Por Eliana Gavioli
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2015
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O cérebro humano pode ser dividido em dois hemisférios. O direito ocupado com o que é urgente, e por isso mesmo, direto, objetivo, racional e factual. O esquerdo ocupado com o que é importante, e por isso mesmo, criativo, flexível, subjetivo, emocional e relacional.
Existe uma simbologia muito interessante que promove a perfeita compreensão destas polaridades: o animal e a criança.
O hemisfério esquerdo é representado pelo animal, enquanto que o hemisfério direito é representado pela criança. Estas duas personagens representam as duas polaridades que definem todo o conflito humano na sua luta pela sobrevivência e pela transcendência.
O hemisfério esquerdo encerra as dimensões física e racional, cada uma cumprindo um determinado papel. A primeira, no seu papel de produtor, ocupa-se em satisfazer a necessidade de sobrevivência enquanto a segunda, no seu papel de administrador, em satisfazer a necessidade de capacitação, com vista à tomada de decisões.
O hemisfério direito encerra as dimensões emocional e espiritual, cada uma também com o seu papel. A primeira, no seu papel de integrador, ocupa-se em satisfazer a necessidade de relacionamento, enquanto a segunda, em seu papel de inovador, em satisfazer a necessidade de realização.
O animal valoriza o que é mais urgente e usa de força e inteligência para garantir meios de subsistência. Ele é capaz de transmitir toda a segurança de que a criança precisa para acalentar os seus sonhos, livre do medo que constantemente ameaça o seu mundo de encantamento, tentando arrastá-la para um estado de prostração. Para o animal é muito fácil dizer NÃO, realiza a expressão por meio de uma comunicação não verbal com movimentos bruscos e apressados, livres de qualquer embaraço.
A criança valoriza o que é mais importante e usa de sensibilidade e imaginação para garantir o sentido e a contribuição. Ela é capaz de transmitir toda a ternura de que o animal precisa para vencer os seus desafios, livre da violência de que é tomado constantemente e que tenta arrastá-lo para um estado de agressividade. Para a criança é muito fácil dizer SIM, realiza a expressão por meio de uma comunicação verbal com movimentos suaves e calmos, livres de pressa ou atropelos.
Animal e criança brincam num mundo interior, em perfeita sintonia: a criança usufruindo da segurança proporcionada pelo animal, que por sua vez se nutre da ternura oferecida pela criança como recompensa dos seus esforços.
Quando a criança é reprimida na sua expressão, qualquer que seja o motivo, atemorizada, ela corre para se esconder, e o animal, destituído da ternura que a criança já não é mais capaz de prover, torna-se agressivo, demonstrando uma violência capaz de atingir até a própria criança, que se recolhe aterrorizada.
Esta metáfora explica que estas duas entidades que temos dentro de nós, em eterno equilíbrio de forças, quando em desarmonia, impedem o pleno desenvolvimento do ser.
Mas se o animal está violento e a criança atemorizada, o que fazer para que estes dois personagens reconquistem a harmonia natural possível de ser vislumbrada em um bebê enquanto suga o leite materno, aconchegado nos braços de sua mãe?
Como resgatar a harmonia natural que todos nós, seres humanos, temos latente dentro de nós?
A figura de um observador neutro e objetivo que percebe a dinâmica das forças em ação provê o discernimento para manter o equilíbrio tão necessário a uma vida saudável e prazerosa, permeada de relacionamentos sustentáveis, livre de relações abusivas e dedicada à busca de significado.
Somente a apropriação e a expressão da beleza interior são capazes de apaziguar o mundo interior e para isso é preciso olhar para dentro de si mesmo, analisando cuidadosamente o estado da criança interior, calando os seus gritos suplicantes, afastando os seus medos e lembrando-lhe simplesmente que é possível sonhar um futuro melhor.
Por meio de uma consciência ampliada e distanciada da situação, é possível perceber o que suscita as reações intempestivas, das quais somos por vezes tomados e toda a frustração que tolhe os sentidos e conduz a decisões impulsivas.
Tal indignação é o rugido do animal interior, ferido por uma vez mais ter se afastado do seu objetivo primordial de proteger a criança e mantê-la bem e disposta, para juntos se divertirem e aproveitarem tudo o que a vida tem de melhor.
Uma consciência desperta observa atenciosamente tudo o que está a contecer, resguardando-se de situações que geram desequilíbrio e desalinhamento.
Apaziguada a criança corre livre à procura do animal que, incapaz de resistir aos apelos da criança, lança fora toda a sua agressividade e volta a brincar.
A ampliação da consciência provê uma perspetiva mais ampla, integral e ecológica para todas as questões com as quais nos deparamos no nosso cotidiano, perspetiva esta que nos leva a soluções mais sustentáveis em todas as instâncias, sejam individuais, grupais, organizacionais ou globais.
ELIANA GAVIOLI DOCENTE, COACH E EDITORA CHEFE DO MURAL DO COACH www.facebook.com/ElianaSGavioli muraldocoach.com.br [email protected] in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2015 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |