in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2017
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O desapego por seu lado, não é propriamente o oposto do apego, pois não indica que tenhamos que deixar o apego totalmente de lado da nossa vida, ou encarar o mesmo com algo unicamente negativo. Desapegar significa deixar ir, em consciência, encarando as perdas e despedidas da nossa Vida como ciclos naturais das relações humanas; proporciona uma gestão mais saudável das nossas emoções, impedindo que fiquemos agarrados ao passado e possamos viver o nosso dia-a-dia de um modo holístico mais saudável e por isso, pela sua saúde pratique o desapego.
Escrever sobre o desapego, tendo como unidade temática a saúde, poderá levar a que se pense que apenas se escreverá sobre os seus efeitos/consequências no campo emocional e/ou psicológico, porém neste artigo o desapego é transversal a todas as áreas da nossa vida, com grandes benefícios para a nossa saúde holisticamente, para o nosso bem-estar, qualidade de vida ou seja, o desapego ocupa um papel primordial, na nossa saúde.
O que impede, afinal, a prática o desapego? Porque se vive o apego de um modo tão forte e quase, tão intrínseco? Porque o ser humano precisa de se agarrar a algo, de se sentir parte de algo, de se conectar com alguém intimamente, mesmo que se perca tantas vezes nessa relação e, o desapego, em muitos casos, vem colocar à prova o ser humano, sobre a sua capacidade de soltar, deixar ir, permitir o fluir da vida, sem que seja necessariamente sinal de que não se pertence a algo, de que não gostamos de alguém e vice-versa.
Uma das áreas, da nossa saúde, mais afetada pelo apego e desapego, é a área emocional que se encontra interligada com as áreas psicológica e mental, onde as nossas emoções, pensamentos, sentimentos e razões entram em discórdia, quando a mente diz, por exemplo, para deixar algo/alguém partir e o coração diz para não deixar, para lutar uma vez mais, para prender. São inúmeros os exemplos que podem ser referidos neste artigo, sobre a luta interna do ser humano entre o apego e o desapego, luta essa que interfere com a sua saúde, que pode conduzir a processos de doença mental e psicológica complexas, se o desapego não for vivido de forma consciente e saudável.
Algumas doenças do foro mental/psicológico, como a depressão e a ansiedade, estão intimamente relacionadas com a dificuldade do ser humano, em praticar o desapego de muitas situações que viveu ou vive, cuja carga emocional é muito intensa e que impede uma gestão saudável das suas emoções. Uma das expressões de maior dificuldade do ser humano, na prática do desapego, é a forma como lida com os seus lutos e com a sua grande dificuldade em aceitar a partida de um ente querido, uma separação, entre outras situações, pois em vez de encarar como partidas e/ou despedidas, o seu ênfase e foco é, tão-somente, na questão da perda.
Sim, a sensação de perda é uma das sensações vivenciadas pelo ser humano que causa maior sofrimento e dor, sejam essas perdas em que contextos forem, mas com maior enfase nas perdas por falecimento, apesar de muitas separações, evidenciarem as mesmas emoções e sentimentos. Perdemos algo, quando somos donos de algo (o que por si só pode ser muito subjetivo), não podemos perder alguém, pois não somos donos de ninguém e desapegar, na questão da despedida de alguém, é assentir conscientemente que esse alguém não nos pertence, apenas fez parte da nossa caminhada de Vida e cumpriu a sua função ou o ser humano cumpriu a sua missão na vida desse alguém. Claro está, que significa que desapegar de alguém não significa esquecer, deixar de amar, mas sim viver a sua despedida/partida o seu luto de um modo consciente e saudável.
Nos últimos tempos, tenho assistido há dificuldade da prática do desapego na área da saúde física, o que pode causar alguma estranheza ao leitor, por parecer que há alguma insinuação que o ser humano se apega à sua doença, aos sintomas que a mesma apresenta, porém o que a minha expressão quer indicar é que há uma vivência intensa do processo de doença, onde começa a diminuir a capacidade de o ser humano se abstrair, de encontrar soluções, como se houvesse uma rendição à doença, o que pode ser uma manifestação da dificuldade do desapego.
Quando o ser humano se permite viver “controlado” pela doença, sentindo-se incapaz de reconhecer a vida além da mesma, cria uma relação de apego com a mesma e o primeiro passo para a prática do desapego nestes casos é permitir o fluir da vida, vivenciando as suas emoções, assumindo que não é a doença que o controla e que, acima de tudo, não é o dono da doença, não tem uma doença, mas que convive com uma doença. Esta pequena alteração na forma de sentir e vivenciar um processo de doença pode ser um passo primordial para o desapego em questões de saúde física.
Esta dificuldade em o ser humano se desapegar da doença com que convive, manifesta-se também pela íntima influência das associações, ligas, instituições, entre outras entidades, que começam a tratar o ser humano pelo nome da doença, passando a ser o diabético, o oncológico, o fibromiálgico, o deficiente, levando o ser humano a apegar-se a essa denominação, a considerar-se “dono” da sua doença e a perder a sua entidade pessoal. É necessário, que o ser humano se desapegue das definições e nomeações que lhe são atribuídas, sentindo a sua individualidade intacta, para que possa viver o processo de doença de um modo mais consciente, sereno e fortalecido.
A saúde espiritual também é deveras importante, para o ser humano, onde urge a necessidade de praticar o desapego de algumas crenças e convicções, impedindo o crescimento e enraizamento da sensação de donos da verdade, donos do conhecimento, como se não existissem outras verdades, outras crenças, outras religiões, outras formas de conhecimento. Desapegar na área espiritual, significa criar reciprocidade às diversas e diferentes expressões de fé, de crenças, de valores, deixando cair por terra a sensação de omnisciência, que pode conduzir, em alguns casos já fundamentados, de convicções fanáticas, o que se relaciona intimamente com a saúde mental e emocional do ser humano.
A prática do desapego é deveras importante para a saúde e bem-estar do ser humano, de um modo holístico, permitindo-lhe viver consciente e saudavelmente as suas emoções relacionadas com todas as situações, vivências, experiências do seu Viver e permitindo o seu crescimento mais saudável e por isso, pela sua saúde, caro leitor, pratique o desapego.
ENFERMEIRO, ESCRITOR, TERAPEUTA
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