Por Ana Terra
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Cheiros e sabores à parte, propomos pegar na analogia da essência e aplica-la à nossa vida: aquilo que eu sou e ao que aspiro ser. Há um momento- é possível que sejam vários, de facto - na vida de cada um de nós em que as circunstâncias permitem confrontarmo-nos com a pergunta que talvez andássemos a adiar há muito tempo: quem sou eu? Seja por um acontecimento traumático ou por um movimento interno mais discreto e que no tempo certo, a fez aparecer, se permitirmos que ela entre, a questão já não vai embora. Uma vez descoberta, será impossível voltar a cobri-la com artifícios ou imagens de nós mesmos e há que conviver com a sua existência, de tempo em tempo, até que algo se faça para a responder. Ou para começar a fazê-lo.
A decisão de olhar “para dentro” não é francamente, a mais fácil. Não há como nos prepararmos para ver a imensidão de tudo aquilo que andámos por uma ou outra razão a recalcar e a armazenar numa perspetiva de “mais tarde lido com isto”. Mas há que respirar fundo, no meio do aparente caos que possa surgir. Dizer a nós próprios que fundamentalmente, o que destapámos, foi uma nesga da nossa essência e essa não conhece bons ou maus aspetos. Ela simplesmente é. O processo começa, pois, por olhar e ver. Ver e reconhecer, saber o que é nosso e aceitar que o é. Tal como para se obter a essência de uma flor, de um grão, de uma madeira, é necessário despirmo-nos do supérfluo, sermos pacientes mas ir deixando cair pouco a pouco - a duração do processo é determinada por quem o faz e está sempre certa- tudo aquilo que possa comprometer a própria essência. Chegar ao centro vital é o objetivo mas que o tempo seja o último elemento a ter em consideração.
No meio de tanta informação, virtual ou não, de tanto contato constante e influências que não sabemos gerir, é importante que se possa chegar a um ponto em que se veja com clareza, o que se é de facto. A pergunta impõe-se portanto: “o que é isso de essência? Como é que posso saber aquilo que realmente sou no meio de tanto ruído de fundo, tanta cor esborratada, “tantos aromas artificiais” que me rodeiam?” Longe vão os tempos em que os nossos ancestrais se recolhiam à terra, ao solo e em solidão frequentemente, para repousar ou para respirar fundo e começar de novo. Ter a oportunidade de escutar o silêncio parece ser um privilégio cada vez mais raro numa sociedade que se quer cada vez mais transversal e impossivelmente uniforme.
No entanto, é precisamente aqui, no silêncio total que reside a essência. Só o silêncio da mente e a desaceleração progressiva do ritmo alucinante e sensações que nos invadem, tapando-nos muitas vezes, a vista para o que somos e para o que queremos, é que permitirão o reconhecimento de nós próprios. Neste domínio, conselhos são quase sempre redundantes uma vez que o trabalho é individual, mas experimentar uma ou outra técnica talvez ajude nos momentos em que realmente não se parece ver nada. As técnicas de respiração associadas à meditação, o yoga como atividade regular ou ainda qualquer passeio à beira mar absorvendo a brisa marinha bem fundo dentro dos pulmões, podem ser a o primeiro passo em direção a nós mesmos.
Perseverança, resiliência, compaixão e amor profundo pela criança que fomos e pela bela criação em que nos tornámos farão o resto. Eles serão o caminho para chegar ao nosso aroma puro pessoal. E quando o respirarmos, saberemos que somos seres únicos e livres de o ser, num universo em que tudo, tudo passará a encaixar aos poucos. E isso é que é essencial.
SEMEADORA DE PALAVRAS
aterradaana.blogspot.com
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2014
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