Por Carolina Gomes
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Ou quando a realidade nos anseia e precisamos encontrar paz.
Se, por um lado, existe esse movimento interno, por outro, movemo-nos no plano do real: nem todos os desejos podem ser satisfeitos, nem todas as ânsias prontamente acalmadas.
A realidade adia a gratificação e por isso, viver apenas no plano do real pode ser doloroso e levar ao adoecer.
A zanga contida, o sonho falhado, o ressentimento com pouca consciência e a depressão falhada são alguns dos fatores que podem desencadear perturbações psicossomáticas, que levam ao adoecer físico.
Reconhecer emoções torna-nos mais saudáveis porque nos aproxima de nós. Estarmos próximos de nós aproxima-nos do prazer.
O principio do prazer é regido pelo funcionamento do id, estrutura intra psíquica guiada por impulsos inconscientes, onde não existem inibições ou censuras, cuja principal função é reduzir os níveis de tensão presentes no aparelho psíquico. Por outro lado, o superego, moldado ao longo da vida pelas castrações e frustrações vivenciadas, lembra-nos das obrigações sociais, onde todas as inibições e censuras se encontram erguidas.
Assim, questionemos, qual o lugar que o prazer ocupa (ou não) nas nossas vidas?
As exigências das sociedades modernas, a competitividade, a alienação no mundo virtual, as rotinas aprisionantes e os horários de trabalho cada vez mais longos vão deixando pouco lugar para a experiência do prazer. A publicidade, por exemplo, é engenhosa em mostrar-nos que existe uma certa felicidade no ter. Contudo, para ter é necessário poder económico e para ter poder económico temos de dar do nosso tempo. Recordo as palavras de José Mujica, Presidente da Republica do Uruguai entre 2010 e 2015, quando afirma que quando compramos algo não o compramos com dinheiro, mas com o -precioso- tempo das nossas vidas. E tempo, é tudo o que verdadeiramente temos. Não ter essa consciência obriga-nos a pagar faturas demasiado elevadas.
De que forma podemos preencher esse tempo?
Com sentido(s). Com coisas significantes. Mas também com o prazer do brincar. Com o prazer do criar, com o prazer do estar em relação. Com o prazer da descoberta e sem medo do estranho. Porque o estranho traz-nos sempre algo de novo. Sabemos que é difícil abandonar o conforto da rotina e a segurança da previsibilidade. Mas é isso que também nos aprisiona e amarra. E, novamente, o duelo entre o id, senhor das forças do prazer, e o superego, o grande regedor do principio da realidade. Entre eles, um ego que os medeia, gerindo conflitos internos e externos, tentando reduzir ambivalências. A força do ego é constantemente posta à prova.
PSICÓLOGA CLÍNICA PSICOTERAPEUTA EM FORMAÇÃO
NA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2017
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