Por Sílvia Coutinho
in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2020
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Quantas pessoas conhecemos que vivem agarradas a objetos antigos, a roupas com as quais não se revêem, a amizades vãs, a empregos que não acrescentam mais, a relações amorosas tóxicas pelo medo da mudança? Quantas relações amorosas e familiares não mudam porque o medo da mudança as consome no sentimento de impotência e pequenez para as explorar, renovar e reaprender a geri-las e a recriá-las de parte a parte com um maior sentimento de valorização do outro, de escuta ou de conexão? Quantas relações não se transformam por se permitirem ficar no pavor da mudança, gerando bloqueios relacionais sem fim? Quantas vezes impossibilita a sua mudança pelo medo de falhar?
Não vivemos sozinhos. Somos seres relacionais. Necessitamos da existência dos outros para a nossa sobrevivência. Contudo, tal não implica que tenha de se anular e acorrentar em relacionamentos vazios e abusivos ou impedir e sabotar o seu próprio desenvolvimento e percurso pessoal ou profissional. Poderá aprender a assumir a responsabilidade na sua vida, fazer escolhas que não o limitem, mas sim questionar, colocar em causa, rever o que de novo gostaria de semear e construir na sua vida.
1) Renovar Mindset:
Já se deu conta de como tantas vezes é o seu próprio pensamento que o limita? O ser humano é excelente em construir os piores cenários de horror (dentro da sua própria cabeça). Estas ideias e pensamentos intrusivos começam devagarinho a apropriar-se da sua vida, requerendo a sua atenção constante. Vão tornando-se em crenças - ideias ou pensamentos nos quais acredita e por as sentir como verdades absolutas, deixa de as questionar ou colocar em causa. Estas crenças passam a dominar a sua vida, muitas vezes fragilizando-o face às tuas próprias competências pessoais, apavorando-o face ao julgamento dos outros e à sua própria insuficiência (tão temida por si).
Reaprenda a conhecer-se. Não se muda apenas e só porque é possível mudar. Muda-se porque se escolhe mudar, assumindo esse compromisso diário, com os desafios, as dificuldades e obstáculos inerentes. Não se muda apenas com as intenções de mudança. Muda-se com ações concretas e intensa resiliência. Muda-se, pensando no que poderá promover uma mudança efectiva, com conhecimento de causa e não simplesmente ao acaso. Muda-se porque quando se muda quer ser-se melhor. Acrescentar valor.
2) Renovar Emoções:
Reaprenda a aceitar-se. A ser compassivo consigo. Como se sente agora? Não existem emoções positivas ou negativas. Abraçar e escutar as suas emoções, pode ser um excelente ponto de partida para a mudança. Estar com as suas emoções, permitirá descobri-las e descobrir-se a si por de trás delas. As emoções são excelentes bandeirolas que o poderão alertar para as coisas que estão bem ou para as coisas que estão mal e geri-las com mais consciência de si próprio. Ao escutar as suas emoções, conseguirá regulá-las de forma mais saudável. Reaprender a observar com curiosidade as suas emoções e os seus pensamentos poderá ajudar a torná-los os melhores aliados para o seu caminho, o novo caminho que deseja construir.
3) Renovar Caminhos:
Não está nada de errado em por vezes sentir-se insatisfeito ou desmotivado. Mas o que tem feito por si ultimamente? De que modo tem procurado acrescentar valor pessoal nas suas escolhas? De que forma tem acrescentado equilíbrio, saúde e bem-estar na sua vida?
A insatisfação poderá ser o motor de arranque para conduzir a sua vida no sentido que mais deseja e que o concretize. Não existirá nada mais salutar do que nos potenciarmos diariamente. Não há problema em sentir medo. Todos os seres humanos sentem medo quando estão diante de algo que percepcionam como desconhecido ou fora do seu controlo. O medo que sente poderá ressignificar que está a fazer algo desafiante. Necessitamos do medo para nos mantermos focados e é esse mesmo medo que poderá conduzir, em conjunto com a coragem, à construção de novos caminhos, de novos sentidos e à sua superação.
4) Renovar Relacionamentos:
Queremos ser amados. Queremos ser cuidados. Queremos ser estimados, abraçados e acolhidos nas nossas necessidades mais profundas. Queremos pertencer e sentir que nos pertencem. Queremos tanto ser amados que às vezes nos encolhemos para caber no mundo do outro, criando dependências e doença. Ou nos esticamos de mais, sem conseguir acolher o outro em nós, como também merece. Não vale tudo para sermos amados.
As relações são como as plantas. Necessitam de ser nutridas com afeto, com intimidade, com empatia, com confiança, com responsividade e presença emocional para florescerem. A reciprocidade emocional é o que marca os compassos da dança nas relações. Reaprender a valorizar o outro, a escutá-lo, em colocar-se empaticamente no seu lugar, em fazer com que o outro o sinta lá ao seu lado (inteiro), quebra a possibilidade dos bloqueios relacionais se tornarem activos e presentes no relacionamento.
As relações para sobreviverem e se construírem de forma saudável, necessitam de cuidado, de sermos atenciosos para com elas. Que nos liguemos emocionalmente ao outro de forma profunda, mesmo e apesar das vulnerabilidades que fazem de nós quem de verdade somos ou do outro quem é. Necessitam que nos liguemos de forma diferente. Mais conectados. Mais compassivos connosco e com o outro.
É possível assim repensar o amor. Em como pretende amar e como gostaria de ser amado.
Renove os seus laços. Os seus gestos. Os seus pensamentos. Acolha as suas emoções, o que sente. Diariamente. Permita-se dar nova vida à esperança, no sentido de se ligar aquilo que mais o conecta à sua verdade. Necessitará na mala flexibilidade bastante para o fazer acreditar que, recomeçar e fazer(-se) desabrochar, é possível a quantidade de vezes que forem necessárias.
PSICÓLOGA TERAPEUTA FAMILIAR E DE CASAL CLÍNICA DA AUTOESTIMA
www.clinicadaautoestima.pt
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in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2020
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