Por Carlos Lourenço Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2013
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A construção europeia (a União Europeia, hoje, consiste numa associação, sob regras aceites, de 27 Estados europeus), produto da vontade de paz duradoura e de progresso comum, estabelece-se e percorre, a cada momento, tensão de reciprocidade exigente. Não há, qualquer que seja a matéria em apreço, em avaliação ou em conflito, senão exigência de equidade no tratamento entre Estados. Mas, a vida, a realidade da vida, obriga à consideração de procura do maior denominador comum no relacionamento entre Estados, sendo certo que a negociação, a troca, em condições de igualdade estrita não é materialmente possível na medida em que não há parceiros iguais, não há parceiros em igual condição de partida. A reciprocidade obriga à diminuição, à minoração, de desigualdade na troca, na relação. Mas não é atingível – a igualdade – em termos absolutos, puros, em ambientes de vácuo, esterilizados, ignorando a desigualdade imposta pela vida. A equidade é um paradigma (resultado em procura, meta), não é um resultado adquirido e mesurável.
Não é fácil construir (e manter) uma relação recíproca. A reciprocidade ocorre entre corpos equivalentes. A condição e perceção masculina sobre um acontecimento (qualquer que seja) não é correspondente à condição e perceção feminina sobre o mesmo acontecimento. A diferenciação do género diferencia a avaliação e a perspetiva de reconhecimento, dos fundamentos e efeitos do acontecimento. Somos distintos e complexos. Sobre qualquer acontecimento, ou processo, o que corresponde a uma relação recíproca é a busca de compreensão mútua sobre o que fazer e deve ser feito. Isto é, o encontro do desenho comum, dos mínimos comuns que permitam aceitação de “troca em condições de igualdade”, ou o reconhecimento de equidade na relação, nas coisas da relação. É nesse exercício complexo de reconhecimento da diferença – e do direito à exposição da diferença – que se determina a beleza de uma relação assente na reciprocidade.
A busca determinista de certezas – e de igualdade entre o que é desigual – não corresponde a exercício honesto de reciprocidade. A consideração e respeito mútuo, a permuta honesta, são fundamentos de comportamento recíproco. Reciprocidade não é igualdade. É, pelo contrário, a procura permanente de respeitabilidade proporcionada na relação e na consideração ajustada da diferenciação. Por isso se justifica a solidariedade – a disponibilidade de ajudar o mais carente – sem prestação de contrapartida.
PROFESSOR, ESCRITOR, CONFERENCISTA
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in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2013
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