Por Carolina Sousa
in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Talvez o truque seja imaginar a questão como sendo uma "chávena de chá", chá verde, por exemplo, que faz bem a tanta coisa. Ter paciência também nos torna mais fortes (se não nos matar!) então vamos tomando essas "chávenas" conforme vai sendo preciso e, no fim, talvez até fiquemos felizes por não termos apertado o pescoço a alguém, ou nos termos atirado da ponte mais próxima!
De manhã é o filho que não acorda, ou está doente, ou não quer vestir-se; tome um chazinho de paciência!
Não tem filhos? Ah, não pense que se escapa do chazinho! A máquina do café vai avariar, ou o leite entornar mesmo por cima da camisa nova!
O caminho para o trabalho também não o poupa: apanha um acidente, duas brigadas, três sinais avariados no vermelho, mais uma velhinha a atravessar fora da passadeira que o fez colar a testa ao vidro da frente. Chegue ao trabalho e beba um chazinho!
Tenta ligar o computador, mas este recusa-se. Tem vírus, está "cheio", ou a senhora da limpeza desligou o cabo! Agora já precisa de dois chazinhos!
Não aconteceu nada disso? A sua chegada ao trabalho foi pacífica? Ok, mas vai ver que o fornecedor não entregou a encomenda tão esperada, aquele email (tão importante) não saiu da "caixa" e perdeu o grande negócio da semana, ou simplesmente a concorrência chegou primeiro.
Não desespere, vá à cantina e beba um chazinho de paciência!
Antes de almoçar pensa que tem tempo de ir ao Banco. Mas chega ao multibanco e está fora de serviço, o balcão só tem um empregado (claro, ou outro foi almoçar!) e depois de meia hora à espera, o sistema tem uma falha e não consegue fazer o tal depósito (urgente!) para comprar as ações que tanto o faziam sonhar; já sabe, café da esquina: chazinho!
Nem almoçou, mas tudo bem. Pensa que mais nada pode correr mal naquele dia. Pensou mal. Mensagem no telemóvel: O seu banco avisa que devido à falta de saldo não pagou o IRS, nem comprou as ações.
Vai a caminho da cantina para beber um chazinho, nova mensagem, da Bolsa: as ações que queria comprar subiram 50%! Bebe dois chazinhos! Já não consegue trabalhar mais, tem fome e dores de cabeça, mas tem de ir às Finanças pagar o tal IRS. Finanças?! Ui, o melhor é beber mais um chá!
Chega à rua e a EMEL bloqueou-lhe o carro. Só o seu, no meio de uns dez mal-estacionados; reclama com o polícia, leva outra multa: esquecera-se de levar a viatura à Inspeção.
O Metro está de greve, a Carris também, segue a pé para as Finanças. Torce um pé no passeio cheio de buracos.
A repartição informa que tem uma hora de espera. Espera duas. Em pé. Está cheio de dores (mas ninguém dá lugar a uma pessoa nova; se pedisse ainda era injuriado!)
Vai à máquina e bebe; um café (estas maquinas ainda não vendem chazinho de paciência!)
Regressa a casa, a pé. Já nem tem fome, só dores de cabeça e o pé inchado. O gelo acabou – paciência! - Usa o saco das ervilhas congeladas. Adormece. Acorda, horas depois, rodeado de bolinhas. Bolinhas?! Salta da cama. O saco rebentou e a sua cama é um depósito de ervilhas!
Vá, não resista e deixe-se rir… Porque - vou contar-lhe um segredo - sabe o que deve acompanhar um chazinho de paciência? Sim, eu sei que está com fome, mas não é uma bolachinha, é sim uma genuína e sonora gargalhada!
Depois de todo este quadro exagerado, na perspetiva de conseguir, pelo menos, um sorriso desse lado (especialmente se o estiver a ler na fila da Segurança Social!), concluo um pouco mais a sério:
Sabemos que o ser humano não lida bem com o sentimento de perda, logo tendemos a ser impacientes se estamos a perder tempo, a perder dinheiro, a perder oportunidades.
A ideia de comparar a Paciência a um chá, vem no sentido de a ver como que uma terapia para a ansiedade, para a pressa, para a tendência obscura de querermos controlar a nossa vida e a dos outros. Não podemos controlar tudo.
Se pretendemos alcançar a sabedoria e a felicidade, a impaciência é um obstáculo, grande, à nossa qualidade de vida. Mas, pelo contrário, a paciência evita o desgaste.
Ser paciente é ter calma e alma, é agir com o coração e com a razão, é ser assertivo e construtivo.
E, começamos este artigo com uma frase de um Marquês, acabamos com a frase de um grande líder, nunca se esqueça que "Perder a paciência é perder a guerra" – Mahatma Gandhi.
AUTORA
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in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2017
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