
Por Soraya Rodrigues de Aragão
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2023
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Precisamos compreender que o que fez parte da nossa história nem sempre foram travas, vindas do externo e que podemos, sim (re)adquirirmos o controle de nossas vidas para empreendermos novos percursos, renunciando outros. Geralmente, a desistência é percebida como fracasso, o que na verdade pode ser um movimento apaziguador e libertador. Em muitos casos, seria producente aceitar que a lareira apagou, que a árvore “esqueceu de dar flores”, que o tempo de aprendizagem daquela situação chegou ao fim, para levar consigo o melhor do que foi em si. Precisamos fazer um brinde à vida, ao que se foi e ao que virá, mas com leveza, sem bloqueios e sem correntes.
Festejar a vida diz respeito sobretudo à soltura de todas as circunstâncias que fizeram parte da nossa vida, porque se em algum tempo estas fizeram sentido e parte de processos de crescimento e aprendizado, mas que agora podem inclusive se converter em empecilhos do que poderia já estar em andamento. O problema é que nos habituamos até com o que nos faz mal e não queremos nos desapegar de coisas e pessoas porque acreditamos que não sobreviveríamos sem elas, como se as mesmas fossem uma extensão nossa. E vamos partir do pressuposto que de fato isso fosse verdade, como seria pesado levar nas costas todas essas amarras. Precisamos estar livres de correntes para levantarmos as mãos para o alto em um brinde à vida.
É necessário que os ciclos se fechem dentro de nós, pois a partir deste ponto, olhamos o passado sem dor, sem vontade de voltar para checar se ali ainda há algo a se viver, já que não existem mais amarras na alma, sendo reconhecido que tudo que se foi vivido fez parte da construção do que somos. O importante é percebermos que não somos a nossa experiencia, embora façamos parte desta. A partir dai, as coisas passam a ter uma nova perspectiva, até mesmo graciosidade.
Sempre é tempo de mudança e celebração. Portanto, mude de postura, de comportamento, de padrões negativos, do que não leva a nada, pois a vida pede progresso, evolução, renovação e muitas vezes, em sua ambivalência, a vida nos traz o melhoramento em troca de algumas renúncias. Mais uma vez reitero que o preço da libertação é a coragem. Muitas pessoas acreditam que ainda estão amarradas, vinculadas a algo, mas na realidade somente suas mãos estão atadas por suas próprias escolhas. Muitas questões a serem resolvidas, na maioria das vezes são conosco e não mais com os outros ou as circunstâncias.
Portanto, festejarmos uma e mais tantas outras vezes para as diversas coisas maravilhosas que estão somente aguardando uma postura de renúncia e leveza para florescerem e nos presentearem um novo amanhecer, uma nova chance, a perspectiva de uma nova vida. Não precisamos de acessórios, de amarras, quando nós somos a essência. E nada é tão nosso como a riqueza em nosso entorno, como o marejar em tonalidades de âmbares diversas de um por de sol, do som angelical das marés, do brilho multifacetado das pedras distraindo-se em cintilàncias com as ondas do mar em uma frivolidade comprometida para compor pura poesia. E para festejar, precisamos nos desvencilhar de nossas amarras, porque nenhum brinde à vida poderá ser feito por mãos acorrentadas.

PSICÓLOGA, PSICOTRAUMATOLOGISTA, EXPERT EM MEDICINA PSICOSSOMÁTICA E PSICOLOGIA DA SAÚDE. AUTORA DE 4 LIVROS PUBLICADOS
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in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2023
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