Por Sara Ferreira
in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2022
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Perceber que você tem autonomia cria esperança, o que lhe permite agir e dar passos pequenos, o que reforça o seu senso de controlo. Faça a escolha de atender às suas necessidades físicas, por exemplo.
Isso pode ser tão simples quanto levantar-se para alongar as pernas quando estiver a sentir-se tenso(a) e rígido(a), ou almoçar com colegas de trabalho em vez de sozinho(a) na sua mesa ou ir deitar-se quando estiver cansado(a).
Fazer a escolha para realizar estas pequenas coisas fará com que demonstre a si mesmo(a) que você tem algum controlo sobre o decurso dos acontecimentos, e que pode sempre fazer algo para evitar o acumular da situação.
E se você estiver numa posição profissional em que as pessoas realmente têm exigências irracionais e você não pode definir limites, pense em algo maior. Considere procurar um novo emprego ou até mesmo uma nova carreira. Essas mudanças provavelmente levarão tempo. Mas é bom lembrar que a escolha está lá.
A vida não tem que ser da forma que sempre foi. Mudar a sua mentalidade e tomar pequenas acções irá ajudá-lo(a) a começar o processo de se sentir menos esgotado(a) e mais esperançoso acerca do futuro.
Por isso, a minha querida pessoa por certo já percebeu que responsabilidade sobre a sua vida é de uma única pessoa: SUA! Você é responsável por grande parte do que acontece na sua vida.
Você pode estar a pensar agora: “Ah, Sara, mas há coisas que acontecem comigo e com os outros que não fomos nós mesmos os responsáveis, nós não escolhemos isso…”
Veja, eu vou afirmar novamente aqui: SIM! Você é responsável por isso.
Vamos deixar claro uma coisa: RESPONSABILIDADE é diferente de CULPA.
Vamos tomar o exemplo de uma pessoa que se está a separar, e vamos imaginar que ela não queria isso… Foi o parceiro dela quem tomou essa decisão, e ela está a sofrer muito com essa situação.
Mesmo que ela não tenha escolhido separar-se, ela ainda assim é responsável. Ela é responsável pelo que irá fazer com a vida dela a partir daquele cenário. Ela vai ficar triste e chorar? Vai implorar para que o parceiro volte? Ou irá analisar e aceitar os factos como eles se apresentam?
Assim, todo(a)s temos uma escolha: podemos sucumbir à pressão psicológica dos desafios ou as catástrofes da vida (como uma pandemia, por exemplo) ou aproveitar a oportunidade para induzir crescimento pessoal. Você provavelmente sabe por experiência própria que quando as coisas parecem desesperadoras e os tempos são difíceis, acabamos por pensar, sentir e fazer coisas que não considerávamos ou nem pensávamos possíveis durante os tempos menos “sombrios”.
Uma das frases que mais impacto tiveram em mim, tanto do ponto de vista pessoal como profissional, a partir do momento em que percebi o que realmente nos quer dizer, é o poder da escolha pessoal, da capacidade de transformação e regeneração que todos, sim, TODOS nós temos (mesmo que ainda não tenhamos disso (noção)) em decidir como queremos olhar para os acontecimentos da vida à nossa volta, por mais caóticos que aparentemente eles nos possam parecer.
Há uma frase (adoraria neste momento lembrar-me qual é o seu autor) que é mais ou menos esta: "Se as circunstâncias parecem não mudar, use as circunstâncias para se mudar" e isso, de facto, muda TUDO e faz absolutamente TODA a diferença.
A verdade é que quanto mais caminhamos na nossa jornada de autoconhecimento (nomeadamente aquela que é proporcionada pelo processo psicoterapêutico), mais nos vamos dando conta de algo essencial: não importa o que aconteceu ou está a acontecer na sua vida, importa apenas o que você é capaz de fazer com isso.
– O que aconteceria se, ao invés de gastar toda a sua energia a brigar com o momento presente, você utilizasse este mesmo potencial energético para fazer do que quer que seja que esteja a acontecer no aqui agora o melhor possível?
Quanto mais ganhamos familiaridade com a psicologia e a gestão das emoções aplicada à vida quotidiana – que o(a) arranca de dentro da sua cabeça e dos seus pensamentos e coloca-o(a) dentro de uma outra esfera de perceção da vida à sua volta – mais nos vamos dando conta de que tudo tinha que acontecer da forma como aconteceu. E, mais do que isso, tudo no fim de contas poderá ter sido justamente aquilo de você precisava para evoluir.
Só que, para isso, precisamos esvaziar… e não há nada mais difícil do que abrir mão do controlo e da necessidade de que tudo aconteça como a sua mente quer que aconteça.
Acredite, é libertador. Saber que não somos vítimas do contexto, do frio, da chuva, da crise, da economia, do desemprego, ou da "morte da bezerra". Saber que podemos criar o nosso destino. Saber que está tudo na nossa mente e na nossa visão do mundo.
E, realmente, depois que entendemos isto, tudo à nossa volta começa a mudar.
Por isso, precisamos cuidar das nossas emoções com algum e especial carinho. Há o poder da escolha. E de fazer decisões conscientes. Esta capacidade não lhe deveria servir apenas para escolher que sapatos usar hoje ou amanhã… Esta capacidade dá-lhe a possibilidade de escolher a sua atitude perante o dia-a-dia. Em todas as circunstâncias incontroláveis, você começa a escolher entre ser mais ou menos (de você mesmo(a)).
Então, no dia de hoje, gostaria apenas de perguntar-lhe:
– Você relaciona-se com pessoas com personalidade controladora e autoritária para evitar ter que tomar as próprias decisões?
– Você fica à espera que alguém o(a) venha salvar?
– Você questiona-se frequentemente “Porque é que não consigo fazer com que a mudança aconteça na minha vida?”
– Você sente-se desprotegido(a), e fica a desejar que alguém o(a) proteja?
– Você procrastina diante dos mesmos desafios, vez após vez, deixando um monte de pendências na sua vida?
– Você vive no conflito interno de "Porque é que, sabendo quais são os meus grandes objetivos e que mudanças preciso fazer para os alcançar, não consigo fazer com que essas mudanças aconteçam?"
– Você atrai os mesmos relacionamentos, com pessoas diferentes, pois não muda o seu padrão?
– Você mente para si mesmo(a) para evitar assumir a sua responsabilidade?
– Você identifica-se com alguma destas formas de evitar escolher e tomar responsabilidades, ou outra forma? Qual? Se quiser, escreva-me nos comentários.
Pense nestas perguntas e avalie-se ao longo dos próximos dias. No fim de contas, vai ver como assumir a responsabilidade sobre a própria vida é bem mais difícil do que falar sobre isso.
Muitos dos sofrimentos das pessoas que me procuram são estes: não aceitar os factos como eles se apresentam.
E as pessoas que conquistam grandes coisas e sonhos, sem sombra de dúvidas fizeram justamente o contrário: aceitaram os factos como são, e deixaram que a Vida lhes trouxesse o melhor.
E, acredite, a Vida surpreende-nos maravilhosamente quando aprendemos a fazer isso.
Então, eu afirmo e reafirmo: a responsabilidade é totalmente! Responsabilidade, ou melhor, responsa-habilidade, a habilidade em dar uma resposta, essa habilidade ou super poder divino e potencialmente criativo em dispor-se a responder perante o que quer que nos aconteça.
E ainda bem… Porque se a responsabilidade é sua, o poder de criação e transformação também é!
PSICÓLOGA CLÍNICA, FORMADORA E AUTORA, MEMBRO EFECTIVO DA ORDEM
DOS PSICÓLOGOS PORTUGUESES
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