Por Sónia Gravanita
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Todos nós, viemos equipados com um aparelho socio emocional que nos impele e se organiza em relação. É nesta troca reciproca e alternada que nos desenvolvemos e se vai estruturando a personalidade. A relação só existe quando há partilha.
Talvez, nunca se tenha ouvido falar tanto de saúde e bem-estar como atualmente. Basta visitarmos uma qualquer livraria e ver os inúmeros livros que são publicados. Existem variadíssimos estudos, alguns até um pouco contraditórios. Uns que defendem que se deve eliminar determinados alimentos, outros que defendem o seu inverso.Há teorias que defendem que devemos praticar exercício físico em jejum, outras que defendem o seu contrario. Genericamente todos nós sabemos que para termos saúde, devemos ter uma alimentação saudável, fazer exercício físico, dormir o número de horas suficiente e ter relações significativas.
Apesar disso,o consumo de antidepressivos e ansiolíticos sobe exponencialmente e estima-se que já em 2020, a depressão seja o segundo maior problema de saúde pública. Cada vez mais crianças, estão a ser diagnosticadas com Défices de Atenção e Hiperatividade.
Vivemos a um ritmo alucinante, numa sociedade extremamente agitada, muito focada, no sucesso, no ter, e pouco centrada no Ser. Sentirmos que temos de estar sempre a fazer algo,para nos sentirmos suficientemente respeitados, amados e valorizados.Vivemos com níveis elevados de exigência, sentimos que não temos tempo. Exigimos ser excelentes profissionais, excelentes pais, excelentes filhos, excelentes companheiros(as), excelentes amigos. Vivemos em busca da excelência, e sentimos que não somos suficientes, nunca estamos à altura, ficando sempre à margem de nós mesmos.
Neste ritmo frenético, é tão fácil perdermo-nos de nós, sentirmo-nos exaustos, stressados, desenvolvermos sentimentos de frustração, ansiedade e depressão. Quando vivemos em piloto automático, para além de nos desconectarmos de nós, desconetamo-nos dos outros. Neste grau de exigência, sem nos darmos conta, fechamo-nos, isolamo-nos, vamos construindo muros à nossa volta,retirando-nos a disponibilidade para os outros, para as relações. As partilhas tornam-se inexistentes, superficiais ou pouco significativas. Tantos de nós, deixamos que a rotina entre a casa e trabalho, tome conta da vida! Negligenciam-se as oportunidades de estar com os amigos. As relações conjugais muitas vezes deixam de ser investidas, porque são dadas como adquiridas. Os filhos, desde que tenham as necessidades mínimas satisfeitas e um bom desempenho escolar, descansam muitos dos pais.
Muitos de nós, sem nos darmos conta, vivemos dentro da cabeça, contraímos o corpo e o coração. E a cada dia podemo-nos sentir mais sós e infelizes e menos em contacto com a Vida, negando a necessidade primordial e existencial a necessidade de partilha que dá significado às relações e à Vida.
Convido-o a que observe, e reflita sobre as suas relações. Que importância tem na sua vida? Como estão as suas relações? Como se encontra o seu comprometimento e a forma como partilha ou se doa-a aos outros?
Quando nos abrimos ao auto-conhecimento, através da partilha íntima e verdadeira com alguém significativa, de alguma terapia, de um curso, de leituras, etc. e nos tornamos mais conscientes, das nossas feridas emocionais, das nossas limitações, tornando-nos íntimos das nossas emoções, num processo de desidentificação, acolhendo e abraçado a nossa história, aos poucos, tornamo-nos mais tolerantes, gentis e compassivos connosco. Abrindo-se um espaço interno de maior abertura e disponibilidade para os outros. Entramos num movimento equilibrado (para que a ordem se estabeleça) entre o dar e o receber, pela entrega mútua e comprometida.
Aceitamos e compreendermos que os outros têm também as suas vivências e certamente histórias de vida diferentes, com experiências diferentes. Vamos-mos dando conta, que todos nós tendemos a fugir das nossas vulnerabilidades, porque não queremos ser magoados, protegemo-nos dos nossos sentimentos. Ao observarmos, e tomarmos consciência, abre-se a porta à humanidade que existem em todos nós.
A partilha intima e profunda é a porta de entrada no coração. Haverá coisa mais bela do que nos mostrarmos ao outro exatamente como somos, com os nossos medos, as nossas sombras, as nossas fragilidades, com a nossa vulnerabilidade que na verdade existe em cada um de nós.
Apresentarmo-nos aos outros como somos é um ato de confiança, entrega, generosidade e de verdade, que nos torna humanos com tudo o que isso implica. É nesta partilha intima e verdadeira que nos ligamos e compreendemos que somos mais iguais do que podíamos imaginar.
É na partilha aberta, generosa, verdadeira, em que atravesso os desconfortos, em que me encontro e me mostro ao outro livre de máscaras, sem proteções, autêntico, neste lugar da vulnerabilidade que os corações se encontram e nos sentimos unidos. É nestas doações abertas e verdadeiras, que nos tornamos mais íntimos, mais inteiros. É desde esse lugar que o coração aquece e se dá o encontro verdadeiro, entre seres. É nesta partilha que que me encontro e encontro o outro e em que juntos prosseguimos cada um com na sua jornada, acolhendo o que cada um sente, tornando-nos responsáveis por cada um de nós.
PSICÓLOGA CLÍNICA / PSICOTERAPEUTICA
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