| As mensagens que enviamos diariamente aos nossos filhos, sobre a nossa atitude perante o trabalho que executamos, diz muito em 1º lugar sobre nós próprios/as, mas também sobre a nossa responsabilidade enquanto mães e pais, pela influência que estas mensagens têm na formação de expetativas das crianças e jovens, sobre o trabalho como fonte de realização pessoal e profissional. Por Suzana Cisneiros in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2014 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |
Ser mãe/pai trabalhador/a significa conciliar 3 áreas importantes da vida: a área pessoal, área familiar e a área profissional. As responsabilidades, as dúvidas, as emoções, as dificuldades, os medos de cada uma destas áreas tornam esta tentativa de conciliação, verdadeiros desafios diários.
Queremos que os nossos filhos sejam bem-sucedidos na escola, no inglês, na informática, nos desportos, na dança, no convívio com os amigos, nas regras de educação. E esforçamo-nos para proporcionar todas as condições para que isso aconteça, para que aprendam cada vez mais e melhor. Depositamos neles toda a esperança de que no futuro venham a ter mais oportunidades de se realizarem pessoal e profissionalmente. Na melhor das intenções, preparamo-los para serem adultos felizes no futuro.
Contudo, com que frequência dá por si atualmente a dizer, em frente dos seus filhos: “Não sou suficientemente bom para conseguir um emprego melhor”, “por ser mulher e mãe já não posso fazer aquilo que gosto”, “as coisas no trabalho correm-me sempre mal…já nasci com má sorte…”, “Que chatice, nunca mais é sexta-feira”, “odeio segundas-feiras”, “só serei feliz quando tiver as condições x, y e z no trabalho. Até lá tenho de sofrer”, “para se ter sucesso no trabalho, alguém tem de sair prejudicado”, “o meu chefe é uma besta”, “nunca mais chego à reforma”, etc. Com que frequência dá por si a tomar medicação para o stress que sente no trabalho (ansiolíticos, antidepressivos ou analgésicos) em frente dos seus filhos?
O trabalho tanto pode promover realização pessoal, bem-estar, equilíbrio, saúde, como pode ser sentido como mal- estar, desequilíbrio, frustração e doença. Ouvir com frequência este tipo de desabafos por parte dos pais, não cria com certeza mais segurança e felicidade nos seus filhos agora. E é desta forma mais ou menos subtil, mais ou menos frequente, que enviamos mensagens que em nada contribuem para que acreditem nas suas próprias capacidades, de poderem ativamente influenciar o curso dos acontecimentos de vida, agora e no futuro.
Quer isto dizer que devemos mentir ou esconder a realidade do mercado de trabalho e a forma como nos sentimos, aos nossos filhos? Certamente que não, pois isso seria entrar em negação com a realidade. Mas talvez sejam mensagens de que há algum trabalho a fazer, em primeiro lugar, sobre nós próprios/as.
Ao longo da vida profissional haverá sempre desafios e oportunidades
É certo que as exigências do atual mercado de trabalho são cada vez maiores. As tentativas de adaptação constante a estas exigências, estão a por em causa o equilíbrio de um nível mais profundo, quer em termos físicos como psicológicos.
Há aspetos da vida profissional que não podemos controlar e haverá sempre sucessos e fracassos, desafios e oportunidades. Na verdade, podemos não ter o controlo sobre alguns aspetos do trabalho, mas podemos controlar a forma como os mesmos nos afetam. E o que nos afeta é sobretudo a forma como avaliamos estas exigências (aquilo que nos é pedido) com os nossos recursos internos (o que julgamos poder dar como resposta). Esta avaliação nem sempre é racional ou lógica, mas sim automática e profundamente emocional.
Ter a noção que o próprio diálogo interno, a forma como avalia e organiza o pensamento, tem repercussões no seu estado emocional e consequentemente, na forma como age nas diferentes áreas da sua vida, pode ser um caminho para a mudança. Desafiar e reavaliar até que ponto essas avaliações e interpretações são as únicas possíveis, é algo que pode fazer por si.
Mudar progressivamente a forma de pensar habitual, significa mudar o foco do problema para a procura ativa de soluções. Passa por abrir-se a outras possibilidades e aceder a um imenso potencial interior, capaz de reinventar novas formas de pensar, de sentir e de agir. As situações, por mais adversas que sejam, são enfrentadas e encaradas como oportunidades de reconstrução e crescimento pessoais.
Todas as pessoas fazem o melhor que podem, a cada momento. Isto significa que a cada novo momento é possível a cada mãe/pai criar novas formas de melhorar a sua comunicação. Independentemente da necessidade de uma maior intervenção para cada caso, existem pequenas ações que diariamente podem ser realizadas, de forma a criar espaço para as emoções positivas brilharem, aproveitando os recursos pessoais e sociais: promover e participar em atividades do agrado dos filhos, conviver com os amigos, rir e divertir-se mesmo com pequenas coisas, apreciar as coisas boas que tem na vida, meditar, caminhar, praticar um desporto, dançar, ler/ escrever um livro, ouvir música, jardinar, cozinhar, etc. Quanto melhor conseguirmos estar presentes e acalmar o “barulho” dos pensamentos negativos, mais naturalmente encontramos as estratégias adequadas para lidar com as situações.
Cada criança e jovem terá no futuro o livre arbítrio para escolher seguir ou não o nosso modelo. A diferença estará no maior ou menor esforço para se libertarem das culpas e medos “absorvidos” dos pais ou figuras significativas, de forma a abordarem a vida profissional de uma forma positiva, mais equilibrada e construtiva. Cabe-nos enquanto mães e pais transmitir as bases para facilitar essa tarefa, também através das mensagens que diariamente nos/lhes enviamos. Por nós e por eles.
PSICÓLOGA SOCIAL E DAS ORGANIZAÇÕES
CAREER E LIFE COACH
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in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2014
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