Por Ana Galhardo Simões
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
As mulheres com todas as suas conquistas, passaram a trabalhar fora de casa, sim porque antes também trabalhavam muito, mas dentro de casa, onde infelizmente não eram vistas nem apreciadas. Passaram a ter voz ativa, uma palavra a dizer, mas não deixaram de estar um pouco sozinhas da gestão doméstica e educação dos filhos. Alguns homens, justiça seja feita, adaptaram-se e aprenderam não só a partilhar como a responsabilizarem-se pela dinâmica familiar, outros nem tanto.
As crianças estão mais sozinhas, com menos apoio familiar e em dinâmicas sociais vazias, num culto de imagem que torna as relações mais líquidas e quase sem vínculo.
Ensinamos desde pequenos que a vida é dificil e que a carreira se começa a desenvolver desde o nascimento, com um conjunto infindável de atividades extra-curriculares que pensamos serem úteis no seu desenvolvimento, mas que na verdade as impede de brincar e de serem simplesmente crianças.
A ansiedade e a depressão são as novas doenças do século, que avassalam todos sem dó nem piedade e cada vez mais as pessoas estão desesperadas, sem saber que caminho seguir. Na generalidade não compreendem a razão de estarem assim, mas sentem-se incapacitadas para prosseguir como antes. Não identificaram os sintomas que com certeza já iam aparecendo e quando finalmente não conseguem mais ignorar porque o mal-estar é permanente e parece comandar as suas vidas, já não podem passar sem medicação. Infelizmente isto é verdade também para crianças e jovens, que cada vez mais sofrem de distúrbios de ansiedade, que lhes retiram qualidade de vida.
Sofremos cada vez mais de hiperatividade mental! Sobrecarregamos o nosso pequeno computador, como se ele não se desgastasse e cansasse de tanto pensamento, tantos afazeres, tantas listas que inundam a nossa cabeça e não nos deixam dormir! Precisamos fazer tudo em tempo útil, estar em todo o lado, cumprir com as obrigações familiares e profissionais e ainda assim ter tempo para amar e ser feliz!
Parece que tem sido impossível completar essa tarefa que a vida moderna nos impõe e o custo tem sido a tristeza das nossas crianças, a nossa tristeza e todos os distúrbios e patologias que temos vindo a desenvolver.
O mar que em tempos beneficiava de períodos de tranquilidade, hoje está repleto de ondas ininterruptas, que batem com força na areia e por vezes fazem buracos complicados de tapar ou disfarçar. O mar está claramente bravo e difícil de navegar.
“A nossa mente é como a água, quando está calma e em paz, pode refletir a beleza no mundo. Quando está agitada, pode ter o paraíso em frente e não o reflete!” David Fischman
O que é que cada um de nós pode então fazer para resitir a esta tempestade???
Diria que antes de mais precisamos todos de Respirar!
Precisamos de sair do alheamento que a hiperatividade nos confere para vivermos mais inteiros, mais conscientes, mais presentes em nós e nos outros. Precisamos criar tempo e espaço para simplesmente parar e Respirar!
Por parar não nos estamos a referir a meditações complexas logo pela manhã, quando sabemos que existe um conjunto infindável de tarefas para completar antes de podermos sair de casa. Não! Basta acordar 15 minutos antes da hora fulcral, em que tudo terá que ser feito à pressa, para poder executar todas as tarefas com calma e de forma consciente. Se for possível, porque não tirar uns minutos para nós próprios para começar o dia respirando o seu dia, sem pensar. Praticar esse estado de presença consciente ou mindfulness, não é nada que requeira muito do seu tempo e muito menos da sua cabeça!
É um estado que possibilita a nossa autoregulação, vivendo no momento presente e aliviando esse excesso de energia na zona da cabeça, essa hiperatividade mental, preocupação e confusão que nos esgota e nos obriga a ligar o piloto automático na execução das tarefas quotidianas, anulando a possibilidade de estarmos atentos e conscientes.
Quando vivemos com o piloto automático ligado é como se vivêssemos na estratosfera! Ora viver na estratosfera é o contrário daquilo que o mundo moderno exige de nós e todas as nossas tarefas ficam dificultadas.
Precisamos de Caminhar e sentir os nossos pés no chão! Precisamos de nos enraizar na vida, no aqui e no agora, na nossa capacidade de ação e concretização. Precisamos de nos apropriar do nosso corpo e do nosso sentir. Caminhar possibilita não só a nossa autoregulação como o nosso enraizamento. Quando estamos ligados à terra estamos centrados e conetados a receber e escoar a energia do nosso corpo. Esse processo dá-nos a segurança e a base para que possamos experimentar a vida sem medo e em plenitude.
Estar vivo não é um acaso inútil ou um lanche grátis, que nem nos soube assim tão bem! Estar vivo é uma responsabilidade para connosco e para com os outros, para com a nossa felicidade e o nosso caminho! Dizem que felicidade é um instante de vida que vale por si mesmo. Vamos produzir mais instantes aos quais possamos chamar de Felicidade!
PSICOTERAPEUTA CORPORAL / ESPECIALIZAÇÃO EM CRIANÇAS E JOVENS
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in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2018
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