Por Emídio Ferra
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Por sua vez, o Criador ofereceu-nos todos os seus recursos, disponíveis e acessíveis, de tal forma inteligente, que, para cada necessidade que sintamos, a Natureza cuida de a suprir com a sua sabedoria e subtileza, mas com desafios inerentes, próprios à cumplicidade cósmica para a construção de uma aprendizagem sábia e duradoura [sustentável]: para a comunhão dos seres e do ecossistema.
O que na origem, quando as sociedades procuraram suprir a complexidade das trocas, pôde ser um verdadeiro milagre, a que chamamos dinheiro, na era contemporânea é seguramente o canal para a ação do eixo do mal, a Dívida.
A musa Dívida seduziu os humanos, suas famílias, aldeias, cidades, sociedades e organizações, que com os seus tentáculos hipnotizadores envolveu-os em ciclos de paixão, ambição e de possessão por todos os sonhos que a fantasia pode imaginar, recriando-os em processos económicos e ambientais autodestrutivos.
A dívida, tal como hoje a conhecemos, é consequência da liberação e virtualização da moeda, em ciclos financeiros de 0 e 1, que tornaram ilimitados os recursos financeiros (virtuais) em contraciclo com a realidade (economia real) e com a comunhão cósmica e espiritual.
Essa rutura chama-nos agora, após as suas evidentes consequências maléficas e destrutivas a que temos assistido abertamente nos últimos 20 anos, a uma religação de valores e conceitos no sentido de redescobrir processos de partilha, de coesão e bem-estar, para o qual o mundo financeiro, na sua génese, foi engendrado.
Podemos em breve, muito provavelmente vir a assistir a uma mudança inesperada nas sociedades e organizações, na qual seremos os principais atores, onde as práticas de entreajuda, a partilha das dificuldades e dos excedentes, sejam o modelo da relação económica de proximidade e do desenvolvimento local.
A economia das pessoas em detrimento dos mercados especulativos, poderão reencaminhar as civilizações e comunidades em geral, à redescoberta de meios de vida e de relações conciliadoras, saudáveis e ambientalmente sustentáveis.
Gestos simples, como o reaproveitamento e a reciclagem, o uso consciente e moderado dos recursos disponíveis, o respeito pelo valor do trabalho, o reconhecimento da criação de valor, a afetividade desinteressada, a disponibilidade para ouvir e entender o próximo, a superação de nossas frustrações, receios e medos em prol do bem-estar, da verdade e do fim da solidão, são em si suportes em consonância com a existência, o criador e a natureza.
Nesse momento, a musa Dívida será asfixiada pela sua possessividade, ganância e vazio de contextualização sendo então evidenciado o Deus Dádiva, num mundo de seres harmoniosos, felizes, saudáveis, alegres e responsáveis.
É então que a realidade financeira será sustentada pelos mecanismos do financiamento social, das moedas locais, dos bancos éticos e todos os processos financeiros e económicos que se ajustem à realidade humanizada e ambiental, consubstanciada em valores de transparência, equidade, proximidade e ética.
A agulheta do tempo esgota-se rapidamente. Só com uma mudança drástica da atitude eco sistémica, essencialmente nas grandes organizações económicas e financeiras e nos atores governamentais, poder-se-á inverter este ciclo de destruição massiva e de desolação da humanidade.
Terão estes de, em detrimento do lucro rápido, egoísta e desajustado social e ambientalmente, mudar de paradigma a 180º, ajustando-se a novos valores e metas, através da consciencialização global.
É preocupante, porque como sabemos a resistência à mudança nesses ambientes hostis é mais poderosa que o próprio ciúme, inveja ou qualquer outro sentimento de posse ou de frustração. E então? Como fazer?
Proponho que cada um de nós seja essa mesma mudança necessária, encontrando em si e nas suas maiores preocupações, as melhores soluções em busca da harmonia, paz, partilha e florescimento humano.
CONSULTOR EM EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO
www.empowertolive.pt
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in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2017
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