Por Ricardo Fonseca
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2013
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No que diz respeito à saúde, a questão das fronteiras pode ser analisada através de diferentes ângulos, como por exemplo a quebra das mesmas que vai equilibrar a igualdade de acesso aos cuidados de saúde entre todos os seres humanos e a partilha e transferência de inovações a nível global.
Uma das grandes alterações políticas que ajudou a derrubar as fronteiras nos cuidados de saúde foi a diretiva da União Europeia de 2012, que veio definir a igualdade de acesso a todos os cidadãos europeus em todas as instituições dos estados membros independentemente da sua origem.
Esta nova legislação também promoveu o acesso de cuidados entre diferentes regiões do mesmo país com diferentes ofertas e necessidades de cuidados de saúde diferenciados, derrubando assim as fronteiras regionais e locais.
Também temos assistido à implementação de novas medidas legislativas que vieram eliminar fronteiras relacionadas com a discriminação por deficiência, género, raça e que promover a transformação de edifícios, de instituições de saúde e solidariedade social, para uma igualdade de acesso aos cuidados de saúde.
As redes sociais com o seu desenvolvimento e abrangência têm cumprido um papel de relevo no alargamento das fronteiras da saúde através da facilitação da troca de experiências, conhecimentos e pelo grande poder de associativismo entre cidadãos de todo o mundo com objetivos comuns.
Durante muitos anos a saúde esteve condicionada pelas fronteiras territoriais em que todas as medidas, progressos e inovações estavam unicamente direcionadas para o país de origem não havendo qualquer partilha de informação e de conhecimento. O conhecimento era apenas partilhado pelos grandes mestres na área da saúde através da publicação de livros, ensaios clínicos.
A nível académico cada país tinha os seus próprios programas de estudos não havendo igualdade formativa para profissionais da mesma área de atuação e entre unidades de saúde que desempenhavam os cuidados de forma diferente e autónoma.
O alargamento das fronteiras além das suas características geográficas conduziu à partilha de conhecimento, à uniformidade de algumas tipologias de cuidados, à criação de associações mundiais e obteve o seu maior pico de expansão com a criação das organizações não-governamentais que promovem a saúde e previnem a doença em todo o mundo.
Estas organizações de cuidados de saúde, quer seja em regime de voluntariado ou não, baseiam os seus princípios na formação adequada, no fornecimento de terapêutica e equipamento médico, na oferta de profissionais de saúde e criam o ideal de igualdade num mundo sem fronteiras.
Um dos grandes exemplos conhecidos em todo o mundo é a associação Médicos Sem Fronteiras que ao longo dos anos têm sido os grandes responsáveis pela melhoria dos cuidados de saúde, a diminuição das tachas de prevalência e incidência de algumas doenças até então consideradas pandémicas e endémicas. Esta associação através do envio de profissionais de saúde especializados em diferentes áreas tem realizado ações de formação, alterado a forma como alguns cuidados são prestados, contribuindo para a educação em saúde e redução de doença e dos estigmas associados.
Existem outras ONG’s como os Veterinários sem Fronteiras, os Sorrisos sem Fronteiras, Coração sem Fronteiras, o Mundo a Sorrir, Associação de acupunctura sem fronteiras entre outras, que tem desenvolvido campanhas e projetos de inovação em saúde em todo o mundo derrubando quaisquer fronteiras existentes em qualquer âmbito.
Independentemente de todos estes avanços existem nos dias de hoje, com grande grau de relevância, algumas fronteiras que devem ser derrubadas, que são as fronteiras mentais. A discriminação, o preconceito, as correntes políticas e económicas são as grandes barreiras que ainda impossibilitam uma travessia igual e equilibrada do conhecimento, dos cuidados, da inovação, da igualdade.
Uma saúde sem fronteiras, para muitos seres humanos, ainda é uma utopia e um horizonte longínquo, mas cada cidadão pode responsabilizar-se por concretizar medidas de mudança e transformação. As fronteiras têm o poder e o formato que cada um de nós lhe atribui e compete-nos sermos agentes de mudança para alargar, derrubar e atribuir um novo significado ao conceito de fronteira.
Para uma saúde sem fronteiras é necessário agir e transformar!
Enfermeiro / Escritor
ricardosousafonseca.pt.to
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REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2013