in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2020
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Conseguimos aquele tempo extra que julgávamos não ter, abrimos portas a espaços onde ninguém entrava e caminhamos com ânimo para novos lugares. Sobretudo dentro de nós. Enquanto também nos faz perder a noção do tempo, do espaço e da realidade. Enfim, a paixão arrebata-nos com uma nova perceção que inclui sensações de pertencimento, prazer e comunhão, de euforia e plenitude. É um estado de transcendência que comparo com as “experiências cume” descritas por Abraham Maslow como extremamente relevantes na atualização do potencial pessoal. Então, estar apaixonado pode ser uma magnífica oportunidade de expansão e autoconhecimento: se adicionarmos consciência à paixão, temos a combinação perfeita para um processo de desenvolvimento pessoal vasto e profundo. A paixão abre a porta a um estado de loucura em que a consciência é a chave para a sanidade.
A paixão é muito mais sobre nós próprios do que sobre o outro. É sobre os lugares e recursos internos que precisam ser movimentados, sobre os desejos, intenções e necessidades. É sobre o que quero desenvolver em mim. E sobre o que quero esconder ou eliminar em mim. Através do outro, com o outro, mas sobre mim. O que no outro se mostra de mim. E podemos olhar ou cegar. Se ficarmos atentos, conquistamos novos lugares por meio da paixão. Se não usarmos a autoconsciência, vivemos a paixão, amparados pelos sonhos e fantasias e permanecemos no mesmo lugar depois da paixão terminar… Até que a próxima venha agitar novamente os mesmos processos. Sim, a paixão acaba. Ela chega com a força de uma tempestade tropical, que rega e refresca, movimenta e renova. E que depois desaparece, deixando clareza para olhar a paisagem e descobrir o que floresceu e o que precisa ser cuidado. A paixão liga-nos tempestuosamente ao outro para que, através dele, possamos ver o que há em nós a ser curado e integrado.
A paixão é um convite da Vida à autotranscendência pelo prazer. Quando estamos apaixonados criamos expectativas e sonhos! E a maneira como olhamos o outro, promete-nos a sua concretização e alimenta a felicidade. Porém, não estamos realmente a ver o outro, mas sim as nossas projeções e fantasias depositadas em alguém que parece garantir os desejos e planos, que é fonte de bem-estar e satisfação, alguém que — imaginamos — nos dará essa sensação de transcendência permanente. Só que nessa imagem, quase tudo é nosso e não do outro. No fundo, a paixão é a atração por partes, sonhos e ideais de nós mesmos que ainda não pudemos ver ou desenvolver em nós. É a ilusão de que o que queremos ser e viver está ali, à nossa frente. A paixão acaba quando começamos a ver o outro, tal como ele é, apenas com o que é dele.
Sem as nossas projeções e ilusões, o outro fica despido. E nós também. Tanto maior é a desilusão, quanto mais de nós colocamos na imagem do outro. Quanto menos o tivermos visto tal como é, mais vimos que era nosso. Se não aproveitarmos a paixão com a consciência de desenvolver em nós as características fantasiadas no outro, maior é a deceção e frustração. Afinal, perdemos o que julgávamos ser do outro e perdemo-nos a nós. Se, por outro lado, vivermos a paixão com atenção ao que podemos cuidar em nós mesmos, desde a consciência das nossas necessidades e ambições, vamos aliviando o outro do que não é dele e nutrindo a relação com leveza. E assim vamos realmente vendo o outro, que vai ocupando o seu espaço enquanto parceiro potenciador no nosso próprio desenvolvimento. À medida que a paixão vai desvanecendo, esse olhar lúcido revela a verdade, os potenciais, a grandeza do outro e a nossa grandeza, cada um no seu lugar, unidos pelo prazer de vivenciar essa dança cooperativa. E nesse movimento de usar a paixão ao serviço do crescimento, só pode haver gratidão, respeito e Amor. Pelo que o outro nos mostrou, proporcionou e acompanhou; pela sua presença e importância no processo — que é mútuo — de autotranscendência. Uma paixão que serve assim, é Amor. Um Amor que fica para sempre registado na história que o coração sente e que a consciência reconhece.
Paixão, para que te quero? Para me mostrares o quão maravilhoso é amar(-me).
TERAPEUTA TRANSPESSOAL E FACILITADORA DE CONSTELAÇÕES FAMILIARES
www.rutecabrita.com
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in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2020
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