não era isto feito anteriormente à segunda vaga? Porque deixámos de nos relacionar livremente?
A segunda vaga das emoções veio trazer muitas questões para serem respondidas de forma consciente e com o coração sereno, de modo a podermos reaprender a estar connosco mesmos, para podermos também aperfeiçoar a forma como nos relacionamos com os Outros e a forma como queremos reinventar as relações e relacionamentos que venham a surgir por aí em diante. Esta vaga veio também criar a oportunidade certa para nos aproveitamos ao máximo, cada segundo que estamos connosco mesmos, sem medos, sem pressa, para podermos gerir o que sentimos, para podermos aperfeiçoar o nosso viver.
ENFERMEIRO / ESCRITOR
www.semearemocoes.com
Facebook: Ricardo Fonseca - Escritor
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