Por Tiago Botelho
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2019
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Interessante começar por olhar para um antigo mantra, frequentemente usado como uma oração recitada antes de se estudar as sagradas escrituras hindus. Oṁ saha nāvavatu é considerado um śāntiḥ mantra, que é um canto ou oração pela paz, e vem do Krishna Yajur Veda Taittiriya Upanishad**. Vejamos o mantra e o seu significado:
Oṁ saha nāvavatu
saha nau bhunaktu
saha víryam karavāvahai
tejasvi nāvadhítamastu
ma vidvishāvahai
Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ
Que todos estejamos protegidos e unidos.
Nutridos e unidos.
Que possamos juntos adquirir a capacidade de estudar e entender as escrituras.
Que nosso saber seja luminoso e realizador.
Que não exista inimizade entre nós.
Que haja paz, paz, paz.
É tão fascinante ver como este texto, com pelo menos mais de 6 mil anos, aponta para o facto de ser importante um caminho conjunto para se poder encontrar a tão desejada paz. A importância de estarmos juntos para que nos possamos proteger e nutrir e desta forma alcançar o entendimento das escrituras que trazem clareza sobre quem eu sou e que, dessa união, consigamos vislumbrar a realização/felicidade.
A tradição védica, à qual este texto pertence, é uma das visões mais ancestrais que o ser humano conhece, e fala-nos da importância de conhecermos o Eu (Self). Os Vedas são um antigo corpo de conhecimento dividido em Ṛg Veda, Yajur Veda, Sāma Veda e Atharva Veda. No final destes quatro Vedas podemos encontrar a parte do conhecimento a que chamamos de Vedānta, a palavra - śabda pramāṇa -, como meio direto e indireto de auto-conhecimento - ātmā vidya -.
Podemos assim entender, que já nesta cultura, aquilo que hoje entendemos como Cocriação estava bem presente e mantém-se até aos dias de hoje, naquilo a que chamamos de Parampará ou Guru shishya parampará, a tradicional sucessão de mestres a discípulos, como forma de passagem do conhecimento por uma tradição oral (de boca a ouvido).
Sempre se disse e ainda hoje, na relação professor-aluno, se percebe que esta interação é essencial e benéfica para todos.
Se temos muito a aprender com os nossos professores e mestres no entendimento de quem somos, também estes, mantendo o seu espírito aberto e visão clara, vão encontrando as formas mais adequadas, para cada aluno, de poder passar este conhecimento libertador.
Assim, apesar de se manter uma tradicional forma de ensinar, muito se tem aprendido e alterado no modo de tornar as mensagens claras para aqueles que querem alcançar este entendimento. Sem dúvida que esta é a forma com tudo tem evoluído e o próprio yoga ou meditação, “nascidos” nesta tradição védica, têm vindo a encontrar novas formas de ser ensinados, pois a colaboração entre todos, tem tornado este ensinamento dinâmico e não estático, surgindo novas formas de mostrar e explicar o Ser, como pleno e livre de limitação, i.e., já sendo aquilo que tanto procuramos - Ahaṁ Brahmāsmi - .
Isto vem-nos mostrar que a Cocriação é uma necessidade de todos os tempos, no sentido de que juntos e unidos podemos fazer mais e melhor.
Sobretudo hoje em dia, quando vivemos tempos de tanto isolamento e egoísmo, em que cremos saber tudo, ter tudo, estando a informação mais acessível que nunca, mais do que nunca se torna uma necessidade para o bem de toda a sociedade e de cada um em particular.
* que floresceu há 6500 - 4000 anos atrás.
** possivelmente composta no 6º ou 5º século antes de Cristo.
”LIFE EXPLORER”
PROFESSOR DE YOGA
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in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2019
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