Por Catarina Lucas
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
As emoções são o grande elo de ligação entre as pessoas, são elas que permitem a aproximação ou o afastamento de alguém, são elas que mantêm a médio ou longo prazo as relações de amor, de amizade, familiares, entre outras. Contudo, só se consegue usufruir do poder das emoções na sua totalidade, quando estas são partilhadas com os outros. Não basta reconhece-las e senti-las, também é importante que sejam experienciadas em conjunto, para assim dar sentido às vivências diárias. É possível que alguém faça, por exemplo, alguns quilómetros para se encontrar com um familiar e estar com ele uns momentos, partilhando emoções, porque isso é uma das coisas que dará sentido à sua existência.
Porém, para conseguir partilhar emoções é essencial que sejam reconhecidas, sendo este o primeiro passo para depois aceitar e gerir eficazmente essas mesmas emoções. É impossível partilhar uma emoção desconhecida ou indefinida. Se não se souber que existe e o que é, a partilha pode tornar-se desadequada, o que ocorre muitas vezes. Por isso, é importante parar um pouco e analisar os sentimentos que possam estar a ser experienciados e dar-lhes um nome, por exemplo, raiva, tristeza, euforia, alegria, medo, saudade, entre outras. Algumas emoções podem manifestar-se através de sintomas físicos, como é o caso da ansiedade, por isso estar atento a estas manifestações pode também ser uma ajuda neste reconhecimento.
Depois de as reconhecer, é necessário compreender e aceitá-las. As emoções podem ser positivas ou negativas, ambas as circunstâncias são normais ao ser humano, embora haja a tendência para uma menor tolerância às emoções negativas. É normal que uma pessoa esteja triste, zangada, chateada, contudo, às vezes nem sequer há espaço e parece também não haver legitimidade para estar triste. Não raras vezes, surge inclusivamente vergonha daquilo que é sentido. Neste processo de aceitação, é importante compreender. Aliás, a compreensão ajudará no processo de aceitação. É necessário compreender os motivos para determinadas emoções estarem presentes, como por exemplo algo que possa ter acontecido.
Uma peça essencial em todo este processo de gestão emocional, é a partilha de emoções. Essa partilha que, quando ocorre, consegue ser ainda um acrescento para a pessoa que partilhou. Esta partilha pode ocorrer de formas distintas, nomeadamente através da comunicação com outros ou da vivência conjunta de momentos e situações, onde dar se pode transformar em receber em dobro.
Falar de emoções negativas com outras pessoas pode ser muito complicado. É difícil dizer que se está triste, bem como as motivações dessa tristeza. Por vezes, é igualmente difícil dizer a alguém que se gosta ou que se sente admiração por essa mesma pessoa. Se reconhecer e aceitar emoções pode ser difícil, partilhar pode não ser mais fácil. Todavia, a não partilha, além de prejudicar a relação com os outros e impedir o usufruir de momentos positivos, poderá fazer com que a convivência intrapessoal seja dolorosa e a médio prazo possa acarretar dano psicológico. Quando se trata de emoções negativas, partilhar, pode trazer de imediato um sentimento de alívio, tranquilidade e bem-estar. Os problemas não desaparecem, mas talvez pareçam menores. Quando se fala de emoções positivas, partilhar pode trazer em dobro, já que àquilo que já é sentido será acrescentado aquilo que o outro dará também. Por norma, ao partilhar coisas boas, surge um sentimento de maior contentamento.
O não desenvolvimento deste tipo de habilidades emocionais, pode comprometer o equilíbrio emocional e o relacionamento interpessoal. Quando se está zangado, é importante que se consiga fazer uma boa gestão desta emoção, para assim não culminar numa grande discussão. E se de vez em quando também pode ser importante discutir e manifestar emoções mais agressivas, se isto se tornar frequente o dano será imenso.
Assim, é possível encontrar na partilha uma grande ferramenta no caminho que é a felicidade. A felicidade talvez não seja um objetivo final ou um lugar último a atingir, mas sim um caminho, um processo, onde cada dia conta, onde cada dia surge como mais uma oportunidade, mais um local e momento para ser feliz. Neste percurso, a partilha pode desempenhar um papel enorme, minimizando coisas negativas, diminuindo a carga quando é pesada, usufruindo em conjunto de coisas boas, de pequenos momentos. As relações humanas constroem-se e sobrevivem através das emoções e da sua partilha.
PSICÓLOGA E DIRETORA DO CENTRO CATARINA LUCAS
www.catarinalucas.pt
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2018
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