Por Sofia Frazoa
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2012
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Um dia, numa viagem espiritual ao Peru, um xamã dizia: “somos a primeira, segunda e terceira pessoa mais importantes das nossas vidas”. Na altura, esta frase parecia-me carregada de egoísmo e muito pouco espiritual, mas hoje entendo-a como a verdadeira solidariedade. Para connosco e para com os outros. Claro que há alturas das nossas vidas em que os outros precisam mais de nós porque são completamente dependentes, como nos primeiros meses de vida de um/a filho/a ou em caso de doença grave e incapacitante. Mas são alturas que devem ser entendidas como fases e que não deveriam significar completa anulação de quem somos e do que precisamos para nos completarmos enquanto ser individual. Não nos podemos esquecer que, quanto melhor estivermos connosco, melhor vamos conseguir passá-lo para os outros, acompanhá-los e ajudá-los.
Ser solidárias connosco implica aceitarmo-nos com as nossas virtudes e com os nossos lados sombra, na totalidade. E não termos medo de mostrá-lo aos outros. Acaba por não ser muito difícil se nos mantivermos no nosso canto, isoladas do mundo. O grande desafio é conseguirmos fazê-lo em sociedade, onde somos convidadas a viver, com todos os papéis que nos foram dados e aos quais se espera que correspondamos de determinada maneira (os tradicionais chavões: mãe, mulher, amiga, amante). No entanto, há sempre esperança de mudança e tudo começa com um pequeno passo.
1) Ser honesta
Seja honesta consigo e, perante uma situação que associa a solidariedade, pergunte-se: estou a fazer isto de coração ou é porque sinto que devia desempenhar este papel? Começo a ficar irritada e a sentir-me abusada nesta situação que quero encarar como solidária?
2) Identifique as suas reais motivações
Depois de perceber se a situação que apelida de “solidária” é ou não confortável para si, pergunte-se por que razão se coloca neste tipo de situações. O que tem a ganhar com isso, a nível de conforto interno e de projeção exterior?
3) E eu? Sou solidária comigo?
Enumere as vezes em que é solidária consigo. Olhando para a sua vida e para todos os papéis que se vê forçada a representar, qual deles dispensaria se pudesse? Em qual deles seria mais verdadeira? O que mudaria para seu benefício?
4) Pôr em prática o “primeiro eu… depois os outros”
Uma vez reconhecidos os comportamentos que mudaria, ouse fazer diferente. Comece pela situação que lhe parece mais fácil de mudar e que não lhe traz culpas profundas por não estar a desempenhar o seu suposto “papel”. Pense em cada situação: “como posso continuar a estar lá para os outros, sentindo-me bem comigo ao mesmo tempo?”
Ao dizermos “primeiro eu, depois os outros” não estamos a falar de egoísmo, mas de uma elevação de consciência que nos permite ser verdadeiras e ainda mais solidárias, para benefício de todos. Uma grande viagem começa com um pequeno passo. E é esse o convite deste mês. Não se espera que mudemos vidas e comportamentos num abrir e fechar de olhos, mas que ao menos comecemos a caminhar em direção à vida que queremos ter.