por Maria Lourdes Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Ter ou Ser?
Na era do consumo rápido, fácil e aparentemente barato pode parecer mais lógico pensar na maternidade como aquisição de um bem, a concretização de mais um objetivo na vida dos pais ou até apenas um direito sem obrigações. Será este um dos motivos pelos quais o apelo pela maternidade desponta em idades cada vez mais tardias? Na verdade, os filhos serão nossos? Vale a pena ler o poema “Filhos” de Gibran Kahlil Gibran (1883–1931). Ser mãe implica tomar consciência do papel primordial e fundamental que ela desempenha na vida dos filhos, não para os formatar mas sim para lhes proporcionar uma vida plena em termos de saúde, bem-estar e felicidade. Assim, eles possam ser independentes, pensar pelas suas próprias cabeças e corações e atingir os seus propósitos de vida. Para tal a futura mamã deverá reconhecer que, os seus pensamentos, as suas emoções e o seu estilo de vida, assim como os do seu parceiro nesta caminhada, poderão influenciar a saúde e a vida dos filhos. Deverão por isso assumir o poder na decisão das escolhas de estilo de vida, alimentação e saúde.
Medicina e Saúde Materna
Ser mãe é um processo natural, contudo nos nossos dias, a saúde materna encontra-se, talvez, demasiado medicalizada. Penso que seria útil questionarmos mais sobre as consequências daquilo que chamamos evolução e modernidade. Muitas das relações de causa efeito são hoje comprovadas cientificamente. É também reconhecida a influência do uso de tabaco, álcool, droga, radiações, do consumo de certos medicamentos e alimentos no processo embriológico e desenvolvimento fetal.
O Parto, momento único e especial para o novo ser, está a ser objeto de maior atenção da parte da medicina convencional que neste ponto já aceita, em algumas instituições do serviço nacional de saúde, partos mais naturais e até em ambiente aquático. Existem orientações para a redução do número elevado de cesarianas que são efetuadas tanto no sistema público de saúde como em instituições privadas. Há ainda um longo percurso para que o parto seja considerado natural.
Alimentação, Medicamentos e Saúde
Será inevitável o aparecimento de Diabetes Gestacional? A alimentação adequada para controlo do peso poderá evitar o seu aparecimento e deste modo evitar o recurso à insulinoterapia, bem como complicações tanto para a mãe como para o bebé. Mais controversas poderão ser outras questões. Quantas jovens mulheres questionarão o uso de contracetivos, em especial os hormonais, ou o consumo de laticínios e açúcar no aumento de casos de infertilidade? E na saúde dos filhos que conceber?
Questionamos o papel do açúcar como produto potencialmente aditivo e corresponsável por doença física e psíquica? Depressão? Alterações do comportamento? Hiperatividade e défice de atenção?
O China Study, maior estudo epidemiológico que relaciona hábitos alimentares com risco de desenvolver doenças, (resultados estão registados em livro de autoria de Collin Campbell), questiona a relação entre o consumo de proteína animal, em especial a do leite de vaca, com doenças autoimunes, particularmente diabetes tipo 1 cuja incidência aumenta mundialmente cerca de 3% em cada ano. Leite e ovo são os alergénios mais importantes na infância o que está relacionada com os nossos padrões alimentares e podem ser responsáveis pelo eclodir de doenças, como Asma, Rinite, Eczema Atópico e Alergias Alimentares, bem cedo na vida da criança.
Questionar e Refletir
Estamos a dedicar alguns momentos das nossas vidas para nos questionarmos? Para percebermos o efeito das nossas escolhas, no nosso corpo, na saúde do nosso planeta, no aumento das pegadas de carbono e da água?
Ao consumirmos mais cereais integrais em grão, leguminosas, vegetais, alguma fruta, reduziremos muito os consumos de produtos animais e seus derivados, como enchidos ou lacticínios, comprovadamente corresponsáveis pelo aumento da pegada ecológica, dos gases de estufa, bem como de doenças cardiovasculares e epidemias da civilização como são a Diabetes tipo 2 e a Obesidade. Estas atingem cada vez mais crianças e jovens o que não acontecia até há poucas décadas atrás. Portugal é dos países Europeus com mais elevada taxa de prevalência de obesidade infantil e Diabetes do adulto entre os 20 e os 79 Anos de idade (PREVADIAB study SPD, 2011).
O Poder do Consumidor
Esquecemos frequentemente o nosso poder potencial como consumidores no estabelecimento das leis do mercado ao nos deixarmos enganar pelas poderosas campanhas de marketing de algumas empresas e milionárias multinacionais.
Quase não lemos os rótulos dos produtos que adquirimos, a maior parte, processados industrialmente, cheios de aditivos, açúcar, corantes, gorduras trans, e excessivamente salgados.
Caso contrário perceberíamos que os alimentos mais saudáveis são os que se aproximam mais da sua origem natural, colhidos o mais próximo do local onde vivemos, da época, e de preferência biológicos dispensando o uso de herbicidas ou pesticidas químicos e sem modificação genética (OMG).
Ser mãe é por isso uma tarefa grandiosa que ultrapassa os limites da conceção, gravidez, parto e aleitamento materno. Neste contexto, faz mais sentido “ Vou ser mãe” em vez de “Vou ter um filho”.
MÉDICA CLÍNICA GERAL MEDICINA FAMILIAR,
ORIENTAÇÃO ALIMENTAR E MACROBIÓTICA
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)