
Por Ricardo Fonseca
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2013
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Nesta edição da Revista Progredir o tema central é a ilusão, ou seja, uma confusão dos sentidos que provoca uma distorção da perceção.
Todos nós vivemos ilusões, consciente ou inconscientemente associadas ao nobre papel da nossa mente. A doença pode ser uma dessas distorções da realidade que apesar de se poder manifestar fisicamente, muitas vezes não passa de uma representação mental.
Quando se fala em doenças há que diferenciar entre as doenças clinicamente comprovadas, com sintomatologia clinicamente testável e com hipóteses de tratamento, das doenças que mesmo que se manifestem exteriormente têm o seu cerne na nossa mente.
A mente vai criando artifícios que moldam o discernimento do individuo levando-o a acreditar numa realidade, na maioria das vezes não existente e a integrá-la na sua vida quotidiana. Há um compromisso mente-corpo indissociável e que vai envolvendo o indivíduo numa rede ilusória de angústia, queixas e incertezas.
Alguns médicos e investigadores ao longo dos tempos foram tentando encontrar respostas para a questão da ilusão de se ter uma doença, explicando as suas teorias na base das áreas da psicossomatização e da hipocondria.
No processo da psicossomatização da doença há uma grande interferência dos fatores emocionais, visto que todos os processos do corpo estão ligados a uma via nervosa e humoral. Há um desequilíbrio entre a nossa mente e o nosso corpo, entre as nossas emoções e a vivência e representação das mesmas.
Os sintomas psicossomáticos são de grande importância para o indivíduo que se sente doente e que tenta tudo o que está ao seu alcance para aliviar os sintomas e obter a cura. Durante este percurso de cura, muitos sintomas podem ser de fato aliviados pela eficácia das terapêuticas prescritas, porém a causa dos mesmos fica quase sempre subentendida pela sua similaridade com outras doenças que se manifestam do mesmo modo.
Já William Motsly escrevera um dia que "Quando o sofrimento não pode se expressar através do pranto, ele faz chorar outros órgãos".
Na hipocondria há uma crença infundada da existência de uma doença grave e uma procura incessante de respostas que confirmem a existência da mesma. Muitos indivíduos hipocondríacos automedicam-se e assim consideram-se livres da doença que os domina. Como é uma criação da mente, é deduzida pelo cérebro havendo assim uma reprodução, ou seja, na hipocondria ao deduzir que algo irá melhorar ou agravar o seu estado de saúde, geralmente ocorre, porque a própria doença é criação da cabeça do indivíduo.
Segundo outros investigadores, a doença surge da relação espírito-corpo onde cada sintoma é um sinal de que o espírito está doente e a prova de que existe um desequilíbrio das nossas energias. A cura baseia-se no equilíbrio energético e em muitos casos sugestiona a criação mental de determinados sintomas.
A nossa mente tem um grande poder de sugestão através da criação de pensamentos e a exaltação das suas emoções. É esta atividade constante da mente que faz com que ocorra uma deturpação dos nossos sentidos que ficam baralhados com a receção dos sinais mentais e dos impulsos exteriores.
O corpo e a mente falam de formas diferentes, pois a mente vive e constrói o mundo da ilusão enquanto o corpo está ligado à nossa realidade. Assim a causa e a cura da doença, são vividas em bases irreais sendo necessário compreender a forma de pensar, agir, sentir para se realizar o processo de cura.
Quando a doença provém de uma ilusão o passo fundamental é encontrarmos o doente dentro de nós, aceitarmos e amarmos a nossa realidade, tendo coragem para seguir a Vida e abandonarmos as nossas ilusões.
A ilusão de que temos uma doença só esvanece na sua totalidade quando nos focamos em conhecermos quem somos, o que sentimos. Se curarmos apenas as manifestações exteriores, a ilusão associada pode desaparecer, porém outras tantas aparecerão.
Compete a cada um de nós ser o dono de si mesmo, o mestre e o aprendiz com a capacidade de distinguir a ilusão da realidade, para que sejamos nós a controlar a doença e não a doença a ser dona de nós.
“A nossa maior ilusão é pensarmos que somos o que pensamos ser!” Henri Amiel

Enfermeiro / Escritor
http://escritadoautoconhecimento.webnode.pt
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REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2013