in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2022
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Ser vulnerável, no entanto, é permitir que haja um verdadeiro conhecimento de nós mesmos, quando em consciência, permitimos aceitar a nossa essência tal como ela é, sem barreiras e sem defesas e, muito menos, sem qualquer receio do que o Outro possa ou não pensar sobre o nosso ser.
Quando nos relacionamos com alguém, seja em que contexto for, há uma grande tendência em mostrar as nossas forças, as nossas emoções positivas, como se fosse essa demonstração, o caminho para o Outro nos aceitar e gostar de nós, pois, deste modo, não se estaria a mostrar aquilo que nem nós gostamos em nós mesmos e que podiam ser uma forma de afastar o Outro de nós.
No entanto, como viver relacionamentos conscientes e saudáveis se receio mostrar quem realmente sou, o que sinto e como vivo? Como relacionar-me com o Outro com vulnerabilidade, sem que isso seja uma forma de magoar mim mesmo?
Estas são algumas questões que devemos colocar, para refletirmos um pouco sobre o modo como, em primeiro lugar nos relacionamos connosco mesmos, pois muitas pessoas, escondem as suas emoções menos positivas e aquilo que gostam menos em si, como se houvesse um tempo futuro, onde se pudesse lidar com tudo de outra forma, impedindo que essas situações causem mazelas no presente que vivemos. Escondemos a sete chaves a nossa verdadeira essência, pois consideramos que o Outro poderá não gostar de tudo aquilo que possa ver e assim, protegemos o nosso ser com capas e máscaras, que mostram apenas o que queremos mostrar.
Neste percurso, onde vamos escondendo partes de nós, impedimos o nosso ser de trabalhar as suas emoções de forma consciente e saudável, para que possamos compreender que a vulnerabilidade não é um sinal de fraqueza, mas sim um sinal de aceitação da nossa verdadeira essência, de quem realmente somos, como vivemos e como sentimos e, principalmente, de como nos queremos relacionar com o Outro.
Ao relacionar-nos com o Outro, dependendo do contexto no qual estamos, poderemos tomar a decisão de escolher com quem partilho a minha vulnerabilidade, sendo que essa escolha terá sempre os motivos mais conscientes para o nosso percurso, pois ser vulnerável, não quer dizer propriamente que temos que nos mostrar totalmente despidos de tudo, perante todos aqueles com quem nos relacionamos. Um dos exemplos onde podemos escolher o quanto vulneráveis nos queremos mostrar, pode ser no âmbito dos relacionamentos profissionais, onde perante os meus colegas de trabalho, podemos optar por mostrar apenas partes de nós, não pelo medo que não gostem de nós, mas tão-somente pelo tipo de relação que existe uns com os outros.
No entanto, muitas pessoas usam as mesmas máscaras e as mesmas defesas em todos os seus relacionamentos, não permitindo mostrar-se vulnerável, para que também possa ser cuidada e amparada. Mostrar a nossa vulnerabilidade também é permitir que, quem nos ama, possa cuidar de nós, apoiando o nosso percurso de vida, ajudando-nos a lidar com aquilo que menos gostamos em nós, para que possamos viver um processo de aceitação consciente de nós mesmos.
Nestes relacionamentos mais íntimos, onde as emoções vividas são mais fortes e consistentes, quanto mais escondemos a nossa vulnerabilidade, maior é o afastamento que podemos criar, pois impedimos que o Outro chegue ate nós, que saiba como nos pode ouvir e ajudar, pois estamos sempre a mostrar as nossas capas e defesas, como se conseguíssemos tudo por nós mesmos, esquecendo que um relacionamento é uma partilha do bom e do menos bom, do que possamos ou não gostar, desde que nos permitamos viver a nossa vulnerabilidade.
Mostrar e aceitar a nossa vulnerabilidade faz parte de um processo de aceitação de nós mesmos, como seres que cuidam e precisam ser cuidados, que amam e querem ser amados, mas para tal é preciso que, nos relacionamentos onde nos sentimos mais confiantes, nos possamos despir de tudo, sem medo que o Outro conheça demasiado de nós mesmos, sem receio que o Outro possa utilizar esses pontos menos fortes em seu proveito. Ser vulnerável é aceitar que o Outro nos Olhe tal como somos e arriscar viver nessa partilha, por igual.
Em cada relacionamento, podemos então escolher a forma como nos mostramos vulneráveis, porém sem assumirmos quaisquer receios ou sentimentos de culpa, quando há algo que não corre da forma como queríamos, pois, em verdade, a Vida está sempre a desafiar-nos a cada passo e a fazer com que possamos compreender melhor quem somos, para nos podermos aceitar e, em consciência, saber a melhor forma como nos queremos relacionar.
Por isso, que não haja receios de nos mostramos vulneráveis junto daqueles com quem comungamos emoções e sentimentos de partilha, de união, pois só despidos de tudo, podemos ser aceites e também reconhecer que, só assim, podemos aceitar o outro tal como ele é, na sua vulnerabilidade.
ENFERMEIRO / ESCRITOR
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